Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

No dia da festa, 7 mil devotos passam pela Capela do Divino

Edição nº 1523 - 24 de Junho de 2016

“Foi uma das maiores festas ao longo dos últimos 22 anos. Não contamos, mas com certeza, mais de 7 mil devotos passaram pela Capelinha do Divino, pois distribuímos quase oito mil refeições”, disse Toizinho Bizinoto, um dos voluntários do evento religioso. A partir das  2h30 da madrugada, os primeiros romeiros que fazem a caminhada de 22 quilômetros
pela velha estrada do Cipó, já estavam partindo da cidade para a Romaria dos Devotos.  Às 7h, partiram os ciclistas e, às 9h, a cavalgada, todos chegando a tempo da Missa  campal concelebrada na porta da Capelinha do Divino.  Na sua homilia, o concelebrante, Pe. Reinaldo Martins de Oliveira, refletiu sobre o Evangelho de Mateus (6,24-34), uma das páginas mais bonitas do Novo Testamento.

 “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. A vida não é mais do que o alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?...”
O missionário redentorista de Trindade, que acompanha a imagem milagrosa do Divino Pai Eterno Brasil afora, destacou na sua pregação a importância da fé e do zelo nas coisas de Deus, aliada à Festa do Divino de Sacramento.
 “- Estamos vivendo um tempo de festa, tempo de renovação da nossa fé, da nossa esperança. Foi por isso que aqui vimos, porque por meio dessa imagem peregrina, vocês e eu, todos nós, podemos nos renovar, nos alimentar da fonte que é o próprio Deus, a quem, carinhosamente, chamamos de  Divino Pai Eterno. É Deus quem  nos renova e nos enche o coração de esperança e fé, para vivermos como filhos de Deus, conforme nos orienta o Evangelho de Mateus”.
 No final da concelebração, em entrevista ao ET, Pe. Reinaldo lembrou que a devoção ao Divino Pai Eterno começou em 1840, quando um casal de agricultores, Constantino Xavier Maria e Maria Rosa de Oliveira encontraram um medalhão de barro, onde estava representada a Santíssima Trindade coroando  a  Virgem Maria. O medalhão foi levado para casa e começaram a rezar. A notícia foi se espalhando e, aos poucos, outros moradores locais passaram a rezar junto à Santíssima Trindade. A devoção veio num crescente e não parou mais.
“- A imagem é peregrina, ela visita o Brasil inteiro, a convite dos párocos, bispos... Esses convites sempre foram atendidos e assim a devoção vai se estendendo  há 176 anos”, afirma ao lado de irmão José, que morou em Sacramento por dez anos, nos tempos do Seminário do Santíssimo Redentor, e há 22 acompanha a imagem peregrina a Sacramento. “Irmão José é um grande missionário redentorista e peregrino e é graças a ele que o Pai Eterno continua vindo a Sacramento’’, destaca Pe. Reinaldo, revelando que quando chega maio, Ir. José vem alertando:  ‘Chegou a época’, 'está pronto?, está pronto?'. Ele não deixa de trazer a imagem”.

 

Os festeiros...

A grandiosidade da festa acontece graças a ajuda de muita gente, coordenada este ano por 14 festeiros: Adauto Elias dos Santos, Benedito Cândido Machado, Cairon César Santana Mota e Renata R. Bizinoto Mota, Carício Bianchini dos Santos, Catarina Auxiliadora Bizinoto, Eduardo Alves Neto, Gabriel Bizinoto, José Antonio Rodrigues, Márcia Adriana Costa de Oliveira, Márcia Cristina Bizinoto, Maria de Lourdes Borges, Rildo Bizinoto e Romilda Santos Borges.

 

“Mais um ano,  dizia papai”

Maurílio Juvêncio Bizinotto, em nomes dos familiares, repetiu as palavras do pai, Juvêncio Bizinoto: “Mais um ano!” – dizia ele.  “É verdade, e continuamos repetindo: 'mais um ano!'. Graças a Deus, tudo acontece como foi idealizado, com tantos romeiros desde as primeiras horas da manhã. Homens, mulheres, crianças e jovens, muito jovens e isso é gratificante. A cada ano a fé vai sendo renovada e nós só temos que agradecer”. 
De acordo com Maurílio, na mensagem aos presentes, após a missa, disse que o costume de servir o almoço foi ideia do saudoso Juvêncio. “Papai, que peregrinou até Trindade, foi pedindo comida pela estrada afora... E quando começou a festa aqui, ele disse que todo ano daria comida aos participantes. E essa tradição vai continuar, se Deus quiser”.
 Em entrevista ao ET,  segundo Maurílio, a família  têm projetos para melhorar a infraestrutura do local, já pensando nos 25 anos da festa, em 1919. “Já para o próximo ano, pretendemos fazer algumas melhorias, algumas coisas permanentes. Uma delas, é uma estrada para pedestres. Causa preocupação o trânsito de pedestres e veículos da estrada até o local da festa. A plantação de  cana vai terminar e aí poderemos fazer uma estrada alternativa”, afirma, lamentando as condições da estrada.
“- Aqui dentro da fazenda fazemos a nossa parte, na medida do possível, mas este ano me assustou muito a falta de apoio do poder público, que sempre melhorou a estrada que dá acesso ao local, até mesmo jogando água para apagar a poeira e este ano o serviço não foi realizado”.

 

A gente vem pela fé...

Conversando com alguns romeiros que participaram da Romaria dos Devotos, o ET ouviu muitos depoimentos, todos sempre agradecidos e motivados pela fé...

* Os jovens Humberto Vicente 19, José Reinaldo 16, Débora Luiza 15 e, Bárbara Almeida 22, há cinco anos fazem a romaria a pé até o sítio. Débora Luiza veio de Franca pelo segundo ano, para se juntar ao grupo. “A gente vem pela fé, pedir proteção, agradecer”, afirma Humberto, garantindo que são de fato católicos e não só na Festa do Divino Pai Eterno.

* Maria José de Jesus, acompanhada do filho Geovane e das amigas, Lila e Luciana vêm de carro, anualmente. Motivada pela fé, Maria subiu o íngreme Morro do Cristo para rezar e agradecer. “Sempre tive vontade de ir a Trindade, mas nunca pude, então eu venho aqui. Pra mim, aqui é  o lugar do Divino Pai Eterno. E sempre tive vontade de subir o Morro do Cristo e  este ano consegui. Enquanto não posso ir ao santuário, a  fé nos move até aqui”. 

* Raimunda dos Santos Medeiros veio de Araxá, para pagar promessa e agradecer. “Tive um AVC, passei muito mal e fiz a promessa. No ano passado vim agradecer, subi lá no Morro do Cristo chorando de emoção. E este ano fui mais alegre ainda, porque sei que estou curada”, explica, justificando a braçada de Calandra do Cerrado, mais conhecida como 'canela de ema', uma planta que, segundo ela, serve para melhorar o reumatismos e dores de coluna.

 

* Vânia Cristina Gomides Soares e Aparecido Antônio Soares (Tito) integraram um grupo de  33 pessoas que saiu do povoado de Jaguarinha às 3h da manhã e, por volta das 9h30, estavam chegando para a missa. “A primeira vez a gente veio pagar promessa, viemos a cavalo, mas este é o terceiro ano que vimos a pé. E é uma jornada:  descida, subida e pedras”, explica Vânia, e Tito completa: “A gente passa pela região do Tatu, são cerca de 28 a 33 quilômetros. Para isso, temos uma equipe de apoio com água, café, lanche... E tudo é muito bom. Cada um vai saindo de sua fazenda, do local onde mora para um ponto de espera.  À medida que vamos passando  o pessoal vai se juntando.  Graças a Deus nunca aconteceu nada de ruim, só coisas boas. Aqui, a gente reza, agradece, pede bênçãos pra todos nós e pra quem ficou. Depois do almoço,  voltamos felizes”.

* Maria Elizabete Orneles de Souza, a Bete, técnica e enfermeira e também bombeiro voluntário do Grupo Verdade Sagrada,  era uma dos dez integrantes do grupo a ajudar na festa a convite dos festeiros.

* As amigas Brenda Maria e Ayla Fontes, ambas de 13 anos, participaram da Romaria dos Devotos pela terceira vez, acompanhadas dos padrinhos de Ayla, e amigos. “A gente vem, porque gosta e vem para se divertir... 'Divertir?' – perguntamos – ao que respondeu: “Não, também pra rezar, porque a gente tem fé no Divino Pai Eterno”.

* Maria Conceição
acompanhava o marido, Osvair Ferreira da Costa, que participa da Romaria dos Devotos, de bicicleta, há sete anos, mas este ano foi de carro, devido a um acidente, quando trabalhava na roça. Uma das facas da roçadeira se soltou e atingiu sua perna. “Sou devoto do Divino há muitos anos e por causa de uma promessa venho todo ano a pé ou de bicicleta. Este ano machuquei, mas não podia deixar de vir, meu cunhado me trouxe. No ano que vem, se Deus quiser, eu volto.”

“- Nosso trabalho aqui hoje está voltado para a área de enfermagem e, também, como bombeiros, porque há uma grande aglomeração de pessoas das mais variadas idades. Muitos saem de madrugada, às vezes sem comer nada e, motivadas pela fé, se põem na estrada, um percurso de mais de quatro horas. E algumas têm hipoglicemia, pressão alta e sequer tomaram a medicação e, às vezes, acabam passando mal. E nós estamos aqui para ajudar no que for preciso. A ambulância está ali disponível, a minha parte é a enfermagem e os demais ficam circulando para eventuais necessidades”. O Grupo Verdade Sagrada é composto por 32 bombeiros voluntários e dez estiveram presentes no local da festa.

 

Cozinheiros trabalham durante três dias

Donizete de Oliveira e mais uma equipe de 14 pessoas vindas de Araxá estavam trabalhando no sítio desde quinta-feira 16, pra dar conta da comida para mais de sete mil pessoas.
“- Começamos o almoço às 3h da manhã, cozinhando 120 kg de feijão, mas começamos a preparar tudo na quinta-feira, organizar as carnes, temperar, pra fazer as 14 mil almôndegas na sexta-feira. Foram mais de 700 kg de carne. Mas graças a Deus tudo está na hora”.
De acordo com Donizete, foram preparados 280 kg de arroz,  600 quilos de batata, 180 quilos de macarrão e aí vem o molho com 30 kg de extrato e os temperos em geral. “É muito gratificante trabalhar para o Divino Pai Eterno e  os santos todos. Fazemos isso de coração aberto...”
Além do almoço, uma saborosíssima sobremesa de doce de leite, cidra, mamão e laranja completava a refeição.