Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Fogo no lixão aumenta mau cheiro

Há mais de um mês, um fogo arde no lixão da cidade, causando uma fumaça que contribui ainda mais para o mau cheiro, perturbando os catadores de lixo que passam o dia no local separando o material para reciclagem. A informação é dos próprios trabalhadores.

“Não sabemos quem ateou o fogo, um dia chegamos e estava o fogo aí, só que ele não dá labaredas, vai queimando aos poucos e fazendo esse fumação, diz João Bosco, 66, pai de sete filhos, que há quatro anos separa lixo para vender, contando como parou no lixão. “A gente vai chegando a idade, estava desempregado, aí vim separar lixo”.

Um dos trabalhadores, José Antônio, 42, diz ter mais de 20 anos de serviço no lixão, que trabalha ao lado de outros dois homens e três mulheres, Maria Raimunda de Souza, 5l, Adriana Majela, 34, e a menor, A.P, 17, todos curvados sobre o monturo e selecionando aquilo que dá pra vender, em condições sub-humanas.

“A gente separa garrafas pet, plástico duro, plástico mole, ferros, alumínio e depois a gente vende. Os caminhões vêm buscar aqui, eles pagam R$ 0,35 o quilo”, conta João Bosco, revelando que chegam a ganhar, “quando está bom”, em torno de R$ 600, 00 por mês com a venda do lixo.

Mas essa pequena renda tem um custo muito alto. Sem luvas, máscara, nem óculos protetores. Botas são as que encontram no lixo, os catadores estão sujeitos a várias doenças.

“Cortes nas mãos são comuns, mas não tememos doenças. Eu acho que a gente não fica doente, porque até hoje não aconteceu nada, e depois, sabe como é, Deus olha, não tem outra coisa para gente fazer”, diz, com resignação. Mas José Antônio, homem de poucas palavras, garante que já ganharam botas, luvas e mascaras da prefeitura.

“Na primeira vez que o Dr. Biro ganhou, começou a dar botas, luvas, tudo, mas agora parou. A gente não ganha mais isso , não”, lamentou.

O almoço, o lanche e os poucos momentos de descanso acontecem embaixo das arvores de folhas poluídas e ocupadas por urubus, que aliás disputam o lixo com os trabalhadores.

Questionados sobre como é o convívio com as aves carniceiras, Maria Raimunda responde: “A gente já virou amigo, eles ficam juntos com a gente no lixo”, diz, e João Bosco emenda: “A comida a gente traz de casa; na hora de comer, a gente despeja água das garrafas nas mãos e almoça, não tem muito luxo, não”.

- Não seria melhor a Prefeitura exigir a separação do lixo, pelo menos do lixo orgânico e papéis, responderam com animação: “Aí, ia ser uma beleza, chegava aqui era só pegar, a gente não ia precisar ficar mexendo nos sacos que tem todo tipo de lixo”, explicam, explicando que o lixo hospitalar não é jogado no lixão, mas incinerado.

“No governo do Dr. Biro o lixo hospitalar era trazido em uma única viagem, agora, não, vem separado, mas no mesmo caminhão e jogado ali em cima, onde é queimado. Tem doença, né”.


Mas no meio de tanta podridão, às vezes, acontece um lance de sorte. “A gente, às vezes, encontra coisa boa, que dá até pra aproveitar, roupas, calçados, essa bota que estou usando, panela e até dinheiro. Eu já achei notas de dez reais. O Zé Antonio já achou R$ 700 reais”, conta João Bosco e Zé Antonio confirma. “Um tempo atrás, achou 700 contos e de vez enquanto tem nota de dez, de um, às vezes dá sorte”.

Cooperação no trabalho

Apesar das adversidades que enfrentam no trabalho, os trabalhadores do lixão são organizados em dois grupos e atuam na forma da cooperação: os caminhões de lixo são divididos em igual número pra cada grupo.

“Na segunda-feira, chegam quatro caminhões de lixo, são dois caminhões pra cada grupo, nos outros dias são dois caminhões, fica um prá cada grupo. Trabalhamos todos num caminhão, depois passamos para o outro, mas tudo junto, é mais rápido”, dizem, acrescentando que de vez em quando aparecem outras pessoas, mas não conseguem permanecer.

“É um dia só, mas a gente está aqui direto, com sol ou chuva, só não trabalhamos o dia que não tem lixo”, contam.

Adriana Majela diz que se tivesse uma máquina disponível, eles mesmo empurrariam o lixo que sobra após a coleta. “Se tivesse uma máquina a gente empurraria o lixo, mas ele vai ficando aqui, quando tem bastante a prefeitura vem com o caminhão e empurra”.

Ao serem questionados sobre como é conviver com o mau cheiro, João Bosco responde: “A gente acostuma, acostuma”, mas Maria Raimunda contradiz. “Não é que a gente acostuma, é a precisão, parece que esse cheiro fica na gente.

Se a gente tivesse outro serviço, não estaria aqui. Isso aqui é a última coisa que a gente faz”, conclui.
Carlos Donizete, 31 e a menor A.P, 17, trabalharam de cabeças baixas e não responderam a nenhum pergunta