Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O sempre querido Pe. Gil

Debaixo de algumas árvores, das poucas ciliares que ainda margeiam o rio Grande, poluído com centenas de ranchos construídos após a inauguração da barragem de Jaguara, naqueles tempos em que o Ibama e o IEF davam pouca importância a essa questão ambiental. (O que não mudou muito), foi que encontramos o velho e querido amigo, Pe. Gil, o hoje prof. Gil Barreto Ribeiro, da Universidade Católica de Goiás, e ex-vigário redentorista da paróquia local. É sempre bom e gostoso conversar com Pe. Gil, que esteve em Sacramento para o lançamento do livro do escritor, Amir Salomão Jacób, 'Eurípedes Barsanulpho, sob a luz da história'. E foi ali, no rancho dos amigos, Jacob e Silvânia Salomão, que rolou o papo.

ET - Continuamos a chamá-lo sempre de Pe. Gil... Que carinho, heim? Isso prova que o hábito não faz o monge.
Gil - O fato de eu ser identificado como padre, reflete para mim um momento importante da minha vida, do tempo que exerci o ministério, sobretudo em Sacramento, onde tive a oportunidade de exercê-lo de forma intensa. Sacramento representa pra mim os sete primeiros anos de ministério sacerdotal, onde me identifiquei mais através do trabalho com o povo. Em Goiânia, não estive diretamente com o povo, porque lá eu trabalhava na função administrativa, como superior da congregação em Goiás. Mas ser chamado de padre, me identifica muito com a realidade vivida aqui.

ET - Aquela vida eclesial desapareceu, mas nasceu a pastoral, em Goiânia, não foi?
Gil - Após deixar a vida ministerial, em Goiânia, trabalhei numa comunidade da periferia. Só deixei a atividade devido à minha dificuldade de locomoção. Mas não deixei de fazer o meu trabalho. Realizamos no condomínio onde moramos a novena de Natal e outras celebrações comunitárias. Temos uma atividade religiosa muito boa no condomínio.

ET - Continua sua atividade na Associação dos Padres Casados? Como ela está?
Gil - Não, já fui presidente da associação, mas atualmente estou afastado, pela dificuldade de locomoção. A Associação teve altos e baixos, e alguns momentos expressivos. Mas temos diversidades, como por exemplo, um grupo que reivindica o retorno ao ministério e outro que quer dar uma característica de associação, não ligada diretamente à Igreja. São questões diversificadas, porém válidas dentro da projeção que a Igreja deva Ter.

ET - Com a eleição de Bento XVI, você vê perspectivas para as reivindicações da Associação? O que espera de mudanças?
Gil - Não vejo essas perspectivas com o papa Bento XVI. Na realidade, há muitas coisas a desejar dentro do sentido doutrinal, que a Igreja mantém. Acho que a Igreja se isola um pouco da realidade do mundo e se deixa conduzir simplesmente por aqueles princípios um pouco estratificados de sua doutrina. Tem muita coisa válida e bonita, mas há muita coisa que está afastando o povo da convivência fraterna, que é o princípio maior do evangelho de Jesus Cristo. Assim, não vejo perspectiva de mudanças.

ET - E a a veia de escritor do Pe. Gil?
Gil - Anda meio parada. Mas tenho alguma coisa em vista, uma delas é a segunda edição do 'Discurso Social Político da Igreja', tese do Mestrado na área de Comunicação Social. "Estou fazendo um trabalho de atualização dos dados, porque terminei esse trabalho no início do pontificado de João Paulo II e agora quero estendê-lo ao início do pontificado de Bento XVI. E outra reedição que pretendo fazer é do livro, 'Matrimônio: loteria do amor', escrito no final dos anos 70. Vou fazê-lo até para atender a inúmeros pedidos do livro.

ET - Você escreveu esse livro ainda como padre. Depois se casou. Conseguiu fazer os 13 pontos na vida matrimonial? (risos).
Gil - O meu time é muito bom. Sou casado com Alda, fonoaudióloga da Universidade Católica de Goiás, e dá assistência a comunidades carentes. Os filhos estão encaminhados. Thiago concluiu o curso de Relações Internacionais e Comércio Exterior e a filha, Larissa, cursa o 8º período do curso de Engenharia de Alimentos, já estagiando na área. A família é o suporte para qualquer pessoa.

ET - Como está convivendo com sua neuropatia?
Gil - Todos nós, dentro da nossa trajetória, chegamos a ponto de limitações, tanto na questão de saúde física, quanto psicológica. A mim, graças o Deus, o que me tem afetado é uma doença física. Há 15 anos convivo com uma neuropatia dos membros inferiores, que causa uma degeneração muscular. Agradeço a Deus todos os dias por esse problemas não me afetar tão gravemente. Tenho problemas de locomoção, mas convivo muito bem com a situação, com a cadeira de rodas, inclusive perante a minha vida social.

ET - A Campanha da Fraternidade de 2006 aborda o tema 'Fraternidade e pessoas com deficiência'. Depois que passou a usar a cadeira de rodas, se sentiu excluído?
Gil - Estou há 18 anos dentro da universidade e até alguns anos atrás as pessoas me viam locomovendo normalmente e, nos últimos cinco anos, passaram a me ver numa cadeira. Percebo que há uma visão diferenciada, mas não no sentido depreciativo, mas de respeitar aquilo que conseguimos realizar e tenho momentos maravilhosos. Isso mostra que estamos quebrando muito os preconceitos. Sobre a CF, que inicia na quarta-feira de cinzas, essa é uma oportunidade de aprofundar a reflexão. Mas temos percebido que a sociedade está evoluindo, adaptando a parte física, aos concursos públicos, enfim à vida.

ET - Um grande abraço!!

No rancho à beira da represa de Jaguara, dos amigos Jacób e Silvana, Pe. Gil recebe o carinho e a manifestação de amizade de vários amigos que deixou em Sacramento.

***