Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Como vale a pena lutar por um sonho

Maria Bethânia Silva Melo (*)

Vou contar um pouquinho da história de Glauciele e Camila, atletas formadas nas escolinhas da URS. Camila Brait, quando começou era bem pequenina, mas queria de qualquer maneira jogar com as grandes. Ficava lá catando as bolas e enchendo a paciência, pedindo pra eu deixá-la jogar um pouquinho... Pra ela nunca tinha tempo ruim, tudo era muito divertido, menina de astral elevado, de um pique espetacular, nunca se cansava de treinar. Eu acabava o treino, e olha que era puxado, e ela pedia mais, sempre mais, fazia de tudo queria sempre aprender. Se deixasse, ela mesma levantava e atacava, de tão ´fominha´ que era.

O seu lado cômico vale também ressaltar. Super divertida, encarregava-se sempre de dar todos os 'botes' do grupo, e todo mundo aprendeu a amá-la. Foi uma história muito bonita a que ela construiu. Foi campeã 11 vezes, em 13 títulos que disputou. Melhor líbero, no campeonato brasileiro de 2004, no Pará; e em 2006, em Brusque. Foi para o treinamento da Seleção Brasileira, mas sabia que sua jornada não seria fácil, teria que desbancar a campeã mundial, Martina, mas Camila lutou e aproveitou todas as pequenas oportunidades. Foi guerreira e venceu!
Agora, aquela menina que cresceu jogando vôlei em Sacramento, naquele time lindo que honrava a camisa de Sacramento, honra a todos os sacramentanos vestindo a camisa da Seleção Brasileira! A Glau, desde novinha era enorme, até um pouco desengonçada, tinha as perninhas tortas. Ela foi indicada pela Lucy Feliciano, pois estudava lá no Barão. Fomos lá e a convidamos.

Menina tímida, mas de um coração enorme e maravilhoso. Começou seus primeiros passos no vôlei nas mãos de Bebel Feliciano, Juliana Cruvinel e Denise Garcia. Ela, lógico, tinha suas dificuldades, por ser muito grande, mas por outro lado mostrou sempre um potencial enorme para ser trabalhado. Seu bloqueio era nato, não tinha defeito, ela já veio nasceu assim e fomos trabalhando.

De repente, Glau sumiu dos treinos. Aí, adivinha quem foi atrás da família, conversou e a fez voltar, o Dr. Biro , ele que sempre soube dar valor a todas as coisas. Ele que sempre valorizava tudo, sabia que ela tinha um potencial a ser desenvolvido. Acreditou nela. Glau voltou e daí pra frente foi só sucesso, foi amadurecendo, virou guerreira, aprendeu que não existe nada fácil, correu atrás, sempre disposta e feliz. Glau morava lá no Cervato II, andava muito, de casa pra escola, da escola pra casa e de casa pro ginásio do Rosário, mas estava motivada, pois já mostrava o seu potencial nos joguinhos do Pré-mirim.

No ano seguinte, o governo de Biro acabou. O novo governo desmantelou o vôlei e as meninas foram embora E eu também. E eu sabia que ela não podia parar. Assim que me organizei em Patrocínio, decidi ir buscá-la para o meu time. Ela morou comigo e foi além de atleta, uma grande companheira. Passamos momentos difíceis, mas o melhor de tudo veio: vencemos. E Glau teve seu primeiro título estadual e foi eleita a melhor atleta do Campeonato Estadual de Vôlei, em 2005, pelo Catiguá. Em julho deste ano, foi escolhida entre noventa meninas na seletiva. O técnico Rizola, de cara, gostou dela. Glau foi para Saquarema e daí pra frente começou outra luta, ficar entre as 12 melhores do país... E ela se esforçou, foi de uma força de vontade incrível e conseguiu... E lá está ela, tão jovem, a única mineira e sacramentana a fazer parte da Seleção Brasileira de Vôlei Infanto-Juvenil. É pra gente se orgulhar, não é mesmo?

Glauciele e Camila, hoje, jogam pelo Praia Clube, de Uberlândia. Glau é capitã da equipe Infantil e Camila é líbero da equipe Juvenil. Aí estão dois grandes exemplos de que lutar por um sonho vale a pena. Parabéns por suas conquistas e que isso seja só o princípio... Estou muito, muito, muito feliz por vocês!

(*) Maria Bethânia é professora de Educação Física, ex-técnica da URS, hoje treina as equipes de ponta do Praia Clube, de Uberlândia