Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

As maiores pandemias do mundo

Edição nº 1735 - 03 de Julho de 2020

A Peste Negra

No inconsciente coletivo da humanidade é a Peste Negra que fornece, ainda que tão disțante, as narrativas mais medonhas. Não sem razão. Com pico entre 1347 e 1351, a praga dizimou um terço da população da Europa. Historiadores chegam a falar em 200 milhões de vítimas. O século XIV não tinha a menor ideia da existência de uma gama de microrganismos - bactérias, vírus, fungos - capazes de decretar moléstias e óbitos.A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis, transmitida ao ser humano através das pulgas (Xenopsylla cheopis) dos ratos-pretos (Rattus rattus) ou outros roedores.

A Gripe Espanhola

As baionetas e as metralhadoras se calavam no front ocidental, antecipando o armistício que seria assinado em novembro daquele ano de 1918, final da 1ª Guerra Mundial. Mas outro flagelo mais mortífero do que a guerra começava a se disseminar pela Europa, assim como pelas Américas e pelo Oriente. Faz 102 anos. A patologia continua derrotando a ciência. As gripes continuam, com seus vírus mutantes, desafiando o conhecimento científico. A decifração genética é um tremendo progresso, mas não basta. 

A população mundial era de 1,9 bilhão, em 1918. A gripe, erroneamente chamada de 'espanhola', com o vírus H1N1 ceifou de 20 milhões a 40 milhões de vidas; alguns falam entre 40 a 50 milhões. A propagação foi fulminante. Nenhum país escapou. Em meses, a moléstia fez mais vítimas do que os quatro anos de conflito mundial. Um número maior de americanos morreu naquele curto período de tempo do que na Primeira Guerra, na Segunda, na da Coreia e na do Vietnā, todas somadas.

O Brasil entrou na foto tendo o Rio como vetor, mas o vírus veio da Europa, a bordo do navio Demerara. O transatlântico desembarcou passageiros infectados no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro. A então capital do Brasil ainda estava traumatizada pela campanha higienista pilotada por Oswaldo Cruz, em 1904. A jovem República decretou a vacinação obrigatória contra a varíola e parte da população reagiu com violência. Em suas refregas de rua, a Revolta da Vacina fez 30 mortos e 110 feridos. Em 1918, não havia nem vacina nem Oswaldo Cruz. Houve 35 mil mortes. No Brasil, o vírus mortal gosta das altas esferas. 

Uma das vítimas foi ninguém menos do que o presidente Rodrigues Alves. Em Sacramento há o registro da morte do mais influente médium espírita da cidade e região, o professor Eurípedes Barsanulpho. Segundo o livro de Corina Novelino, 'Eurípedes, o Homem e a Missão', o professor morreu vítima da gripe Espanhola ao ser infectado por um hóspede do Hotel do Comércio que estava sob seus cuidados.

A Espanha ficou com a duvidosa fama de ter iniciado o ciclo letal. Nada mais injusto. Os países beligerantes censuravam as informações sobre o vírus para não comprometer o moral das tropas; e a Espanha, país neutro, podia divulgar as estatísticas sombrias. De mais a mais, foi na Espanha que o vírus alcançou o mais nobre estrato, ao infectar o rei Alfonso XIII. Sua Majestade escapou por pouco. 

A origem geográfica da gripe continua sendo motivo de debate, embora diversas hipóteses apontem para outros países da Europa ou do Leste da Ásia, inclusive a China, que, paradoxalmente, teve baixo número de vítimas. Alfred W. Crosby, o mais empenhado historiador da gripe, acabou por trazer uma conclusão que invertia o fluxo do vírus. A gripe originou-se nos Estados Unidos. Os americanos entraram na guerra em 1917; suas tropas podem ter atravessado o Atlântico levando vírus em fase de incubação. 

O que há de consenso em relação à gripe espanhola é que foi a mais devastadora pandemia da época moderna e que o atual surto, Coronavírus, por mais amplificado que venha a ser o pânico, não lhe chegará aos pés. 

Os sintomas da doença eram muito parecidos com o atual coronavírus Sars-Co V-2, e não existia cura. Em São Paulo, a população foi atrás de um remédio caseiro feito com cachaça, limão e mel. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha. 

A gripe aviária 

Igualmente classificada como pandemia, a gripe aviária, de 1968, após se espalhar a partir de Hong Kong pelo Vietnã, Cingapura, Filipinas, Índia, Austrália, África do Sul e até a América do Sul. Nos Estados Unidos, o vírus desembarcou como efeito colateral da Guerra do Vietnã. Colheu 100 mil vidas. O que a distinguiu das outras é que veio em ondas - um surto, mais um, um terceiro, a cada um correspondendo um vírus mutante, diferente do original.

Ainda hoje, por precaução, equipes de infectologistas da OMS varejam o Sudeste Asiático vacinando galinhas.

 A gripe suína 

A gripe suína, de 2009/2010, ela também, mereceu da Organização Mundial da Saúde o macabro status de pandemia. Com origem na China, de 150 mil a 575 mil mortos estimados – e o mesmo vírus da gripe de 1918, o HIN1 e seus subtipos.

Até a segunda metade do século XIX (1875) a medicina se limitaria a prescrever sangrias inúteis, ventosas e até sanguessugas. A religião, sempre disposta a incutir culpas, falava em pecado. O pânico produziu fluxos migratórios então desconhecidos. As pessoas fugiam, em bandos e sem rumo certo. Em Praga, na então Tchecoslováquia, um escritor muito imaginativo recolhia-se ao leito e sonhava que se transformara em inseto. Franz Kafka teria quatro anos de sobrevida, mas a morte ficou impressa na sua literatura.

 Varíola

A doença atormentou a humanidade por mais de 3 mil anos. O faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida ‘bixiga’. O vírus Orthopoxvírus variolae era transmitido de pessoa para pessoa, por meio das vias respiratórias. Os sintomas eram febre, seguida de erupções na garganta, na boca e no rosto. Felizmente, a varíola foi erradicada do planeta em 1980, após campanha de vacinação em massa.

 Cólera

Sua primeira epidemia global, em 1817, matou centenas de milhares de pessoas. Desde então, a bactéria Vibrio cholerae sofre diversas mutações e causa novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos e, portanto, ainda é considerada uma pandemia.

Sua transmissão acontece a partir do consumo de água ou alimentos contaminados, e é mais comum em países subdesenvolvidos. Um dos países mais atingidos pela cólera foi o Haiti, em 2010. O Brasil já teve vários surtos da doença, principalmente em áreas mais pobres do nordeste. No Iêmen, em 2019, mais de 40 mil pessoas morreram devido à enfermidade.

Os sintomas são diarreia intensa, cólicas e enjoo. Apesar de existir vacina contra a doença, ela não é 100% eficaz. O tratamento é à base de antibióticos. 

   (Fontes: Nirlando Beirão, Letícia Rodrigues/ Internet/Wikipédia, Redação ET)