Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Aborto

por José Américo de Souza

No ato da fecundação, na fusão dos gametas do pai e da mãe, espermatozóide e óvulo, origina-se o embrião, organismo em estágio inicial de desenvolvimento da pessoa: A Ana ou o João, nascituro, que há de nascer. Está formada a pessoa. Corpo e Alma. O indivíduo. Unidade distinta, chamada embrião. Mas já é a criança menina, menino! E é bom lembrar que o espermatozóide tem motilidade, é móvel, tem vida. No microscópio ele se parece muito com um girino, ovo de sapa, em movimento dentro d'água.

O filho não é algo devido, mas um dom. O "dom mais excelente do matrimônio" é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, o que conduziria o reconhecimento de um pretenso "direito ao filho". Nesse campo somente o filho possui verdadeiros direitos: "o de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção" (C.I.C., item 2378).
O respeito para com a pessoa humana, a honra, o sentimento de dignidade própria que leva o indivíduo o procurar merecer e manter a consideração geral, desaparece no aborto provocado sem motivo forte, e desonra a pessoa aborteira.

A vida é dom do Criador. Esta energia que não pode ser criada, mas apenas transformada é essencial para que algo subsista. Não pertence ao homem, mas a Deus. O aborto, o crime nefando de abortar, contradiz a natureza, o amor.

É a modernidade, coisa do tempo atual, dirão. Ora, moço! O sol, a lua e as estrelas, por acaso são modernos? Existem, sim, ótimas coisas modernas, meus dez netos, por exemplo. E ótimas coisas antigas, meus avós e pais que se foram. A terra, olhos d'água, rios e mares.
Quando não se respeita o ser humano nos primeiros estágios de desenvolvimento, a vida no seio materno, indefesa, o que se pode esperar dessa pessoa, o que mais vai respeitar? Se não respeita a vida, convenhamos, respeitará mais alguma coisa? Terá consciência moral? Esta "faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição de se praticarem determinados atos, e a aprovação ou o remorso por havê-los praticado?" (Aurélio). Aquele que tira a vida de alguém é assassino. O mundo inteiro, de ponta a ponta, poderá legalizar o aborto, mas ele continuará sendo assassinato e, o que é pior, assassinato "legalizado". Nunca, jamais, legítimo. E se o feto, vítima do desmancho, tivesse meios de reação, pergunta-se, existira tanto aborto? Claro que não, o aborteiro é um covarde.

A humanidade ou a benevolência é própria do homem, do ser humano em geral. O contrário é próprio do bandido, indivíduo sem caráter e de maus sentimentos. Aquele que tira a vida de um semelhante seu é justo, misericordioso e fiel? Claro que não.
É dever da família, pai, mãe e filho ou pais adotivos, com absoluta prioridade, resguardar o direito à vida ... Sim, está em primeiro lugar a vida da criança. E esta criança começa no seio materno, desde o embrião, a sua, a nossa origem.

Aborteiro, aborteira! Monstro cruel que excede tudo o que se possa imaginar! Bandido, bandida! Prepare-se para o acerto de contas dos abortos hediondos praticados. Deus nos perdoa, o homem alguma coisa, mas a natureza tudo nos cobra. A vida é dom de Deus. Nunca, jamais, foi brinquedo.
Lembro-me, faz tempo, assistindo a um filme da vida de Jesus, na cena do martírio dos inocentes, quando Herodes irado mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo. Lembro-me muito bem, quase todos os espectadores ao meu redor choravam. Por que incomodamos mais com o que enxergamos? Com o que vemos? O que está oculto aos nossos olhos não contém uma criança? Não é um menino? O aborto, a ação cruel de abortar, não é um ato monstruoso, como monstruoso foi o ato de Herodes? Aqui não existe diferença nenhuma, é igualzinho, a mesma coisa, os inocentes continuam ainda a ser impiedosamente massacrados.

O desejo sexual, esta energia motriz dos instintos de vida, isto é, de toda a conduta ativa a criadora do homem, o amor eros, não pode ser estimulado com recursos desonrosos como aborto, inversão, preservativo, etc.. O ato sexual, amor libido e acasalado, homem e mulher, compreende dever e responsabilidade moral pela prática de ato voluntário. Este amor casal é indivisível em relação ao filho.
Agindo, acordando ou dormindo, no lazer ou no trabalho, devemos inspirar responsabilidade pela vida... Difundir a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Não ficar absorto. Mas praticar o bem, amar as virtudes e evitar o aborto.
José Américo de Souza