Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Os guardiões: do leão e do povo

Hildeberto Júlio Castanheira (*)

"Quando falo da importância da Previdência Social para as pessoas , o que mais ouço é que 'lá é tudo ladrão, a gente contribui e eles roubam' ". (conforme Dr. PAULO DE TARSO DE SOUZA VIEIRA, em seu artigo: "Previdência Social ruim, mas pior sem ela", neste espaço do dia 25.06.2006, que termina assim: "Por fim, mesmo que possa ser uma utopia, acredito que a Previdência Social de nosso País venha um dia a ser justa, coerente e sem distorções. Basta que os governantes criem vergonha na cara e nomeiem técnicos competentes (GUARDIÃES) para, aos poucos, acabarem com tanta coisa ridícula" (Destaques e parênteses meus).

Concordo com tudo que está dito naquele artigo, sem compartilhar no entanto, da esperança que transcende de seu autor, no final dele. Artigo que, desde seu começo fez lembrar-me da "PARÁBOLA DO LEÃO CATIVO", que está em "ANTOLOGIA DA LITERATURA UNIVERSAL LENDAS, FÁBULAS E APÓLOGOS Seleção, organização, tradução e notas de YOLANDA L. DOS SANTOS e CLÁUDIA DOS SANTOS, VOLUME IV, 9ª edição/LIVRARIA E EDITORA LOGOS Ltda., de janeiro de 1964, páginas 189/190, sem nome do autor mas esclarecido entre parênteses: (Tradição dos felatas).

Eis a parábola:
"Era uma vez um sultão, que aprisionou um leão e resolveu guarda-lo para seu prazer. Nomeou um funcionário para cuidar do animal, para cujo sustento se comprometia por ordem do imperador, a entregar, diàriamente, seis libras de carne. Imediatamente, o guardião pensou que não prejudicaria a ninguém se alimentasse o seu mudo protegido (o povo) com quatro libras de carne, guardando as duas restantes. Assim o fez, até que a pouco e pouco o garbo e a fôrça do leão diminuíram de tal maneira que chamou a atenção do sultão: 'Algo de estranho acontece', disse ele.'Nomearei um funcionário superior para ter a certeza de que o primeiro cumpre fielmente o seu dever.

Apenas realizada esta determinação, o GUARDIÃO dirigiu-se a seu superior, que prontamente o convenceu de que a carne estaria muito melhor empregada, ficando com as duas libras em lugar de alimentar com elas o leão.Combinaram, pois, guardar o segredo e repartir entre eles a carne..."

E a parábola segue, contando que o Leão continuou enfraquecendo, e o sultão nomeando mais um e mais outro funcionário que vigiassem os primeiros até que
"Dessa maneira, o leão continuou padecendo, quase morto de fome, despojado e saqueado pelos GUARDIÃES que haviam sido nomeados para cuidarem dele, mas que, quanto maior o número, mais padecimentos lhe causaram". "Eis um exemplo do que é comum verificar-se na coisa publica". (Destaques da Editora e meus).

Quando substituindo o Revm°. Pe. Beltrame, em suas férias, no Programa Sementes de Fé, da Rádio Sacramento, ao tempo do final do Governo SARNEI, falando sobre as diversas maneiras de exploração do homem pelo homem, citei, como das mais repugnantes, porque recaia justamente sobre os miseráveis da Previdência Social, aquela que na época era notícia que ocupava as páginas dos jornais e as telas de nossas televisões: o rombo de milhões de dólares feito na Previdência Social, sorrateiramente, através de COMPRAS SUPERFATURAS DE INSTRUMENTOS HOSPITALARES.

Transcrita em parte a PARÁBOLA DO LEÃO CATIVO, e relembrado o fato que era notícia no final do Governo SARNEI, sem esquecer outros mais, como os "anões do Congresso; etc. etc. etc., penso poder indagar: nossos GUARDIÃES "pagadores e recebedores de mensalão; cuequeiros; sanguessugas; Lalaos; comparsas de GEORGINAS; vendedores de sentenças; etc. etc. etc., ocupando cargos nos Três Poderes da Nação, são diferentes dos guardiães do leão? Creio que não. E por isso é que não posso compartilhar da ESPERANÇA de Dr. Paulo de Tarso de Souza Vieira, por ele manifestada NO FINAL DE SEU ARTIGO acima referido e transcrito em parte. Infelizmente não.

(*) Hildeberto Júlio Castanheira é advogado militante; Ex-vereador de Sacramento, de 1963 a 1976, exceto legislatura 1971/72, inclusive com exercício da Presidência em 1965.