Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

PM EM AÇÃO

Edição nº 1184 - 18 Dezembro 2009

Para Delegado o crime é uma incógnita


Conta o delegado Cesar Felipe Colombari que logo que chegou à cena do crime, a PM recebeu um chamado informando que alguém ensaguentado estaria próximo ao Centro Administrativo e, de fato lá estava o portador de necessidades especiais, José Luiz Amâncio de Melo, 28.  “Ele chegou algemado com o rosto ensanguentado e, como sangrava muito, percebi que havia levado uma facada nas costas. Ele só dizia isto: ' - Estou com frio, quero ir embora, quero ir embora'. À pergunta do delegado sobre o que poderia ter-lhe acontecido, José Luiz respondia: '- Chutou minha cara, foi chute e soco'.

Conta o delegado que no momento em que foi encontrado pela patrulha da PM, José Luiz teria dito a um dos policiais: “- Matei um homem perto das máquinas”. José Luiz foi preso em flagrante como principal suspeito, “mas aí começaram as complicações. Ele não conhece celular, não sabe operar o aparelho. Aí ele disse que apanhou perto da Escola Barão da Rifaina de três pessoas, que queriam dinheiro”, disse mais César Felipe. 

“- Do local do crime ao Centro Administrativo, onde José Luiz foi encontrado, são dois quilômetros. Eu o coloquei o no carro, junto com sua curadora e quando chegou próximo à rua Izaias Borges da Matta com Eduardo Bernardes, ele disse: ' - Foi aqui que me pegaram'. Desci do carro e me deparei com marcas de sangue. No chão havia uma tijolo quebrado. Perguntei se lhe bateram com a pedra e ele respondeu: ' - Foi chute e soco, chute e soco'. Deduzimos que como ele foi encontrado perto do Centro Administrativo, ele teria apanhado ali naquele local e seguido na direção do Centro Administrativa, por aquela avenida que contorna o Borá”, deduziu. 

José Luiz foi ouvido e liberado. “Vou voltar a ouvi-lo, tentar juntar os fatos para descobrir o que aconteceu. Pode ter havido aí dois crimes, um homicídio e uma tentativa. Ele não teria forças para lutar e matar o Gervásio que era um homem forte. José Luiz é de índole pacífica. Ele não sabe o que é celular, não sabe operar. Não posso prender uma pessoa que além de deficiente é vitima de ataque, apenas por ser suspeito. Para mim seria fácil, prendê-lo e dar uma resposta pra sociedade, mas as coisas não são assim. Pode haver outras pessoas envolvidas nessa morte. José Luiz pode ter visto alguma coisa...”

Para o delegado, o estranho é que ninguém ouviu nada. “É um local escuro e com pouco tráfego. Pra se ter ideia entre meia-noite e quatro da manhã, só passaram por ali quatro veículos. Com toda aquela movimentação, ninguém se levantou, ninguém saiu de casa. O guarda das máquinas não estava no local. A vítima demorou pra morrer. Apesar de ser um local vital, a morte leva algum tempo, até para a perda da consciência leva um tempo. Ele deve ter gritado, pedido socorro, ninguém, vai morrer quieto, alguém tem que ter ouvido alguma coisa...” – comentou.

A polícia agora investiga se alguém ouviu ou viu quem atacou o José Luiz, pois ele estava muito ferido quando foi encontrado. O celular da vítima também não foi encontrado nem a faca. Outra investigação que está sendo feita e que pode ajudar a polícia será o resultado do laudo na necropsia, pois ali poderá constatar se há dois tipos de sangue na vítima.  “Se tiver dois tipos de amostras de sangue no corpo da vítima, o IML vai constatar, aí poderemos fazer a coleta para o exame”, disse mais o delegado César. 

Analisando a cena do crime, conta o delegado que Gervásio Bijó estava subindo a alameda. A bicicleta estava parada, em frente ao portão da casa Meimei, estacionada na guia, não há sinais de que teria sido jogada ou tivesse caída ao chão. O corpo estava uns 20 metros abaixo desse local, dando a idéia de que Bijó estivesse conversando com alguém com a bicicleta estacionada. Logo a seguir, correu em sentido contrário ao seu destino, como se estivesse fugindo. Nesse espaço de 20 metros foi encontrado um pé da sandália de couro que ele usava, os óculos e, na calçada , um boné, e o outro pé de chinelo mais abaixo. Ele sangrou demais. O rapaz que o encontrou caído, ainda o encontrou com vida e pensou que era acidente, ele acionou a ambulância e a PM e disse que viu quando ele morreu. A ambulância chegou e ele estava morto”, informou. 


“Meu pai era um homem muito justo...”

 

Wanderson Barros, filho de Gervásio Bijó, ainda muito sentido com tudo o que aconteceu, disse que seu pai não tinha índole violenta. “Meu pai era um homem de princípios rígidos, muito religioso, era crente e frequentava com assiduidade a sua Igreja. Ele não bebia, não fumava, nunca usou drogas, era trabalhador, amigo de todos, nunca andou armado, era um homem muito justo, não merecia essa morte”, lembra

Segundo o filho, Bijó era um homem prestativo. “Se ele estivesse passando pelo local e o suspeito estivesse sendo agredido, ele entraria para separar. Disso eu não duvido. E se alguém o tentou assaltar, também não duvido que ele reagiria, porque não aceitava essas coisas. Se uma pessoa começava a brigar com ele, logo ele virava as costas e saia. Era calmo , tranquilo e não gostava de injustiça”, disse mais. 

Bijó morava na rua Maria da Cruz, dividindo uma meia-água com a casa de um senhor idoso, mas as refeições ele fazia na casa de uma irmã de Igreja, a Solange, residente no bairro Perpétuo Socorro. “Ele estava voltando de lá. A sua rotina, além de alguns bicos que pegava nas fazendas era essa: À noite ele saia para a Igreja e, quando não tinha igreja, ele ia para a casa dessa irmã, onde tomava as refeições e ajudava na fabricação de doces caseiros. Ele sempre voltava tarde de lá”, explicou. 

De acordo ainda com Wanderson, o pai teria comentado que tinha medo do suspeito, José Luiz.  “Ele disse para a Solange que sempre via o rapaz (suspeito) e que tinha medo dele. E comentou que, toda vez que passava pelo local onde morreu (Alameda Sinhasinha) sempre sentia algo, até parece que ele pressentia a morte, ele sentia medo”, revelou o filho.

Conta ainda que Bijó era uma pessoa temerosa, por isso sempre escolhia o caminho da rua Rui Barbosa, via Rosário, ao invés de passar pela nova avenida Ana Cândida. Muito amigo do pai disse mais que se encontrava frequentemente com ele. Quando não se viam, um ou outro telefona para saber como estavam as coisas.  “Se a gente não se encontrasse, um ligava para o outro. O celular dele desapareceu. Ele me ligou às 17h54, está salvo aqui no celular. E ele me ligou porque estávamos negociando um carro. Era pra eu me encontrar com ele, mas eu estava trabalhando. A Solange confirmou que ele estava com o celular. Se ele estivesse com o celular na hora do crime teria me ligado. Ele saiu da casa da Solange às 10h35 e foi encontrado depois às 23h30. Se ele estivesse com o celular teria me ligado”, afirmou. 

Gervásio estava aguardando um processo no INSS para receber indenização por acidente de trabalho, que lhe lesou a mão. Wanderson conta que ele teve todo o cerimonial fúnebre realizado pela igreja que feequentava. “Graças a Deus ele teve as orações e um funeral digno”, reconheceu. 

 

Bastante abalado pela morte do pai, Wanderson espera que os fatos sejam elucidados. “Quero justiça, acredito nesse principal suspeito, mas desacreditando, porque é uma pessoa doente mental, mas uma testemunha confirmou que não terça-feira, ele estaria com uma faca na cintura. Mas, ao mesmo tempo que eu acredito que foi ele que matou meu pai, eu não acredito. Estou perdido nas idéias, porque os dois foram feridos, o suspeito foi ferido nas costas e meu pai, levou duas facadas, uma delas na virilha, que cortou a artéria femural. Papai morreu esgotado, havia muito sangue no local. Estou confuso, porque com a doença mental, mesmo que ele estivesse com essa faca, ele não seria vítima. Quem pegou o celular é alguém ciente, porque a gente ligava no celular e ele estava desligado. Quem pegou é ciente, desligou ou retirou o chip. É muito confuso, só sei que a gente não pode ir acusando as pessoas assim, sem saber... Deus sabe o que faz, na hora a gente pensa bobagem, mas vou deixar nas mãos de Deus e da Justiça”, disse consciente o jovem Wanderson.