Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Uma usina de álcool ou de açúcar ou de é bom para Sacramento?

Ílio Borges de Araújo (*)

A propalada vinda da cana para Sacramento, encontra terreno ´fertil para sua aceitação, haja vista a crise que abate sobre os produtores rurais, mormente os de soja, com sérios problemas de produtividade e de valorização do real frente ao dólar. Neste caso, a cana como uma alternativa de cultura poderia ser bem-vinda. É bom lembrar que todos os negócios estão sujeitos a altos e baixos, especialmente os do produtor rural, porque além dos riscos normais de outros negócios dependem da boa vontade de “São Pedro”, ou seja, dos fenônemos da natureza. Aliás os produtores de café têm dado muitas lições para lidar com todas essas adversidades, plantam sabendo que terão pela frente oscilações de preços, anos bons e anos ruins, trabalham também com previsão do tempo, através dos institutos próprios.

Acho que temos que lutar com todas as nossas forças para nosso município não se transformar em monocultura de cana. Conhecemos muito bem os exemplos de cidades vizinhas; degradação do meio ambiente, sobrecarga dos serviços de saúde, de segurança, social e etc. É hora de todos os segmentos da comunidade se manifestar, os produtores rurais, comerciantes, professores e todos mais, porque conversa em botequins e esquinas não levam a nada a não ser a um desabafo.

São muito discutíveis as vantagens que trariam a instalação de uma usina de álcool ou açúcar para o município, senão vejamos as vantagens: incremento da arrecadação do ICMS, desenvolvimento, empregos, e o que mais? ICMS, alguém já pesquisou Igarapava, Conquista ou qualquer outra cidade vizinha para conhecer o real valor do incremento?
Então, publique!

Desenvolvimento para ser desenvolvimento, precisa ser sustentado senão, não é. E o que vem a ser isso? Primeiro, o lucro, ele vai ser reinvestido aqui? Claro que não. Os usineiros não vivem nesta cidade. Emprego, será que vão dar aos cidadãos daqui? Também, não acredito, pois a maioria dos empregos são para cortadores de cana, que ganham por tonelada cortada, chegando a trabalhar de 10 a 14 horas por dia. É uma atividade pesada e com pouco ganho, geralmente são nordestinos da área seca, que enfrentam essa parada, sobrando para nós alguns poucos cargos de menor qualificação, pois técnicos e administradores virão de fora. Aumento da população dos que vêm de fora, cheios de ilusões, e da forte migração que teremos da área rural.

Desvantagens: degradação do meio ambiente, ônus para a estrutura de saúde, para a estrutura social, para a estrutura de limpeza pública. E, pior de tudo, estando eles já instalados aqui, fica mais fácil ir tomando toda a área do município de forma a torná-lo uma monocultura e aí também um adeus a nossa propalada vocação turística.

Força eles têm, econômica e política, atrás disso estão deputados e até governadores. Portanto, a hora de discutir é agora e não depois chorar o leite derramado. Tenho notado esforços de algumas autoridades e cidadãos municipais no sentido de que a entrada da cana obedeça alguns princípios, como o Promotor de Justiça, o Vereador Aristócles Borges da Matta (Papinha) com o seu Projeto de Lei, o Vereador José Carlos Basso De Santi Vieira (Fofão), propondo e conseguindo uma audiência pública, Sr. João Oswaldo Manzan com seus abaixo-assinados.
Esse projeto de lei do Papinha, aprovado por unanimidade pela Câmara, Oxalá tenha por parte da secretaria de Agricultura do Município e do Codema toda a força e rigor da fiscalização, pois se não houver controle, a monocultura tomará conta.

Ao escrever essas linha move-me o amor a essa cidade que nasci e também escolhi para viver. Acredito também com toda fé nas pessoas de bem em nossas autoridade, esperando que elas saberão defender uma cidade de tanta história e cultura, e que, com certeza, todos querem o seu bem.

(*) Ílio Borges Araújo é presidente do Credicoasa