Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

20% de Cana-de-açúcar representa toda a área de soja e milho do município


A Lei Papinha, que limita o plantio de cana no município em 20% da área (62 mil há), aprovada por unanimidade pela Câmara, na última semana, causou descrença em muita gente, que acreditava que a Câmara poderia legislar em favor da qualidade de vida do município. Mas a lei, segundo o produtor rural, João Oswaldo Manzan (foto), ex-presidente do Sindicato Rural de Sacramento, pode transformar o município em um imenso campo de cana. "Se plantarem tudo isso será mesmo a monocultura", comentou extremamente magoado.
O projeto original do vereador Aristocles Borges da Matta, o Papinha (PDT), aprovado dia 3 de julho, previa limitar a área em 15%, o que já era demais, pois os usineiros contavam com apenas 10%. Mas uma emenda, assinada pelos vereadores, Luizão Bizinotto (PMDB) e Luiz Sinhorelli (PDT), elevou o limite para 25%, o que seria o caos. Diante do impasse, prevaleceu a idéia do vereador José Maria Sobrinho (PFL), limitando a área em 20%, ou seja, o dobro do que os usineiros queriam.

A lástima de Manzan vem mais pelo fato de a Câmara, uma instituição que se diz representante do povo, não ter dado ouvidos a um abaixo-assinado com mais de 1.662 assinaturas, com 1.487 (92%) votando contra o plantio da cana. "Mostramos números, a prova documental, com assinaturas e RGs de cada entrevistado na pesquisa, no entanto os vereadores não consideraram a opinião do povo", lastimou.

Magoado, Manzan justificou os motivos de sua insatisfação. "Sacramento possui 3 mil km2 de área, algo em torno de 62 mil alqueires de terra, ou seja, mais de 300 mil hectares. 20% da área plantada em cana representa 60 mil hectares. Sacramento possui, atualmente, 50 mil hectares com plantio de grãos, soja e milho, sem contar as áreas de café. Como pode um município ter uma lei autorizando o plantio total da sua área fértil? Com certeza vai virar monocultura, porque a área de cana será superior à de grãos", argumentou.

Manzan acredita, entretanto, no bom senso dos produtores de terras. "Pelo que eu conheço da empresa, o que eles pretendem é isso, monopolizar a área, aliás a região, mas pelo que estou vendo até o presente momento, Sacramento não vai passar de 20 mil hectares. Os produtores não estão muito empolgados com a cana, não. Não há contratos de moradores do município para o plantio de cana. Os contratos que há são de pessoas que moram fora, e estão arrendando. Gente daqui, está meio precavida em ceder suas terras por sete anos aos usineiros", analisou.

PMS não tem como fiscalizar plantio

Pela Lei Papinha, que regula o plantio de cana no município, quem fiscaliza as irregularidades, é a secretaria de Agricultura do município e o Codema. Mas segundo João Oswaldo Manzan nenhum nem outro tem condição de fazer a contento essa fiscalização. "Eles não têm estrutura para fazer essa fiscalização. Além do tamanho da área, há um agravante maior, as pessoas responsáveis nunca serão encontradas. Haverá a dificuldade em encontrar as pessoas que têm a documentação em mãos. Eu não acredito nessa fiscalização e muita gente não acredita nisso, também, pois temos exemplo de outras fiscalizações que deveriam ser feitas e não são", explica, duvidando ainda da vontade da prefeitura, pois os dois órgãos são diretamente ligados ao município. "Muita gente questiona inclusive, que se é de interesse da prefeitura o plantio da cana no município, eles vão fiscalizar?".

Manzan questiona pesquisa do prefeito

Outra crítica de João Osvaldo Manzan é sobre uma pesquisa encomendada pelo prefeito Joaquim Rosa Pinheiro, perguntando à população: 'Você aceita a instalação de uma usina de cana em Sacramento?' "Ora, critica Manzan, a empresa responsável pela pesquisa pode ser muito boa, mas para mim ela é falha, porque eles não divulgaram quantas pessoas foram pesquisadas, nem onde. E mais, todo mundo que a gente pergunta, ninguém respondeu a essa pesquisa", comentou.
Sobre a sua pesquisa, que teve outro direcionamento, questionando o plantio da cana no município, disse o produtor, que foi muito mais séria. "Na verdade, foi um abaixo assinado. Eu saí de rua em rua, conversando com as pessoas, pegando assinaturas, documentos. Não fiz nada escondido. Agora sair por aí fazendo uma pesquisa, perguntando se o cidadão quer uma usina na cidade, é claro que dá a impressão de muito emprego e outras benesses", disse mais.

Questiona também Manzan a qualidade do emprego gerado em uma usina de álcool e açúcar. "Aí eu pergunto: quantos empregos eles vão gerar para Sacramento? Que tipo de emprego? Os melhores empregos vão ficar com quem? Por quanto tempo. É claro que vão trazer gente deles para os melhores cargos. Para mim, houve uma falha nessa pesquisa, afinal quantos foram os entrevistados e de onde?", questiona.

Segundo notícias, o Grupo Carlos Lyra tem intenção de instalar na região, três unidades produtoras de açúcar, álcool e energia elétrica no Triângulo Mineiro. "Com investimentos de R$ 645 milhões, as plantas industriais deverão ser instaladas em Uberlândia, Uberaba e Sacramento". (JM Online- 13/05/06) Comunicado nesse sentido foi assinado pelo Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Wilson Nélio Brumer, o presidente do Grupo, Carlos Lyra Neto e o diretor Robert Lyra. As três usinas terão capacidade para a moagem de três milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, devendo gerar 10,2 mil empregos diretos e indiretos e faturar, quando operando em plana carga, cerca de R$ 1,2 bilhão.

Sobre a arrecadação do ICMS, também não é grande coisa. A vizinha Conquista, que tem quase toda sua área plantada em cana, deveria ser a cidade mais rica do mundo. No entanto, arrecada pouco, muito pouco.