Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Vizinho do Lixão teme contaminação da mina d’água


Ângelo Donizete de Souza, proprietário da fazenda Olhos D´Agua, de 23,5 alqueires, desde que comprou a propriedade há seis anos vem vivendo um drama insolúvel, apesar de procurar várias autoridades para denunciar tudo o que vem ocorrendo na fazenda em decorrência do Lixão da Prefeitura, que fica colado à sua fazenda.

Ângelo enumera seis grandes problemas: a) Fedor,, chegando muitas vezes a ser insuportável; b) fumaça fedorenta, principalmente durante o período de seca, quando constantemente ateiam fogo no lixo; c) excesso de mosquito; d) cães soltos nas imediações do lixão e que, doentes ou ferozes, adentram na fazenda matando bezerros e colocando em perigo até a vida das pessoas, pois muitas vezes morrem envenenados e com raiva; e) bandos de urubus que vivem no lixão, mas bebem da água nos coxos do gado; f) e o mais recente e mais danoso, que pode provocar um dano irreversível ao manancial de água potável que serve a fazenda: a enxurrada que desce do lixão está invadindo a propriedade, podendo contaminar a mina d'água e, também, o lençol freático. “Não dá nem pra gente passar um final de semana aqui, ninguém agüenta”, queixa-se Donizete.

Nascente d'água está comprometida

Mas a maior preocupação de Ângelo é mesmo com a mina d´água que abastece a fazenda. “A enxurrada desce pela estrada antiga que fica logo acima da nascente, é muita água que desce, uma água preta, tenho medo que atinja a mina”, explica e diz mais: “Essa água é para o consumo da fazenda, inclusive da casa. A gente tem que ficar fazendo bolsões e desvios pra água não cair na nascente”, diz o fazendeiro, mostrando os bolsões em vários trechos.

Segundo Donizete, técnicos da FEAM já o alertaram de que a água poderá estar contaminada. “Há muitos anos venho lutando pra resolver esse problema. No tempo do prefeito Biro ele dizia que ia fazer uma usina de tratamento do lixo. O prefeito Joaquim, quando era candidato, me disse que faria a usina ou um aterro sanitário e até agora nada”, disse mais, informando que foi atrás também do promotor, José do Egyto de Castro Souza, que reconheceu e ficou abismado com o que contou, mas não tomou nenhuma providência até agora. Para a Polícia Florestal que esteve aqui, o sargento me disse que 'isso aqui é caso de calamidade pública”, lembrou.

Já meio desesperado, não sabendo mais a quem recorrer, quer pelo menos deixar na imprensa essa denúncia. Pois se alguma coisa acontecer, vai recorrer à justiça. Já tem por exemplo prova que perdeu cinco bezerros no ano passado, por morte de cães que vieram do lixão. “Eu quero é uma solução pra isso aqui. não temos condições de ficar na casa, por causa do mal-cheiro, os urubus bebem água nos cochos, e onde eles bebem o gado não vai beber. Formam-se bandos de urubus nos cochos e não bastasse, no dia que deu uma chuva forte o lixo da beira da estrada veio pra porta da minha casa com a enxurrada.

A gente não consegue nem vender isso aqui, já apareceram compradores, mas quando o pessoal vê a situação do local ninguém quer. É preciso ter uma solução nisso aqui. a gente vai fala na prefeitura, fala pra eles e eles respondem que o lixão existe há 100 anos. “Há cem anos, quantos habitantes havia em Sacramento, quanto de lixo ia pro lixão. 'Há 100 anos a gente amarrava cachorro com lingüiça', hoje a realidade é outra.”, justifica Donizete, repetindo uma frase que, segundo ele, o promotor José do Egyto lhe disse, para responder aos técnicos da prefeitura.

A nascente dista do lixão cerca de um quilômetro, fica próxima ao Ribeirão Borá, uma água cristalina. “Essa água é levada pra a casa através de uma bomba, é água mais do que suficiente para o consumo da fazenda. E a hora que ficar contaminada como é que fica?” pergunta Ângelo, mostrando uma área de reserva que foi queimada pelo fogo colocado no lixão. “O fogo veio alastrando e destruiu essa parte da reserva”. Segundo Ângelo Donizete, o local é rico em fauna e flora silvestres: tamanduás, lobos-guarás, jaguatiricas, micos, muitas aves vivem no local, um serrado típico de Minas.