Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Aqui é sempre primavera

Os homenageados desta noite – comendadores, novos cidadãos honorários e congratulados – sentimos-nos agradecidos ao Poder Legislativo de Sacramento, pela honraria que nos acabam de oferecer. Os méritos podem não ser exímios, mas a gentileza da homenagem não tem peso nem medida possíveis, pela magnitude do gesto. Um “muito obrigado” alto e sonoro nosso aos membros do Legislativo desta cidade de Sacramento. Agora, permitam-me proclamar, somos com muita honra, membros da comunidade sacramentana.

Ditadura é arbítrio, é escravidão, é humilhação, é brutalidade...

Senhores, duas palavras: a primeira sobre a situação política de nosso país. Depois de tenebroso inverno, de que os mais velhos nos lembramos, porque o vivemos, goza hoje o Brasil felizmente, já há bons anos, de vida democrática, isto é, de liberdade sob a égide da lei.

Se há desgraça para um povo é viver sob a arbitrariedade de uma ditadura. Ditadura é arbítrio, é escravidão, é humilhação, é brutalidade anti-humana. Com todos os defeitos com que os homens possam nodoar o regime democrático, é ele o melhor que a experiência humana conseguiu criar.

A Igreja, Mãe e Mestra, nos ensina que a consciência viva da dignidade humana é que leva a “instaurar uma ordem político-jurídica na qual os direitos da pessoas sejam mais amparados”. Entre estes direitos, realçam-se os de as pessoas “se reunirem livremente, de se associarem, de exprimirem as próprias opiniões e de professarem a religião em particular e em público” (G et Sp.73). São estes agrupamentos de famílias e indivíduos que formam a comunidade política, cuja existência se justifica pela busca do bem comum.

“A Igreja considera digno de louvor e consideração o trabalho daqueles que se dedicam ao bem da coisa pública a serviço dos homens e assumem os trabalhos deste cargo” (G et Sp. 75). É, para quem exerce cargo político, a mais autentica expressão da caridade cristã.

Esta é pois a Casa de Leis, onde se encontram os que buscam o bem comum da cidade, e por isto merecem eles a mais alta consideração, o maior respeito dos munícipes.

Na desconfortante situação atual do Brasil, onde o Legislativo nacional vem perdendo – se já não perdeu – o respeito e a necessária consideração do povo pelos seus evidentes escândalos, pela defesa anti-ética dos seus proventos e pela indiferença diante das necessidades da população, deve esta comunidade sacramentana sentir-se feliz e bem assistida pelos trabalhos dos atuais legisladores e, sobretudo, por saber que esta Casa é par ao povo de Sacramento a sua própria casa. Que Deus ilumine e abençoe os que aqui trabalham.

Aqui é sempre primavera

Uma segunda palavra, esta mais breve. Quando vim a primeira vez, como novo arcebispo em 1978 a esta cidade e, depois mais tarde aqui voltei para receber o honroso titulo de “cidadão sacramentano”, fiquei pensando como deveria descrever Sacramento, cidade com sua história e seus valores. Respondo a esta minha inquisição. Esta cidade, pelo seu nome de batismo, é uma cidade da Eucaristia. O senhor Jesus aqui tem de ser mais amado, mais adorado, mais querido, porque a cidade é sua e seu povo tem a honra de ser seu vassalo. Assim- penso – é Sacramento: a cidade da Eucaristia.

Mais ainda: numa comparação colorida de poesia, diria que no imenso jardim, que é o Estado de Minas, Sacramento é um canteiro de flores, atapetado de miosótis pequeninos e gentis, onde as rosas crescem e florescem abundantes, abertas para o azul do céu, rosas (como dizem ser as de Jericó) que nunca murcham. Aqui é sempre primavera!

(*) Dom Benedicto de Ulhoa Vieira é Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Uberaba