Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Casa do Caminho: um exemplo de desprendimento e doação


A Casa do Caminho, na cidade de Araxá, é um exemplo de desprendimento e doação de um homem, José Tadeu Silva, 51. Um ser humano incomum, simples, de família humilde,
com poucos estudos, que ainda criança começou a aprender com a mãe Luiza, a praticar a caridade,
visitando doentes acamados nas periferias.
Tadeu cresceu e começou a trabalhar, mas continuou ajudando a mãe nos trabalhos caritativos.
Aos 46 anos, José Tadeu, o filho mais velho, passou a cuidar dos próprios pais, Luzia, vítima de um câncer e o pai, de um derrame. Por dois anos, Jose Tadeu dedicou toda a atenção aos pais.
Após a morte dos progenitores, Tadeu não parou com a caridade, pelo contrário intensificou-se, pois levou para a sua casa dois velhinhos paralíticos, logo acolheu mais três e nascia assim a Casa do Caminho. A obra de José Tadeu hoje é um conglomerado de cerca de 12 mil metros de área
construída, contando com hospital de apoio, psiquiatria, UTI adulto com sete leitos, semi-intensivo, sala de raios-X, 12 oficinas Terapêuticas, fisioterapia, hidroterapia, tratamento fitoterápico, biblioteca pública, centro espírita, e outras.

A pobreza evangélica de Tadeu

A pobreza evangélica desse apóstolo da caridade é notada a partir de seu patrimônio, um quarto/sala de adobe, chão batido, uma cama, um guarda-roupa, uma mesinha, uma mala e um radinho. "Esse é o meu patrimônio diz minha cama estava muito velha, aí me arrumaram essa", mostra, e diz mais: "Não tenho carro, ando de carro com os outros. A instituição tem carros, ambulância, mas eu não preciso disso". Mais tarde mostrou-nos o primeiro carro da entidade, um Comodoro, 1975, azul, bem conservado. "Esse carro, nós ganhamos, ele serviu de ambulância e carro fúnebre por muito tempo".

A exemplo de sua casa, o Centro Espírita com capacidade para 800 pessoas, também é feito de adobe com sustentação em alvenaria e chão batido. As cadeiras foram doação do Grupo Zema, parte eram do Cine Capitólio, de Sacramento e parte do Cine Santo Antônio, de Araxá. Tadeu explica o porque da casa de adobe e de chão batido: "Eu fui criado numa família humilde, simples e não mudou nada na minha vida. Minha casa era de chão. Agradeço por isso aqui todos os dias, minha vida é aqui".

No início da Casa do Caminho, no terreno da família, foram feitos pavilhões em adobe para abrigar os enfermos Há ainda parte dos pavilhões iniciais, hoje reforçados com pilares de cimento e pintados. "Com o passar do tempo, nossa casinha foi enchendo de pessoas doentes e tivemos que ampliar. Minha irmã, Maria Luiza, mudou-se para outra casa, meu irmão Itamar casou-se e fiquei com a casa. Durante três anos mantive a casa com minhas economias e depois a comunidade abraçou o trabalho. A partir daí ficou mais forte a corrente, porque tínhamos 14 internos. Depois de um tempo, criamos uma diretoria e demos seguimento. Tudo isso aqui é da Casa do Caminho, eu não tenho mais nada a não ser o meu quarto", explica, lembrando mais: "Durante oito anos, eu lavei toda a roupa dos enfermos, cozinhei para todos. Já lavei 80 cobertores por dia, sem máquina ou tanque, lavava tudo à mão. Nessa época, vinha muita gente aqui, mas como os doentes faziam as suas necessidades na cama, as pessoas não tinham coragem de lavar".

Hoje a Casa do Caminho conta com uma lavanderia com capacidade para lavar, secar e passar mil quilos de roupas em pouco mais de uma hora, com funcionários trabalhando doze horas por dia, num sistema 12 por 36. A lavanderia foi presente da Central do Dízimo.

José Tadeu é um celibatário por opção. "Desde criança eu dizia que nunca ia me casar. A minha doutrina não me proíbe isso, mas fi-lo por opção minha. Sempre fui muito alegre, aproveitei bem a vida, mas optei por não constituir família e fazer o que eu gosto", justifica.

Para a ampliação da área, José Tadeu foi adquirindo terrenos dos vizinhos. "Já compramos 16 propriedades aqui ao redor, porque estamos preparando para a construção do Hospital Geral e vamos precisar de mais área, futuramente".

A opção pela doutrina espírita

Minha mãe Luiza não tinha religião, gostava de fazer o bem, ajudar os outros. Ela não era católica e tinha muito medo do espiritismo. Só depois de muitos anos se tornou espírita. Ela fazia o que fazia, por ser crista, pelo amor pelos outros", conta José Tadeu, que recorda, que por uns tempos trabalhou para a prefeitura, depois na construção da Arafértil "mas mesmo trabalhando eu a ajudava, até que quando eu tinha 20 anos, minha mãe faleceu vitima de um câncer e meu pai sofreu dois anos com um AVC. Minha mãe foi mãe e minha professora, ela veio para me ensinar a caridade e fiz o meu estagio com o meu pai", conta com serenidade.

A casa espírita na linha kardecista, no inicio era na sua própria casa "quando acolhi os dois paralíticos, iniciei com os trabalhos espíritas, reunião pública. A casa logo encheu e vimos a necessidade de ampliar". Hoje, o centro espírita realiza reuniões às quartas e sábados, às 20h00.
José Tadeu não tem formação acadêmica. Tudo começou com a experiência que teve ao acompanhar os pais enfermos. "Estudei muito pouco, no decorrer dos anos, a necessidade me transformou num enfermeiro prático, num medico prático, porque conheço muito de medicina, diagnóstico, patologia. Aprendi tudo isso com a necessidade. Fui lendo, estudando e aprendendo".