Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Luiz Eduardo conta experiências na Áustria

Há menos de um mês, o jovem Luiz Eduardo Sarmento Araújo, 19, retornou da Áustria, onde permaneceu durante um ano, como intercambista rotário. De Graz, uma cidade com 250 mil habitantes, a segunda maior cidade austríaca, trouxe muitas experiências. “Um ano é muito pouco tempo pra gente absorver toda a cultura européia”, reconheceu.

A vaga para o intercâmbio foi conquistada com muito esforço, uma vez que a disputada é bastante grande no distrito 4770. “De Sacramento, fomos três classificados nos três primeiros lugares.

Além de mim, a Luiza Cardoso está na Austrália e o José Luiz Skaff da Matta, que tirou o primeiro lugar, mas desistiu do intercâmbio. O distrito 4770 mandou no ano passado 25 jovens para o exterior. Cada jovem escolhe um país e a minha escolha foi a Áustria, porque o meu sonho era estar no Velho Mundo”.

A recepção: “Quando decidi viajar tinha uma preocupação, porque dizem que os alemães são muito frios. Fui com essa imagem, mas os austríacos ficam no meio termo, não são calorosos, mas também não são frios.

Ao chegar ao aeroporto a família que me hospedou por um tempo estava me esperando com agasalhos, porque o inverno estava rigoroso. A recepção foi boa, muito boa”, disse, reconhecendo que há uma certa aversão contra o pessoal que vai para o país em busca de trabalho. “Essas pessoas não são bem aceitas, não”.

O dia-a-dia: “É corrido, até porque Graz é a maior cidade depois da capital Viena. É como se fosse uma capital aqui no Brasil, muitos museus, muito movimento. A vida não é muito fácil, é um corre-corre. E depois eu tinha que aprender a língua, que é uma das exigências.

O que me salvou foi o básico do Inglês, porque lá todos são obrigados a saber o Inglês e o nível dos alunos é muito bom. Eles lêem obras em Inglês, coisa que não acontece aqui. Com o Inglês fui me virando e aos poucos fui aprendendo o alemão. Hoje, converso e leio em alemão e vou precisar exercitar a língua para não esquecer”, disse, falando da sua rotina.

“Acordava às 7h00, às 8h00 estava na escola, ia de bicicleta ou de bonde, uma coisa muito usada lá. Estudantes não pagam o bonde, só eu porque era estrangeiro. Retornava às 13h, almoço e estudos, trabalhos, visitas, entrosamento”.

Encantamento: “Foi o que não faltou. Graz é uma cidade pequena, mas a estrutura é fantástica. É primeiro mundo mesmo”, conta. Outra das exigências a serem cumpridas no exterior é a freqüência às aulas, independente de ter ou não concluído os estudos no país de origem, isso para facilitar a convivência com as pessoas.

Escola: “Fui para a uma escola pública, essa é a exigência. Se bem que todas as escolas da Áustria são públicas, à exceção daquelas que atendem alunos especiais.

No segundo semestre mudei de escola e foi realmente fantástico. Na primeira escola o sistema é mais parecido com o do Brasil. Horário de aulas definidos, matérias específicas, um estilo mais conservador. Na outra, que eu classifico como a escola do futuro, o horário é alternativo, você vai ou pela manhã ou pela tarde.

Os alunos desenvolvem trabalhos, ganham dinheiro. As escolas são mantidas pelo governo, mas também pelos alunos, que fazem designer de produtos. Os laboratórios lá, colocam qualquer faculdade debaixo do braço.

Escola do futuro: Na segunda escola onde estive, éramos 36 alunos e para cada um de nós havia à nossa disposição máquinas fotográficas, digital, analógica, dois laboratórios de fotografia e computadores”, conta mais, maravilhado.

“Lá, praticamente não existem escolas privadas, as poucas que existem são para alunos problemáticos, que não se enquadram em escolas públicas e normalmente são escolas católicas e muito antigas”, conta.

Vestibular: “Os alunos no ensino médio, que chamamos aqui de Colegial, fazem as matérias que vão precisar para ao vestibular, não é igual aqui que a gente estuda tudo e o professor é um monitor.

Ele dá os trabalhos e cada um se vira. O pessoal tem que estudar mesmo”. Segundo Luiz Eduardo, um dos aspetos que mais chamou-lhe a atenção é que todos têm condição da fazer faculdade.

“A diferença entre ricos e pobres é mínima, não dá muito pra distinguir, mas tanto o rico quanto o pobre têm acesso a tudo, gratuitamente, escolas, saúde, diversão”.

Engajamento dos jovens: “Jovem é jovem em qualquer lugar e há diferenças entre jovens, mas na Áustria, pelo menos os jovens da minha escola são politicamente engajados, talvez por ser uma escola de vanguarda.

Principalmente, na área de humanas, artes, designer são bem engajados. Eles são ligados a Ongs. Protestavam em frente a uma loja que comercializa peles com cartazes, faixas... Eu mesmo fui duas vezes. No início eu achei estranho, eles sentarem no parque, beberem cerveja e conversarem de filosofia, política.... Eles me bombardeavam de perguntas sobre o Brasil, Lula, Hugo Chaves. Com o Hugo Chaves eu passei aperto. O Lula é bem visto lá, mas não gostam de americanos”.

Alimentação: “Deu saudade do arroz com feijão. Cada dia era um prato diferente, arroz era só como acompanhamento de algum prato, o consumo de batata é grande. Sempre há sopas, depois um prato principal, que é uma massa ou salada e a sobremesa.

Enfim, não é como aqui que tem aquela variedade de pratos. Feijão não tem, só enlatado. Na primeira família, a mãe fazia o almoço e no jantar cada um se virava. Na outra casa, a mãe é medica, saía para trabalhar, ela fazia o jantar, para o almoço cada um se vira. Nesse aspecto eu estranhei muito. Agora, chocolate tem bastante, lá está o melhor chocolate do mundo...”.

A música: “Também estranhei muito. Senti muita falta de música, lá eles são muito de música clássica, Mozart, Strauss. Não conheci musica austríaca, bandas como ocorre aqui, vários estilos de música, lá não existe.

Não há baladas como no Brasil, o pessoal vai aos 'pub's', que tocam músicas alternativas, mas é só. Outra coisa é que aqui, as coisas começam à meia-noite e vai até às cinco, seis horas, da manhã. Lá, não, começam às 20h00 e terminam no máximo às 2h00 da manhã. O pessoal não fica a noite inteira...

Violência: De acordo com Luiz Eduardo, o índice de violência é baixíssimo, apenas um roubo foi noticiado. “Prostituição ocorre entre pessoas do leste europeu (Romênia, Eslovênia) que vão pra lá com essa finalidade e os mendigos também são de lá. O prefeito proibiu inclusive a entrada de pessoas dessas regiões”, lembrou.

A experiência valeu: O aprendizado foi grande e tudo foi registrado em mais de dez mil fotos. “Foi uma experiência muito grande pra gente. O aprendizado é excelente, outras culturas, outras cabeças, outro mundo”, finalizou. Eduardo agora, diferentemente da Áustria, tem que garrar na Biologia, na Literatura e na Lingüística para prestar vestibular de Arquitetura e Urbanismo, “Se fosse lá, não ficaria estressado, teria que estudar apenas as matérias relativas ao curso. Agora é correr e estudar”, conclui. Além da Áustria, Luiz Eduardo visitou vários outros paises Itália, França, Espanha, Bélgica, Alemanha, República Checa, Suíça.

Legenda:
Foto 1 - Kopien von;
Foto 2 - host mums;
Foto 3 - Cinque Terre - Itália;
Foto 4 - carnaval em Veneza