Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Hospital Geral vai custar R$ 16 mil


A Casa do Caminho construirá um hospital geral, uma obra orçada em R$ 16 milhões. "A obra já foi iniciada, é um hospital de alta complexidade, para atender a região com dignidade. Ali teremos o primeiro centro de reabilitação do Triângulo Mineiro. Não queremos ser um Sarah Kubistschek, mas queremos fazer tudo o que for preciso para reabilitação de doentes. Será um hospital geral para atendimento de um grande número de pessoas. |Só o que quero é que o pobre, as pessoas carentes tenham acesso ao hospital, a tomografias, marca-passo, etc. A obra está parada, porque estamos lutando por uma verba no Brasil e no exterior. É uma obra grande, com 19.200 metros de área útil".

O novo hospital contará com três prédios de quatro andares com mais de 200 leitos, mais um centro de reabilitação com 120 leitos, dez salas cirúrgicas para cirurgias geral, cardíaca, torácica, vascular, neurocirurgia, oftalmologia, plástica, ginecologia, urologia e traumaortopedia. UTI de adultos com 20 leitos, UTI de coronárias com seis leitos, UTI de queimaduras com cinco leitos, UTI pediátrica com cinco leitos, UTI neonatal com 10 leitos, semi-intensiva com 10 leitos.

Na internação eletiva, unidade para queimados com 12 leitos, clinica médica com 70 leitos, clinica cirúrgica com 70 leitos, ginecologia e obstetrícia com 15 leitos, oncologia clinica/quimioterapia com 15 leitos, pediatria com 18 leitos. Centro de apoio e diagnóstico com radiologia geral, desitometria óssea, mamografia, ultra-sonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada, eco-cardiograma, eletroencefalograma, hemodinamica, endoscopia, medicina nuclear, diversos laboratórios, urgência e emergência. A capacidade de atendimento do hospital será de 300 pacientes/dia.

O atendimento aos pacientes

A Casa do Caminho tem hoje 240 pacientes que recebem dois tipos de atendimentos diferentes. Um é o Hospital de Apoio, onde é feita a reabilitação de pessoas que necessitam de cuidados prolongados por doenças de ordem neurológica, cardiológica, pneumológica, e reumatológica, muitos paralíticos, amputados, etc. "O nosso atendimento é voltado para pessoas carentes, necessitadas mesmo, pessoas que, se ninguém socorrer, vão passar o resto da vida numa cama e elas podem ser reabilitadas. Já reabilitamos dezenas delas, nós as devolvemos para casa com dignidade", informa, resumindo a história do nosocômio. "Começamos como asilo, mudamos para geriatria e hoje é hospital de apoio, para reabilitação de pacientes".

A entidade, hoje, conta com uma equipe médica e uma equipe multidisciplinar. São 168 funcionários, divididos em médicos especialistas em geriatria, cardiologia, neurologia, endocrinologia, reumatologia, pneumologia, fisioterapia; enfermeiros; auxiliares de enfermagem; técnicos de enfermagem; terapeuta ocupacional; fonoaudiólogo; farmacêutico; nutricionista; assistente social; psicólogo; além do pessoal de manutenção e limpeza.

No Hospital de Apoio, com 100 leitos, os pacientes dispõem de televisão, uma bela varando rodeada de jardim e fontes de água. Os pacientes circulam pelos corredores, a pé, de cadeira de rodas. Nesse espaço, além do contato com o verde, todos desfrutam de bate papos, ou seja, os pacientes não ficam confinados nos quartos.
Apesar de José Tadeu ser espírita, no Hospital de Apoio cada paciente professa a sua religião: vem o padre, o pastor evangélico, enfim todas as religiões e cada paciente professa a sua fé. "Não podemos impor essa ou aquela religião", afirma.

Outro aspecto inovador são as visitas. A visita aos pacientes acontece, diariamente das 9h00 às 21h00. "Não é possível separar o doente dos familiares, dos amigos, eles precisam receber visitas, conviver com as pessoas. Isso ajuda na recuperação do paciente. A única restrição que temos é na hora da higiene e troca dos pacientes, na UTI e na semi-intensivo. Fora isso, os pacientes têm contato com a família, os amigos o dia todo e isso ajuda no tratamento", esclarece.
Outro atendimento da Casa do Caminho é o de psiquiatria. "Começamos a psiquiatria fechada, mais tarde fizemos um trabalho com as famílias com uma interação entre todos os pacientes e suas famílias e passamos a fazer a psiquiatria-dia. Aqui o paciente não fica internado. De segunda a sexta-feira eles vão para casa apenas para dormir", explica.

Os pacientes chegam às 7h00, tomam o café da manhã, participam de atividades obrigatórias como hidroterapia, dança, terapia de grupo e outras atividades para o corpo. Após o almoço, cada um escolhe uma das doze oficinas terapêuticas (pintura, bordado, trabalhos em madeira, bordado, etc) para atividades, onde são acompanhados por monitores. Tomam o lanche da tarde, jantar e retornam para suas casas levados pelos auxiliares. Os pacientes levam para suas casas, o medicamento que deve ser tomado à noite. Na psiquiatria, são atendidos 140 pacientes/dia.
O pavilhão de psiquiatria não possui grades nem nas portas, nem nas janelas, não há muros mas um amplo jardim, com área de lazer de dois mil metros quadrados com piscina, quiosques, sala de dança com espelhos, sala de jogos, anfiteatro, salão de beleza, refeições self-service, etc. "A pessoa não pode ter a visão de uma prisão para se tratar, para muitos pacientes isso aqui é uma empresa, para outros, um clube de lazer, com muitas flores, arvores, água, isso é vida", justifica.

Os recursos para a manutenção

A Casa do Caminho tem convênio com o SUS e os recursos são destinados ao pagamento dos 168 funcionários. "Durante 14 anos, funcionamos aqui apenas com voluntários e doações. O dinheiro do SUS vai para o pagamento dos funcionários e a manutenção da Casa é feita pelo povo. O dinheiro do SUS é pouco, mas é um dinheiro abençoado. O trabalho de doações foi feito no boca-a-boca e se estendeu", explica. A Casa do Caminho foi divulgada também no programa Globo Repórter, o que ajudou a expandir as doações.

Todo o atendimento é gratuito. "Ninguém paga nada aqui. Esses 100 leitos são destinados a pessoas carentes. Se eu começar a transformar em particular, daí a pouco deixamos de atender o carente para ceder leitos a particulares. Sou severo com isso. Se eu tirar dois, três, cinco leitos para o particular, eles vão faltar para os carentes. E esse tipo de tratamento pode ser encontrado noutros lugares e quem pode pagar encontra. Esses 100 leitos são sagrados", diz.

Na psiquiatria, o atendimento é para qualquer pessoa que precisar, independente da condição social, mas o tratamento é o mesmo para todos. "A doença mental não escolhe poder aquisitivo e é um trabalho mais difícil de ser encontrado, ainda. Mas não é porque a pessoa tem posses que terá um atendimento diferenciado. A pessoa que quiser se tratar aqui, tem que ser assim".
A entidade não cobra absolutamente nada dos pacientes ou dos familiares. "Conseguimos aposentar muitos pacientes, mas não ficamos com o dinheiro, ele é repassado para os familiares, criarem condições para receberem os paciente, quando retornarem a suas casas", explica Tadeu, ressaltando que os pacientes ficam na casa por um tempo, até serem reabilitados e poder retornar para as famílias. "Mas eu tenho oito que moram aqui, eles não têm família, são como filhos para mim", conta, recordando com emoção de um garoto vitima de meningite. "Esse menino era como meu filho. Ele teve uma meningite e ficou com seqüelas graves e chegou aqui com dois anos de idade. Ele dormia no canto da minha cama, quando era criança. Era muito frágil, mas agitado, precisava de proteção. Ele viveu aqui até os 22 anos. Quando ele morreu, foi uma perda grande para mim. Ele era como meu filho", recorda.


A Casa do Caminho está localizada no bairro São Geraldo, mas toda a parte administrativa está centralizada num pavilhão dentro do complexo, mas com acesso também a outro bairro, o Novo São Geraldo.

Os braços direito de Tadeu

José Tadeu conta com um grupo de pessoas na diretoria do complexo que é a Casa do caminho, mas os braços direitos são Ernandir Carlos Pereira e Vanderlane Xavier.
Ernandir Carlos, ex-operador de usina é um dos diretores da Casa do Caminho e que desde 1985, decidiu largar tudo, o emprego na CBMM e dedicar-se ao trabalho voluntário na instituição."Minha vida resume-se a isso aqui. É um trabalho que traz um beneficio muito grande para todos e a gente fica gratificado em ver o seu crescimento. Abraçar esse trabalho foi como que um convite superior que recebi, não tem muita explicação pra isso, não. Foi muito natural", explica.

Pereira é o responsável pela parte de construções, como o novo Hospital Geral. "Estamos aguardando recursos do exterior e junto ao governo federal, que estão sendo viabilizado e tão logo tenhamos os recursos reiniciaremos as obras", promete.

Vanderlane Xavier era fotógrafo e hoje ocupa o cargo de Chefe Administrativo. Está na entidade também há 20 anos. "Isso aqui é um namoro antigo, deixei tudo e abracei essa causa. Para mim foi um convite divino e é gratificante, porque isso preenche a nossa vida", justifica.
Doações para a Casa do Caminho podem ser feitas através do bancos Itaú S.A (Ag. 0944-7 conta 08426-8 Araxá - MG) Brasil S.A (Ag. 0210-0 conta 3730-3 Araxá - MG).

Mais informações poderão ser obtidas através do sitio www.casadocaminho.com.br e por e-mail [email protected]. Telefax: (34) 3662-5409.