Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Por que estão cortando nossas árvores

Por Melissa R. de Oliveira

A cada dia que passa me pergunto e sinceramente não consigo compreender porque estão cortando as árvores de nossa cidade e me sinto triste pois os argumentos não me convencem. Pior, chego a conclusão que não têm motivo nenhum para praticarem tal ato.

Para não dizer nenhuma besteira ou correr o risco de cometer algum equívoco, tenho lido bastante sobre o assunto e descobri que temos diversas formas úteis e práticas de arborizar, sem antes vir com a desculpa “esfarrapada” de que isso possa, por exemplo, comprometer a fiação ou mesmo sujar a cidade como alguns incautos pensam.

Em primeiro lugar, a arborização exerce função ecológica no sentido de melhoria do ambiente urbano, embelezamento das vias públicas, conseqüentemente da cidade, sem contar com algumas contribuições que são importantíssimas na qualidade de vida dos cidadãos:
purificação do ar; melhoria no microclima da cidade; redução na velocidade do vento; influência no balanço hídrico (favorecendo a infiltração da água no solo); abrigo à fauna (propiciando uma variedade maior de espécies); amortecimento de ruídos.

Uma das mais freqüentes queixas é o fato das árvores comprometerem a fiação ou mesmo suas raízes crescerem de forma abusiva estragando as calçadas, calhas, muros e postes. Nada disso aconteceria se o poder público empregasse mão-de-obra qualificada e equipamentos apropriados. Em Ribeirão Preto, por exemplo, foram utilizados métodos inteligentes para rearborizar a cidade, dando considerável atenção às reais necessidades de um manejo constante. Sei que se trata de um trabalho que envolve profissionais da área, boa vontade e informação nas etapas que incluem o plantio, condução de mudas, podas e extrações necessárias. É preciso considerar também a existência de uma legislação municipal específica e medidas administrativas voltadas a estruturar o setor que irá executar os trabalhos.

Mas chega de assuntos burocráticos que, na verdade cabem mais aos órgãos competentes e profissionais especializados. Minha preocupação maior é com as pessoas que tratam do assunto com enorme descaso, permitindo que cortem árvores em frente às suas próprias casas. Talvez o problema seja mais sério e profundo do que se pensa, pois não é somente o simples fato de cortar ou não uma planta que irá mudar a situação. É preciso de sentimento, de contemplação, e sobretudo respeito por essas árvores. É necessário encontrar o verdadeiro valor que elas têm.
Em 2004 tive o privilégio de conhecer Maringá. Fiquei fascinada pelas suas árvores. São lindas! A cidade é coberta por várias espécies delas, que encantam, valorizam e dão um ar ainda mais especial ao lugar. Ao mesmo tempo via nas pessoas o interesse e a importância que dão ao plantio e replantio das mudas. Nota-se uma preocupação em relação ao assunto. Acho que aí mora a diferença.

Bem, no fundo esse texto foi somente um desabafo. Queria muito que fosse visto com bons olhos. Foi uma forma que encontrei de falar sobre um assunto que é tão pouco explorado pela população de Sacramento. Certa vez, Rubem Alves escreveu este trecho que jamais esqueci:
“Enquanto depender de mim, as árvores ficarão lá. Porque tenho medo de que, se elas forem destruídas, a minha alma também o será”.

Por fim, fica a pergunta no ar: “Será que não é isso que o progresso e a educação estão fazendo com nossas mentes e almas: transformando a beleza selvagem que mora em nós, em seres não dotados de conscientização, gerando assim um povo medíocre, egoísta e sem essência?...”