Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Patrimônio Histórico: Proprietários destróem bens centenários

Edição nº 1124 - 19 Outubro 2008

Mais uma vez o patrimônio histórico da cidade, se viu depredado por duas ações inconseqüentes dos proprietários, segundo eles, com autorização da Prefeitura: a destruição da primeira Estação Rodoviária de Sacramento, construída no início século XX, onde funcionou a empresa Auto-Viação Sacramento, na av. Benedito Valadares; e, a segunda, a remoção e quebra em três partes de todas as lápides do passeio da loja Bela Cosméticos, frente para rua Major Lima, segundo o jovem proprietário, Igor Oliveira, para “acertar o passeio”. A Prefeitura não confirmou a autorização.

Tudo começou no domingo, 12, quando a reportagem recebeu a denúncia. À repórter Maria Elena de Jesus, o pedreiro informou que pegou o serviço em troca da venda das pedras. No local seria assentado um outro tipo de piso. Puxando conversa, a repórter perguntou qual o preço das pedras. O operário respondeu que dependeria da quantidade. Também esteve no local o jornalista Walmor Júlio Silva, obtendo do pedreiro a informação de que acertou o serviço de remoção de todas as pedras em frente à loja. Informado de que aquela área fazia parte do patrimônio histórico da cidade, o operário respondeu que era apenas um trabalhador fazendo o seu serviço.

Acionada, a Ong Veredas também esteve no local e decidiu fazer a denúncia ao promotor público, antes que todo o serviço fosse feito. Não encontrando a autoridade, lavrou um B.O. e a obra foi paralisada, mas na manhã de terça-feira, Igor mandou o pedreiro, mais uma vez sem nenhuma autorização da Prefeitura, quebrar todas as lápides da lateral removida, em duas a três partes, para, segundo ele, 'recompor melhor o passeio'. Diante de mais essa ousada intervenção do proprietário, o assunto foi parar no fórum local. 

Em audiência com o promotor José do Egito de Castro Souza, os historiadores e ambientalistas, Carlos Alberto Cerchi e Alessandro Abdala, da Ong Veredas, o proprietário do prédio, Igor Oliveira, chegaram a um acordo, no sentido de preservar as pedras no local, mesmo quebradas, deixando intacta a calçada da avenida. O desrespeito ao patrimônio já havia sido feito. Enfim, dos males, o menor. “Uma reforma sem mutilar ou quebrar as lápides, tudo bem, mas o que vimos foi lápide quebrada”, lamentou Carlos Alberto. Já Igor Oliveira, justificou que queria apenas as pedras mais uniformes, por isso partiu todas. Egito lamentou o dano ao patrimônio público, requerendo ao proprietário o máximo de capricho para ficar como antes. “Já houve a intervenção, mas as características terão que ser mantidas”, ultimou.

 

Prédio da Auto-Viação

A Ong Veredas deixou ainda protocolado junto ao gabinete do promotor José do Egito, um protesto e um pedido de providências contra a destruição do prédio da Auto-Viação Sacramento, construído há quase 100 anos, pelo seu atual proprietário, o dentista, Marcelo Mota Florentino. Mesmo com o requerimento indeferido pela prefeitura, o Mota destruiu o prédio, promovendo um tácito desrespeito a uma ordem pública. “O pedido de demolição foi indeferido e o proprietário continuou a obra. O que fazer?  Se interferimos vão pensar que estamos 'pegando no pé' ou que não queremos o progresso da cidade. Estamos de mãos atadas”, - justificou Adriana Gobbo, da Seção de Gestão e Patrimônio Histórico da Prefeitura, Adriana Gobbo, em resposta a emeio deste jornal.

O promotor José do Egito expõe, para espanto de todos, o que a prefeitura entende sobre essa preservação. “A própria Prefeitura acha que o que está na lei não está valendo. Eles estão questionando essa ação na Justiça, por isso eles acham que podem fazer o que entenderem. Há uma liminar proibindo o asfaltamento, não existe uma coisa específica que determina até onde vai a zona de proteção histórica. A lei diz: 'Próximo aos prédios tombados, mas a lei não diz se são dez metros, 50 ou 100 metros, aí fica na interpretação de cada um. Essa é a questão”, afirma, apontando que, no seu entender, a rua Cel. José Afonso, da Casa da Cultura, deveria ser preservada, no entanto não está dentro da zona de proteção histórica, mas deveria ser pelo valor do prédio”, argumentou. 

 

Por fim, o promotor sugeriu que o prefeito eleito e vereadores eleitos devem elaborar leis mais claras e específicas. “No início com próximo ano quero me sentar o novo prefeito, com os vereadores, Ong’s para todos caminharmos no mesmo sentido”, concluiu.

 

O que diz a Prefeitura

O homem acumula ao longo de sua evolução tudo àquilo que foi adquirindo através de suas longas trajetórias onde sua inteligência e linguagem deram-lhe oportunidade para enriquecer sua historia. Esse acúmulo de riquezas se dá o nome de PATRIMÔNIO CULTURAL. Que é tudo o que nossos antepassados pensaram, falaram, aprenderam, inventaram, ensinaram, enfim, deixaram para os filhos, veio como herança para nós.

A valorização e o conhecimento de um bem cultural, que testemunha a História ou a vida do país, podem ajudar-nos a compreender o que somos, para onde vamos, o que fazemos. Ele faz parte de um acervo cultural que deve ser preservado por toda comunidade, pois é revelador e referencial para a construção de nossa identidade histórico-cultural.

Todavia, certas pessoas se acham no direito de interferir nessa construção, refazendo seu próprio referencial. Não sabemos baseado em que, mas elas existem e mesmo recebendo indeferimento dos órgãos públicos e dos cidadãos continuam a realizar coisas de suas cabeças. No caso das calçadas não temos lei específica que fale que devem ser preservadas. Há o plano diretor, o qual deveria dar suporte para que os órgãos responsáveis tivessem o poder necessário para interferir. E como temos cidadãos conscientes apelamos para eles nos ajudem nessa fiscalização Não estão vendo o que está sendo feito na Auto-Viação? O pedido de demolição foi indeferido e o proprietário continuou a obra. O que fazer?  Se interferimos vão pensar que estamos pegando no pé ou que não queremos o progresso da cidade. Estamos de mãos atadas. Por isso, apelamos para o bom senso de cidadãos que desejem que nossa cidade seja preservada para o futuro. 

Adriana Gobbo / Seção de Gestão e Promoção de Patrimônio Histórico.