Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Carlo Agustoni fala sobre “fazendas rastreadas”

Edição nº 1128 - 16 Novembro 2008

É perceptível o crescimento de fazendas aptas a fornecerem carne para a União Européia Além da qualidade da carne o produtor ganha no preço. Com isso, Minas Gerais tem 232 fazendas habilitadas, e em todo o país são 486.  A região do Triângulo Mineiro, com 108 fazendas habilitadas, é a que tem o maior número de fazendas estaduais na lista. Em seguida aparecem a região do Alto Paranaíba, com 36 fazendas, e o Norte do Estado, com 33 propriedades. Patos de Minas, no Alto Paranaíba, com 16 propriedades, é o município em todo o país com o maior número de fazendas habilitadas pela UE. Em Sacramento, o IMA local não soube informar quais são as fazendas habilitadas.

 Para conhecer as medidas que devem ser adotadas para que produtor rural tenha em sua fazenda gado rastreado, fomos recebido pelo jovem Carlo Agustoni, administrador da fazenda S. Manoel, de seu pai, Pascoale Agustoni. 

 

Como preparar uma propriedade rastreada

De acordo com Carlo Agustoni para preparar uma propriedade para ser certificada há alguns passos a serem seguidos. “O primeiro passo é procurar uma empresa habilitada, particular para fazer a auditoria, que vai informar através de seus profissionais, veterinário ou zootecnista, o que está certo ou errado e o que deve ser complementado, através de um termo de adesão com as recomendações a serem implementadas”, informou.

 Após oito meses, segundo Agustoni, a empresa retorna à propriedade para nova avaliação. “Nessa fase, temos que ter um boi, pelo menos com o brinco da empresa, no nosso caso, a ' Planejar'. Esse brinco é o sistema de rastreamento através de código de barra. O boi certificado recebe um selo. Ele passa a ter uma identidade.No selo constam o número do animal no Sisbov, o número de manejo, a raça, sexo, local e data de nascimento, data de cadastramento, país de origem, nome dos proprietários e data de liberação para o abate, prevista pelo Sisbov. Além disso há as informação: 'Este animal cumpre com o disposto na Instrução Normativa SDA nº 88, de 12 de dezembro de 2003'”, diz, mostrando o selo. 

Carlo Agustoni informa ainda, que a propriedade deve ter um veterinário ou zootecnista, responsável pelo registro das informações do manejo dos animais, pelo menos uma vez por semana. “Na fazenda há um livro, assinado somente pelo veterinário responsável. Lá consta tudo o que o boi consome dia-a-dia, todo o manejo. Esses dados vão para a Internet e para o Sisbov. Ali é feito o registro de todos os animais, nascimentos, mortes, tipo de ração, etc. Esse gado não é confinado, é gado de pasto, o chamado 'gado verde', que tem um valor a mais sobre o boi confinado”.  

 

O gado rastreado não pode sair da propriedade, exceto se for para abate em frigorífico autorizado. “Quem retira o animal da fazenda é o frigorífico. Eu não posso vender um animal só ou matar um só. Caso o animal morra, o brinco é retirado e o veterinário faz registro constando o código de barra”. Na fazenda São Manuel, a veterinária responsável é Priscila Palhares, de Uberaba.  

 

Fazenda rastreada

“Fazenda rastreada nada mais é do que uma fazenda dotada de infra-estrutura recomendada pelos órgãos oficiais para engorda de gado, com assistência periódica de um veterinário, com vistas à exportação”, definiu Carlo, em entrevista a este jornal. “O gado rastreado propicia aos produtores, por conta da qualidade do manejo, um ganho sobre o boi, cuja carne vai para a exportação, em torno de  R$ 8 a R$ a 12, 00 por arroba”, explicou.

Segundo Agustoni, sua propriedade está aguardando a vistoria, dia 10 de janeiro, para fazer parte do Sisbov, um sistema de rastreamento do Ministério da Agricultura.  

De acordo com o produtor, uma fazenda rastreada deve seguir algumas normas. “Entre elas, citam-se: A fazenda não pode ter criação de galinha nem porco. Cavalos são obrigados a ter piquetes próprios. Os cochos não podem ser de madeira. Ossos na pastagem, nem pensar. Os ossos são queimados em cemitério demarcado e incinerados, com cal e aterro. Gado leiteiro só se tiver uma cocheira e um curral separados. Temos farmácia, mas só podemos usar os medicamentos autorizados. O gado não come ração, apenas o pasto e sal proteinado, que é guardado em ambiente próprio e exclusivo. Ou seja, o manejo é completamente diferente, sem ferrão e até sem gritos”, explicou, informando que não há exigência de raça específica.  

 

Frigoríficos são credenciados 

Para a venda do gado não é necessário levar o gado a leilões. Existem já os frigoríficos credenciados, mas a cotação de preços pode e deve ser feita pelo proprietário. “Existem os frigoríficos credenciados para o abate de bois rastreados. Um frigorífico que queira fazer o abate, deve procurar a Vigilância Sanitária Federal, que dará a liberação. Na região, os frigoríficos autorizados mais próximos estão em Uberlândia, Araguari e São José do Rio Preto. No nosso caso mandamos gado para São José do Rio Preto. O preço é melhor. Eu posso fazer a cotação de preços e escolher pra quem vender”. 

 

A vantagem do gado rastreado

Para Carlos Agustoni, é compensador ter o gado rastreado. “Nos primeiros 12 meses, a gente praticamente não tem ganho nenhum. O lucro vem depois que a gente consegue deixar a propriedade conforme as exigências e não é fácil. O custo é alto, os brincos custam atualmente R$ 5,60, é livro, é trato, tudo é custo. A gente perde muito quando está implantando, mas depois recupera. Hoje a arroba de boi comum está em torno de R$ 92,00, eu estou vendendo a R$ 100,00. O peso e a idade de cada um está no computador, é o frigorífico pegar e levar. É preciso ter persistência, houve um momento em que pensamos em desistir, mas valeu a pena e está valendo”, reconhece.