Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O livro vai dar "pano às mangas"


O advogado José Rosa Camilo conheceu o livro "Eurípedes Barsanulpho: sob a luz da historia", na noite do lançamento. Após leitura minuciosa faz duras críticas ao autor, no que tange a fatos relacionados à religiosidade de Eurípedes.

Depois de longa análise, veja o resumo da avaliação do adovogado. "A obra no sentido histórico, político e social é ótima. Mas sobre ela dirão os críticos de ‘opa’ e ‘mitra’, ter sido lamentável o fato de o autor não ser versado nos campos da ciência, da filosofia e da religião, que é o espiritismo, estruturado sob pura essência crista, por Allan Kardec, que avalia em estudo serio o comportamento humano, todas as ações do homem e as suas inter-relações sociais, em face do grau evolutivo de cada um e do estagio moral da sociedade, num dado momento histórico. Como se vê, o livro de Amir vai dar ‘panos às mangas’.

Amir declara ter evitado introduzir apreciações pessoais suas sobre os fatos... Mas inseriu-as, sim. Todavia entendo, que de outro modo não poderia ser, pois, como pesquisador e narrador de fatos históricos, não resistira mesmo à influencia da inspiração interior, que move o intelectual e emitir sua apreciação sobre fatos históricos por ele pesquisados. Entretanto, em algumas circunstâncias pregressas por ele analisadas, pode ter cometido, e entendo que cometeu alguns excessos involuntários, sutis e subjetivos, suavemente e difamatórios sobre o caráter e comportamento do jovem Eurípedes Barsanulfo. Tanto que teve a cautela de dividir sua análise nas fases criança, adolescente, jovem religioso e político, e adulto e maduro.

Amir comprova e anota que, Eurípedes vestia muito bem é sabido que sua indumentária distinguia-se até para os padrões da época, exigente quanto à vestimenta e, que na Igreja, enquanto católico se postava sempre em posição de evidencia no átrio e corredores do templo ou no próprio altar, de onde sempre se retirava com excesso de reverência: nunca saia da Igreja voltando as costas para ao altar, o fazia de ‘ré’, ‘de afasto até a porta de saída’! O autor salienta ser tal comportamento uma evidência de vaidade, de exibicionismo, que se revelava até nos excessos reverenciais do ritual, que Eurípedes cumpria enquanto católico. É temerosa tala firmação sem levar em consideração predicados intrínsecos de sua personalidade, como a sinceridade, a pureza de intenção, a humildade e seu entranhado senso de religiosidade, seu apego às exigências de limpeza e boa apresentação, manifesto desde criança.

Ao constatar que Eurípedes, tendo deixado o catolicismo e aderido ao espiritismo, cruzando por uma procissão voltou as costas a ela, em frontal desrespeito à fé que abandonara, conflitando seriamente com seus excessivamente respeitosos atos anteriores. É certo que a história, pelo seu tradicional arquivo oral, noticia esse fato. Mas isso não deve levar o analista à brusca conclusão de que se tratava de gesto intencional de repúdio público à sua filiação religiosa anterior. Faz-se preciso considerar outro fato histórico inconteste: o grave conflito psicológico e de discernimento ao espiritismo. Fase em que deve ter ocorrido aquele fato. Do que ele se redimiu galhardamente, conforme seus alunos e contemporâneos testemunharam, sobre que, quando Eurípedes caminhava pelas ruas e passava uma procissão ou um funeral, ele parava, descobria-se, cartola e bengala na mão, postava de frente para o cortejo, sempre elegante e aprumadamente, em respeitoso silêncio, olhar discretamente voltado para o alto, fechava-se em oração mental, a té que passasse o último componente do séqüito, enquanto todo o comércio fechava as portas (isso ouvi em relatos de Dr. Thomaz, professor Germano, Dr. Clemente e professora Corália, que o conheceram pessoalmente).

Confrontando periódicos da época, em brilhante trabalho de pesquisa, meu incansável e talentoso colega, demonstra documentalmente, que Eurípedes não foi o fundador do jornal " Gazeta de Sacramento", e sim, o Dr. João Gomes Vieira de Melo (Promotor de Justiça, que havia sido professor do Barsanulfo). Nesse pormenor, lança luz sobre o fato publicado no livro de Corina Novelino "Eurípedes o homem e a missão". Todavia, a "Gazeta" era jornal de oposição à política majoritária. Esta se expressava pelo jornal da situação, "Cidade do Sacramento", que verberava violentamente contra o dono do jornal " Gazeta" e a amigos de seu proprietário. Em função disso, nosso fraterno e estudioso Amir, usando do sabido recurso popular, ‘sabendo com quem tu andas, sei quem tu és’... impinge a Eurípedes o mesmo caráter e comportamento político agressivo e polemista, que o jornal da situação que representava o peso político e social da época, atribuía ao dono do jornal de oposição, do qual Eurípedes era colaborador e redator.

Livro serve de debate

Vê-se que a oportuníssima e valiosa obra literária do Amir, em questão, provocará acaloradas discussões analíticas e proveitosos debates culturais. Certamente, fará vir a lume outras obras, força dos formidáveis subsídios de natureza histórico-científicos revelados. O próprio comportamento de Eurípedes Barsanulfo, no exercício de seu mandato à Câmara de Vereadores àquela época, é farto repositório para pesquisa e estudo por cientistas políticos da atualidade. A respeito, tenho de há muito rabiscos a ser oportunamente também condensados em despretensioso opúsculo.

Comunidade espírita

A respeito da notória ausência da comunidade espírita no lançamento do livro, ‘Eurípedes: sob a luz da história’, Jose Rosa Camilo justifica: "Eu também notei com admiração a ausência de um número maior de espíritas e com muita alegria e satisfação, vi com entusiasmo a presença de pessoas não espíritas, que se colocam não como líderes pensadores, mas de católicos e outras religiões.

Agora, quanto à posição dos espíritas, considero natural, porque os espíritas, principalmente aqueles mais vinculados à família dele, entendem que somente os espíritas têm o direito de escrever sobre Eurípedes Barsanulfo e isso é natural. Subjetivamente, eles pensam que as pessoas não espíritas não sabem entender a personalidade de Eurípedes. E analiso isso como livre pensador, sem nenhuma posição de espírita ou de neo-espírita, digo isso como observador despretensioso e liberal", justificou.

O advogado também opinou sobre como a comunidade espírita recebeu o livro: "Os espíritas de menor esclarecimento, de menor formação intelectual e muito aferrados à ideologia espírita, vão continuar pensando que uma pessoa não espírita não é capaz de entender a vida e obra de Eurípedes. Os espíritas mais esclarecidos, lendo o livro, estudando o livro e analisando vão entender que é uma obra mais socialmente cientifica, do que uma obra de cunho social espírita, como sempre se escreveu. Amir escreveu sobre Eurípedes como ninguém escreveu ate hoje", afirmou.

Para Camilo, a obre vai mexer como mito Eurípedes Barsanulfo. "Vai mexer e valorizar, porém não vai influir no Eurípedes espírita. É um erro nosso, os mais esclarecidos achar que as pessoas de menor formação intelectual são incapazes de entender certos detalhes do conceito religioso. Mas essas pessoas têm a sensibilidade tão grande, que sabem discernir aquilo que é social, o que é humano e o que é divino, Melhor que os intelectuais. Os intelectuais são mais preconceituosos que as pessoas mais simples, que têm um discernimento muito mais amplo do que os intelectuais de formação preconceituosa a ponto de achar que um não católico não possa escrever sobre Eurípedes", concluiu.