Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

A imaculada Conceição de Maria

Por: Pe. Luiz Carlos de Oliveira (*)

Melitão de Sardes, bispo, discípulo de João, falecido em 177, escreve em uma homilia sobre a Páscoa: “Este é o Cordeiro sem voz ... este é aquele que foi gerado por Maria, a pura ovelha”. Em tradição tão antiga, unindo Maria ao Cordeiro imaculado, sacrificado, reconhece nela a beleza da graça da Redenção. Faz eco às palavras de Lucas: “Alegra-te, cheia de graça”. Nela existe o favor divino. Quando Pio IX , em 1854, proclamou o dogma da Imaculada Conceição, não estava descobrindo novos ensinamentos. Estava reconhecendo o que a Igreja sempre acreditou. Lucas mostra em Maria a totalidade da graça, pois só assim pode gerar a Graça, Jesus Cristo. O Filho não poderia nascer na linha do pecado original dos primeiros pais. Ele é “Filho do Altíssimo”, não somente um filho de Adão a mais. Deus quis preparar uma digna habitação para seu Filho.

“Puríssima, reza o prefácio, devia ser a Virgem que nos daria o Salvador, o Cordeiro sem mancha, que tira os nossos pecados”. O Papa proclama: “A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original”. Com essas palavras indica a santidade original de Maria, não por mérito seu, mas por privilégio especial de Deus. Ela não está fora da redenção de Cristo, pois foi redimida pelos méritos de Cristo, como os que vieram antes de seu nascimento.

Maria não está sujeita ao pecado, mas participa da condição do povo que caminha para ser santo e imaculado aos olhos de Deus, no amor (Ef 1,4). Maria, de nossa raça, participa da santidade de Deus. Nós, humanos como ela, poderemos também chegar a essa vida em Deus. Não escapamos da mancha original, vivemos suas conseqüências, mas temos uma esperança: uma já abriu a brecha para todos. Podemos! Maria recebeu por dom especial.

Nós recebemos o mesmo dom, sendo libertados do pecado original pelo Batismo e sustentados pelos sacramentos na vida de amor da Igreja. O pecado de Adão e Eva no Paraíso, mostra o mal que corrói toda a humanidade. Maria torna-se o sinal de esperança para todos. Eva, a mãe de todos os viventes (Gn 3,20), levou-os à perdição, comendo o fruto proibido. Maria, a nova Eva, é mãe de todos os nascidos em Cristo, fruto da árvore da Cruz. Comemos do fruto da árvore da Cruz e estamos revestidos da Graça de Cristo. Vivemos a intimidade com Deus recuperada por Cristo.

A Imaculada Conceição de Maria não é somente um privilégio particular, individual. Ela coloca-se entre Jesus e nós. Jesus é o mediador da nova aliança (Hb 12,24). Maria é a mediação suplicante. Ela reza a Deus por nós e participa da mediação de seu Filho, pois, se Ele veio a nós por Maria, somos beneficiados com essa graça que ela, por insigne dom de Deus, nos deu com a Maternidade divina. Rezamos na oração da missa: “Concedei-nos chegar até vós, purificados também de toda culpa por sua materna intercessão” (oração da missa). No prefácio rezamos: “Escolhida... modelo de santidade e advogada nossa, ela intervém em favor de vosso povo”. Não há como deixar Maria fora do mistério da redenção de Cristo. Por isso celebramos sua Imaculada Conceição, nossa esperança e nosso futuro.

(*) Pe. Luiz Carlos de Oliveira é missionário redentorista