Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Festival debate agroecologia na cidade

Edição n° 1332 - 19 Outubro 2012

 

Com o objetivo de defender e respeitar a natureza, visando despertar uma reflexão coletiva com o intuito de sensibilizar os diversos segmentos da sociedade, a Fazenda São Vicente Agroecologia e a Emater promoveram, de 12 a 17 últimos, o I Festival de Primavera de Sacramento – Cultura e Agroecologia. O evento, que recebeu várias delegações de diversas cidades da região, teve o apoio da Prefeitura Municipal, Embrapa, Consórcio da Hidrelétrica de Igarapava e empresas privadas. 

Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio, professora doutora em agroecologia, proprietária da Fazenda São Vicente Agroecololgia, coordenadora do evento, ressalta que o Festival foi um convite à sociedade para fazer uma reflexão coletiva. “O  Festival é um  movimento no sentido de valorizar o patrimônio ambiental e cultural. Sacramento é uma das portas de entrada do Parque da Serra da Canastra, estamos no bioma cerrado, isso significa que o resgate da cultura é muito importante. Uma grande parcela da água que abastece o país nasce no cerrado.

 

 

Festival une agroecologia com cultura e arte

 

 

A vasta programação do I Festival de Primavera de Sacramento – Cultura e Agroecologia reuniu, além de palestras e debates sobre vários temas ligados ao meio ambiente, foram apresentadas várias atividades culturais como lançamento do livro Guia de Campo. Aves da Cidade de Sacramento, de Simone Fraga, sobre a fauna urbana da cidade; exposições de arte, poesia e fotografia; espetáculos de teatro e dança; literatura, história, exibição de documentários e shows. Enfim, foi riquíssimo. 

Para Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio, “o termo Agroecologia resume-se, numa proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável, podendo ser  entendida de diversas formas: como ciência, como movimento e como prática”.

Frisando que o município precisa valorizar seu patrimônio cultural, Fátima ressaltou a importância do rio São Francisco e do queijo mineiro. “Temos em Sacramento o rio São Francisco e patrimônios culturais como o queijo que precisam ser valorizados. Temos a cultura do povo, por isso esse evento é um movimento que se organiza nessa  relação com a terra de base mais comunitária, mais cooperativa, para que possamos, enquanto  produzimos alimentos mais saudáveis,  também levar em consideração toda a parte cultural, social e ambiental”, explica. 

De acordo com Maria de Fátima, a expectativa maior do movimento é valorizar o patrimônio ambiental. “Nosso foco é a agroecologia, que trabalha e complementa outras ciências e também com o  ancestral dos povos. Agroecologia é um movimento ou ciência ponte para unir o saber ancestral com o que há de  disponível na tecnologia”, disse, acrescentando que o Festival propõe sistemas alternativos do plantio de milho, sistema alternativo do controle biológico das pragas, uso da homeopatia. 

Combatendo a produção do milho transgênico, disse que apenas três agricultores não plantaram o milho transgênico no município. “Existem evidencias científicas, noutros países, do que  significa o uso do transgênico. Então vemos não precisamos vivenciar isso em Sacramento. Há produtos agrotóxicos que foram banidos fora do Brasil, então não precisamos usar aqui, mas a comunidade, a população precisa saber disso, precisa ter as informações  com base cientifica para daí tomar as decisões que queiram”, destacou.

Roberto Carlos Mendes, engenheiro agrônomo da Emater, que também esteve à frente na coordenação do evento, lembrou que “a iniciativa nasceu da necessidade de os produtores e a população como um todo tomarem ciência para atitudes com um mundo sustentável”, destacando as parcerias com Embrapa, Ongs e pessoas da própria Emater que abraçaram a boa causa.

“- As pessoas foram ouvindo e aceitaram a nossa proposta, o que comprova que estamos no caminho certo, por isso a nossa grande expectativa para este evento que tem caráter mais que local, mais regional, dada à grande diversidade, riqueza que temos num município tão grande como é Sacramento”, afirmou. 

 

 

Simone Fraga lança guia sobre aves 

 

 

O Festival de Primavera de Cultura e Agroecologia iniciou na  manhã da sexta-feira, 12, com a observação  de aves  (birdwatching) na fazenda São Vicente. A abertura oficial do Festival aconteceu às18h30 do mesmo dia, na Casa de Cultura Sérgio Pacheco, com o lançamento do livro da jovem bióloga Simone Alves fraga, Guia de Campo. Aves da Cidade de Sacramento”, dentro de uma proposta pedagógica intitulada, “Agroecologia no Cerrado: Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, que o tornará acessível a toda a rede de ensino do município. 

 Artista de marchetaria na cidade, Simone concluiu no meio do ano o curso de Biologia, apresentando no seu TCC um trabalho de pesquisa ligado a pássaros que são encontrados no perímetro urbano. “Resolvi fazer o levantamento da avifauna  da área verde urbana, o trabalho de um ano de pesquisa que resultou neste Guia fotográfico que descreve 152 espécies que vivem na área urbana, com informações de alimentação, morfologia, reprodução. Há o mapa de localização da ave no país e a novidade que é o código QR, tecnologia usada em telefone móvel para acessar o site do guia www.avesdesacramento.com.br, onde as pessoas vão, inclusive ouvir o canto das aves”, informou feliz com o sucesso do trabalho.

 O Guia de Campo Aves de Sacramento traz fotos da própria autora, de Marcel Scalon Cerchi, e Guilherme Serpa.  Simone contou com a apoio  e acompanhamento de Lester Scalon na organização do guia, prefaciado pela expert Maria Antonietta Castro Pivatto (Tieta Pivatto, da Photo in Natura). 

De acordo com a autora, o incentivo maior veio da professora Maria de Fátima Fajardo Archanjo Sampaio. “Nosso  objetivo é mostrar a essa riqueza que temos na área urbana, isto é, para ver diversidade de aves não é preciso sair da cidade, basta saber olhar. As pessoas pensavam que Sacramento só tinha pardais e não é verdade, há no perímetro urbano 152 espécies  de aves. A todos o meu imenso agradecimento”. 

De acordo com  Simone Fraga, o guia será disponibilizado para os estudantes da rede pública  com apoio  de patrocinadores. “A partir do momento que os estudantes tiverem acesso ao guia, vamos fazer uma passarinhada, isto é, sair a campo para observar as a beleza da avifauna local’’.

 

 

O show do músico e pesquisador Ivan Gomes

 

 

Outra exposição artesanal foram as peças do músico e pesquisador de Blue,  Ivan Luiz Gomes. Também jornalista e publicitário, Ivan mostrou o documentário, Origem do Blues, onde é Mr. Dark Blue Eyes. Excelente trabalho. “Sinto-me honrado por participar de uma exposição com Sr. Oscar, ele com o seu trabalho maravilhoso da história do povo brasileiro, sobretudo do povo do trabalho e dos escravos, que tem muito em comum com o meu trabalho, que são réplicas de instrumentos usados pelos negros no sul dos Estados Unidos onde nasceu o Blues, na comunidade de escravos”, diz. 

Eles não podiam tocar instrumentos, mas depois da abolição da escravatura, como eles não tinham dinheiro para comprar instrumentos, começaram a fazer réplicas, usando sucatas. Na época, era comum as pessoas fumarem charuto, aí jogavam a caixa de madeira que vinha com os charutos na rua e os negros começaram a usá-las como caixa de ressonância, dando origem à cigar box guitar (guitarra de caixa de charuto). A partir daí vieram outros instrumentos feitos com  latas, tábua de lavar roupa e outros, tudo com material reciclado, já naquele época. Hoje, faço essas réplicas em São Paulo e fui convidado para participar da exposição em Sacramento ”, justifica. 

Na noite da terça-feira, Ivan Luiz apresentou seu documentário, As origens do Blues e fez apresentações com os instrumentos,, acompanhado de Júlio Pucci e Fred Crema. No teatro, a peça, “Cantos da Liberdade, Gritos da Opressão", com os  atores da Companhia de Teatro Movimento Cênico criado por Dadá Rodrigues, que apesar de acamado há alguns meses, foi conferir de perto a estreia da peça, reapresentada nesta sexta-feira, 19 e terá mais uma apresentação neste sábado, às 20h na Casa da Cultura.  E, também a peça,  “Cá entre nós”, inspirada na obra de Adélia Prado com Jussara Miller. 

A parte literária, debatendo as origens de Sacramento ficou a cargo dos escritores, Carlos Alberto Cerchi e Amir Salomão Jacob, e do professor aposentado da UFMG, Ivan Sebastião Barbosa Afonso, na manhã de domingo.

 

 

A arte do artesão Oscar Raul

 

 

O saguão da Casa da Cultura recebeu decoração nova, durante o Festival, com a exposição de artes de artistas plásticos da cidade  e artesanatos que caíram no gosto dos participantes do evento. Um dos destaques do Festival foi o artesão, Oscar Raul Cardoso, 72.

A arte de Seu Oscar pôde ser apreciada, além dos 'causos' no salão da Casa de Cultura. Ali estavam peças em miniatura de objetos e utensílios usados nas fazendas de antigamente, como por exemplo o monjolo, o moinho de pedra, pilão manual, trapizonga (monjolo de quatro pilões), gerador de energia usado nos primórdios, engenho,  movido a bois, carro de bois,  zorra (equipamento em formato de forquilha  usado para  carregar pedras ou objetos pesados), senzala, pelourinho, palmatória, dentre outros.

 “Fiquei alegre quando me convidaram para expor esses trabalhos. Há mais de 12 anos faço essas peças, as pessoas gostam, compram. Acho bom fazer, porque servem para os mais novos conhecerem essas coisas de antigamente”, diz ao lado da esposa Lúcia das Graças, companheira de 23 anos,  que sempre  que é solicitada ajuda a segurar alguma peça. “Ele começou a fazer essas peças quando morávamos em Peirópolis, mudamos pra cá e ele continuou. Ficou olhando  a paciência que ele tem pra fazer essas coisas tão pequenas, peça por peça e quando ele precisa, me pede ajuda, 'segura aqui'”, conta Lúcia. 

 

 

Palestrantes debatem grandes temas

 

 

Outro ponto alto do Festival foram as palestras seguidas de debates, abordando vários temas:  Agroecologia e a Produção sustentável de alimentos com Dr. Walter José Rodrigues Matrangolo (EMBRAPA); Sistemas Alternativos de produção de Milho com  Dr. José Aloísio Moreira (EMBRAPA); Controle Biológico em Sistemas Agroecológicos com  Dr. Ivan Cruz (EMBRAPA);  Uso da Homeopatia na Pecuária com Dr. Paulo Bittar (Vitae Rural); Organização de Controle Social (OCS) com o  Eng. Agronômo Marco Aurélio Borba (EMATER -MG);  Experiência da Rede ECOVIDA de Agroecologia com o Eng. Agrônomo Gustavo Ceccon Grando e a Zootecnista Fabíola Ribeiro; Cuidado com o uso dos agrotóxicos na agricultura com Benjamim Prizendt. 

Destaque também para as oficinas e documentários: A Escuta do Corpo – Técnica Klauss Vianna por Jussara Miller; Oficina de moda sustentável, com Warnewr Reis Júnior; Oficina de formação OCS (Organização de Controle Social) de Sacramento: Fabíola Ribeiro (Membro da Rede ECOVIDA; A Agricultura no Contexto do Novo Código Florestal: Wilson Marajó (EMATER-MG);  Documentário: “Pato aqui, água acolá” do Instituto Terra Brasillis: Bióloga Vanessa Matos Gomes; Documentário Agrotóxico  da via Campesina e palestra com Osny Zago. Houve também dois passeis agriculturais na fazenda São Vicente.