Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Pe. André despede-se de Sacramento

Edição n° 1327 - 14 Setembro 2012

Padre André Camargos Araújo, 33, deixa Sacramento depois de três anos de profícuo trabalho como vigário da paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento e pároco da paróquia de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque. Neste domingo, 16, a comunidade católica despede-se de Padre André em celebração de ação de graças na Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio do Ssmo. Sacramento, às 19h30.  No dia 20, Padre André assume a paróquia de Campo Florido. No seu lugar, tomou posse, dia 2 último, Pe. Paulo Henrique Martins.

 

Resgate e unidade nas comunidades rurais

 

Nos três últimos anos, as comunidades católicas rurais passaram por grande transformação e uma crescente participação graças ao trabalho de Pe. André Carmargos e Mons. Valmir Ribeiro, que conseguiram resgatar a Igreja Povo de Deus. “O mais rico hoje nas comunidades, por graça de Deus e a minha preocupação de padre novo, foi resgatar a Igreja Povo de Deus e rezar junto com as comunidades. As capelas repletas de fieis, talvez não em número, mas com  a participação do povo de Deus”, explica o pároco do Desemboque, Igreja Mãe de todo o Triângulo Mineiro, o grande Sertão da Farinha Podre, do século XIX.

Feliz com a unidade do povo, conta Pe. André que nesses três anos realizou em todas as capelas celebrações litúrgicas e, durante as festas dos padroeiros, as quermesses, torneios de futebol, o forró, que são momentos de confraternização entre as comunidades participantes. As pessoas da zona rural andam longe pra ir numa festa noutra comunidade.  Antigamente, havia brigas, atitudes violentas que afastavam as pessoas, mas o bom viver foi resgatado; são amigos, famílias, participando. Hoje, vale a pena ir a uma festa na zona rural”. 

Todos os frutos colhidos por Pe. Andre são resultados do carinho, amizade e, sobretudo respeito pelos costumes e tradições do lugar. “Da criança ao velho eu faço festa, cumprimento, converso, abençoo as plantações, as casas, os currais, ando a cavalo, chego nos lugares  cheio de lama ou poeira sempre feliz da vida. E vou dizer mais uma coisa, nesses três anos, nunca senti  tristeza ou desânimo,  nunca  senti peso nem vi meu trabalho como obrigação. Sempre fiz tudo com muita alegria, porque sabia que alguém estava me esperando”, destaca. 

São 18 as comunidades rurais pertencentes à paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento e padre André celebrava duas missas por dia, de segunda a sexta-feira. “São duas missas por dia, seja com pouca gente, muita gente, seja chuva, seja sol. Quando há festas nas comunidades,  o encerramento da festa acontecia geralmente aos sábados. Os terços e novenas são coordenados pelas comunidades”. 

Para o sacerdote, no início a participação das comunidades eram muito apáticas. “Hoje vemos que esquentou muito, as pessoas participam com entusiasmo, alegria e o segredo é que o povo necessita da presença, de um sinale quando as pessoas vêem no padre esse sinal, atrai muito mais. A minha simplicidade, o meu jeito de ser do jeito deles, de falar a linguagem deles foi que os cativou, creio eu. Muitas pessoas saiam do trabalho e iam para a missa, do jeito que estavam, sempre lhes mostrei que o importante é rezar, aproveitar aquele momento de estarem juntos na mesa do Senhor. Fiz da  acolhida  a alma do negócio  e as pessoas foram chegando”, explica.

 

Para Pe. André foi um tempo de vivência e experiências

 

O trabalho em Sacramento e na paróquia de Nossa Senhora do Desterro do Desemboque foi a primeira experiência sacerdotal de Pe. André, que leva na bagagem as primícias de uma vivência e experiência incríveis. “Aprendi muito nesses três primeiros anos de padre e consegui conciliar os dogmas da igreja e a religiosidade popular. A Igreja tem um novo rosto hoje.  A igreja já foi libertação, já foi carismática, já foi romana e a devoção popular hoje vem resgatar a proximidade da Igreja Povo de Deus com a Igreja romana e carismática”, afirmou. 

Reconhece o vigário da Igreja Matriz de Na. Sra. do Desterro, no Desemboque, que Sacramento  tem algo especial deixado como herança muito rica dos redentoristas, que é a devoção popular. “Eles têm uma formação diferente da diocesana e essa é uma riqueza que não pode acabar, ela tem que ser respeitada e preservada, por isso é que nós  padres somos orientados a primeiro conhecer a realidade da comunidade. Por exemplo, na zona rural, não podemos chegar impondo o que estudei sete anos. Primeiro, tenho que conhecer o povo, que tem seus costumes,  as suas carências. E eu conheço, sei onde as pessoas moram, onde trabalham,  o que fazem e é  a partir daí que podemos conciliar os documentos da igreja com a devoção popular. Isso é a Igreja povo de Deus”, disse.

Lembrando os 50 anos do Concílio Vaticanos II, que deu nova cara à Igreja, falou da participação do leigo na vida eclesial. “Este Concílio é a abertura da Igreja para o trabalho do leigo. Antes era só o padre, tudo era o padre, povo não subia no presbitério, hoje o padre não faz nada sozinho e na zona rural temos pessoas formadas para este trabalhos, temos um trabalho de leigos muito bom”, elogiou. 

Padre André parte agora para uma nova vida, novas experiências, como pároco da Paróquia de Veríssimo. “Cada paróquia, cada cidade é uma nova realidade, uma nova cultura, novos costumes, é um novo tempo de conhecer pessoas e aí nós temos, não que começar do zero, mas continuar o trabalho que vinha sendo feito antes e, para isso, contamos com a ajuda dos leigos e aos poucos vamos encontrando na realidade local e a partir daí o trabalho flui e começamos a colher os frutos. Mas o mais importante que temos que ter em mente é que trabalhamos para a Igreja Povo de Deus, por isso  temos que trabalhar a importância do papel do leigo prevista pelo Concílio Vaticano II”. 

Feliz com sua nova missão de pastor, Pe. André afirmou: “Vou triste por deixar Sacramento, deixar a zona rural, mas estou alegre por essa missão, pela confiança e com a certeza de que estou cumprindo o que prometi: ser obediente às coisas de Deus”.

Falando sobre as primeiras experiências sacerdotais, na companhia do padrinho O ET não poderia deixar de perguntar a padre André “o que é viver as primeiras experiências sacerdotais com o padrinho, Mons. Valmir, responde que foram muito  ricas.

“- Foi uma experiência muito enriquecedora, porque tivemos uma relação de padres e não de afilhado com padrinho, não de padre com coroinha, mas de padre com padre. E ele me ajudou bastante, deixando o campo livre pra eu trabalhar sempre me espelhando no mestre, claro. Nossos encontros eram muito restritos, no café da manhã e almoço e depois cada um ia para o seu trabalho, sua missão e, só à noite tínhamos tempo para conversar, trocar experiências, ideias. Mas posso dizer com certeza, que foi uma experiência muito rica, Pe. Valmir, hoje já Monsenhor, foi uma grande escola para mim”. 

Finalizando, o sacerdote deixou sua mensagem aos sacramentanos: “Vivi aqui um grande início do meu sacerdócio, com a  zona rural  na evangelização; na zona urbana com os sacramentos. Todos os dias agradeço a Deus pelo meu trabalho  e sou feliz muito feliz e fui muito feliz em Sacramento com a acolhida, o carinho do povo, que sabe cativar as pessoas.  Foi uma vivência muito rica a que tive aqui por isso  quero deixar a todos essa felicidade que sinto. Vou e levo tudo de bom no me coração,  deixando a todos minha gratidão e as bênçãos de Deus para toda Sacramento”. 

Padre André, Sacramento agradece e quando puder, não se esqueça dos versos imortalizados (só aqui): ‘‘Vem, vem, andando contra o vento; vem, vem fugir do teu tormento; vem, vem ser feliz um só momento; vem, vem, vem morar em Sacramento’’.