Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Autor da morte do vaqueiro no Desemboque presta depoimento

Edição nº 1188 - 15 Janeiro 2010

Elizeu Pereira da Silva, 41, autor do homicídio contra o vaqueiro Edmauro Alves de Lima, 44, no povoado do Desemboque, na tarde do dia 31 de dezembro, compareceu à Delegacia, no último dia 7, às 10h00, acompanhado de seu advogado, para depoimento ao delegado substituto, Rafael Jorge, de Conquista.

No depoimento, Elizeu disse que era amigo da vítima, Edmauro, desde que o conheceu, quando chegou à fazenda de seu cunhado, Vicente Caetano Araújo, para trabalhar como vaqueiro, inclusive ajudando-o em alguns afazeres. Elizeu disse que estava morando na fazenda Estrela do Norte, devido a problemas  de saúde: esquizofrenia.

Elizeu confirmou ao delegado que tinha dois revólveres, um herança de sua mãe, e outro, com-prado de um mascate que passou pela propriedade. Afirmou que não é usuário de drogas e que ficava boa parte do dia prostrado devido ao efeito de medicação tarja preta, mas que sempre que possível ajudava Edmauro nos afazeres da fazenda. 

No dia do fato, Elizeu narrou que esteve no povoado e testemunhou o momento em que Edmauro pediu um conhaque e proferiu ameaças contra a família de Vicente e ofensas verbais contra sua irmã, Edileia Pereira, mulher de Vicente. Relatou que Edmauro, quando bebia tornava-se agressivo. Diante da situação, ele resolveu sair do povoado e retornar para a propriedade, relatando os fatos à irmã que ficou indignada, segundo Edmauro, “por estar sendo difamada no povoado e que, diante da necessidade de comprar coco ralado e leite condensado, ela dirigiu-se até o povoado, acompanhada por ele”.

No povoado, a irmã entrou na venda, enquanto Elizeu aguardava próximo à caminhonete, de posse de seus dois revólveres.  Continua narrando ao delegado que viu o momento em que Edileia cami-nhava em direção à caminhonete seguida por Edmauro, que  empunhava uma faca. Elizeu disse que tentou alcançar Edileia e ela entrou na caminhonete, fechou os vidros e tentou ligar o veículo, mas devi-do ao nervosismo de Edleia e de um dispositivo de alarme no veículo, ela não conseguiu sair do local.

  Prossegue, afirmando que Edmauro usou da faca para aranhar os vidros e o capô e ficou circu-lando a caminhonete, tentando encontrar uma maneira de esfaquear os ocupantes. Quando Edmauro percebeu que o vidro do lado de Elizeu não estava totalmente fechado, aproximou-se e Elizeu com a mão esquerda disparou três tiros, utilizando o revólver 38, herdado de sua mãe. E saíram do local sem prestar socorro à vítima. Ao chegar à fazenda, pegou uma moto, tomando rumo ignorado. 

Elizeu relatou que levou dois tombos e não sabe dizer onde perdeu as armas que se encontravam em sua cintura.  Ao ser questionado sobre seus antecedentes, Elizeu disse que veio fugido de Praia Grande (SP) por ter cometido um homicídio, dizendo que basta checar os seus antecedentes criminais. Perguntado sobre denúncias de que teria assediado sexualmente a filha adolescente de Edmauro, disse que a denúncia não procede.

 

A versão de Vicente

Vicente Caetano de Araujo em seu depoimento, disse que seu cunhado, Elizeu, é esquizofrênico crônico e mora em sua propriedade há mais ou menos 17 anos. Confirmou que Edmauro estava traba-lhando e morando em sua propriedade há mais de seis anos e que, como aconteceu um desacerto financeiro, o empregado mudou-se do local e, desde então, conversas e ameaças aconteceram, devido ao desacerto. 

Contou ao delegado que Edmauro pediu R$ 500,00 para desocupar a fazenda e que inclusive Edmauro, além de ameaçar sua família, havia tentado derrubar um barracão enfraquecendo a estrutura de madeira. Vicente manifestou o desejo de que sejam quebrados os sigilos telefônicos dos envolvidos, uma vez que as ligações foram feitas do povoado do Desemboque para sua residência, na Praia Grande (SP). 

Segundo Vicente, no dia dos fatos (31/12) por volta das 15h50, Edmauro esteve em sua proprie-dade, quando os dois conversaram frente a frente. Durante a conversa, Vicente e Edmauro argumentaram e num determinado momento, Edmauro disse: “Deixa pra lá, depois a gente resolve”, retornando ao povoado. E que ele (Vicente) não saiu de sua propriedade, mas a sua esposa, quando soube por Elizeu que Edmauro a teria difamado ao referir-se a ela, como “aquela rapariga”, decidiu ir ao povoado conversar. Vicente disse que tentou convencer a sua esposa para não ir, mas ela pegou a caminhonete e, juntamente com Elizeu, dirigiu-se ao povoado. 

Vicente confirmou que Elizeu possui uma arma 38 e que já testemunhou o mesmo atirando na propriedade. Vicente deixou claro que, se tivesse intenção de matar Edmauro o teria feito em sua propriedade e não num local público e com testemunhas. Disse que jamais praticaria tal ato. Disse que sua esposa ao retornar, por volta das 17h00, ele percebeu que os mesmos estavam nervosos. Elizeu chorava, pegou uma moto sem autorização tomando rumo ignorado.

Algumas testemunhas foram ouvidas, mas a imprensa não teve acesso ao depoimento, por conterem itens de investigações.