A Praça é do povo
Já dizia o poeta. Menos em Sacramento, onde os prefeitos em toda história mais recente do município primam por desrespeitar esse espaço destinado aos passeios vespertinos da população, às correrias das crianças, aos beijos dos namorados, às retretas, serestas, primeiros encontros... Ihh!!! Fui longe. Fora o saudosismo piegas, o que quero dizer é que em Sacramento parece que prefeito tem birra de praça. 'Há uma praça, sou contra!!' - e tasca-lhe uma obra.
Sou do tempo em que a praça do Areião, assim mesmo com 'i', era uma imensa gleba de mais de 10 mil metros quadrados entre os córregos Benjamim e Jacá, no bairro que recebe hoje o nome de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Ali, lá pelos anos 70, quando 'em nome do progresso', levaram a urbanização para o imenso campo de areia e grama, palco de alegria da garotada que nadava pelada na Voltinha e no Chorão, começaram a engolir a praça. Primeiro uma rua atravessando o logradouro, depois uma Igreja, um parque infantil, uma escola, um posto de saúde e uma quadra de esportes, transformada hoje em galpão.
Querem mais exemplos de 'falta de afeto' (é assim que traduzo essa malfadada palavra, 'desafetação') por nossas praças públicas. Eu era moleque, bom de bola, e não perdia um 'rachinha' na praça da Cadeia. Um imenso campo forrado de grama, vendo-se ao Norte, a Cadeia Pública; à Leste, a Caixa D'Àgua e o Asilo dos Velhos, da Da. Sebastiana, mãe do Lazin; ao Sul, o saboroso pé de ingá, em frente à casa do Sô Tão; e, a Oeste, a Santa Casa, ainda com sua histórica fachada original. “Belos tempos, belos dias”... E, mais uma vez, em nome do progresso, construíram ali a Rodoviária da cidade. Restou um pequeno jardim com alguns bancos e poucas acácias. E não contente, o próximo prefeito, mais uma vez em nome do progresso, reformando aquele terminal, no lugar da pracinha, construiu o pátio de manobra para estacionamento dos ônibus.
A saga destruidora e de poder dos prefeitos continuou anos a fora. Na belíssima praça da Gameleira (praça Idalides Milan de Rezende) onde essa árvore reinava como um baobá africano, o lenhador impiedoso, que sempre confundiu, 'assumir o governo' com 'assumir o poder' deita o machado na frondosa árvore, erguendo no local a E.M. Maria Crema, transformada mais tarde na UBS Aracy Pavanelli. Com orgulho, o político inaugura o seu monumento. O povo, humilde, omisso, mesmo esquecido, aplaude... E nós cobrimos com fotos, palavras e raiva o status de seu poder.
Pouco depois, nos anos 80, o médico Milton Skaff doa ao município, pelos loteamentos abertos, outros 10 mil metros quadrados de área, com a finalidade de se construir no local uma praça pública, que recebeu o nome de praça Monsenhor Saul Amaral. Alguém sabe onde fica? Ninguém sabe, porque, na verdade, ela não existe. No local, o prefeito de então, construiu o Ginásio Marquezinho e a Escola Municipal Maria Crema. Da área verde reservada ao povo, restou apenas o nome do grande e saudoso vigário.
Assim, obediente à saga destruidora de seus antecessores, o prefeito atual constrói uma obra pública na já minúscula praça do Residencial Jardim Alvorada. Tem razão a jovem Simone Borges ao afirmar que a obra deveria estar sendo construída nas glebas destinadas para esse fim, conforme determina lei. “Se já usaram essas duas áreas para esses fins específicos, deveriam procurar outro local, nunca no meio da praça que tem também pela lei um fim específico”, lembra com sabedoria a representante dos moradores. Mas os 'donos do poder' não entendem assim.
Me volto a Castro Alves. Sim, 'a praça é do povo'. Menos em Sacramento, principalmente pela falta de sensibilidade e respeito do prefeito, dos vereadores e do promotor público em relação ao povo e ao meio ambiente. (WJS)
Anonimo