Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Anatólia repousa no seu rincão natal

Edição nº 1568 - 28 de Abril de 2017

A professora aposentada, Anatólia Araújo Manzan, natural da Santa Maria, neste município, morreu aos 94 anos, no dia 27 de março, no Hospital D. Antônio Alvine, em São Paulo. Cremada naquela capital, onde residia, suas cinzas foram trazidas para o seu recanto natal e espalhadas pela família e amigos no Recanto Tia Anatólia, uma área ao lado de um rego d'água e um pequeno lago cercado por vasta vegetação, ao lado do casarão que abriga o Instituto Cultural Leopoldina Geovana de Araújo (INCLA).

 A cerimônia de espargimento das cinzas, carinhosamente chamado de "poeirinha da Titia Nata", foi aberta com a  Prece de Cáritas,  na voz de Elizabete Lacerda, seguida de  apresentação de fotos, 'Momentos Felizes de Anatólia'  com fundo musical de Adolpho; vídeo Peixe Vivo, por Milton Nascimento; palavra aberta aos presentes e, finalmente, o espargimento das cinzas no Recanto Tia Anatólia.

 

“A poeirinha dela lançada aqui vai adubar a terra e continuar o ciclo da vida”

Finda a solenidade, a sobrinha,  médica Célia Menezes de Mello, com quem Anatólia viveu por oito anos, na fazenda Santa Maria, explica que a cerimônia de deixar as cinzas da tia tem um grande significado, pelo seu amor ao lugar. 

“- Tia Nata nasceu aqui, foi a última moradora do casarão e os seus últimos oito anos foram vividos aqui. O amor que ela teve por Santa Maria e por todos aqui era muito grande, então nossa ideia foi de que ela continuasse aqui, repousasse no seu rincão. Acreditamos que essa é uma homenagem que ela está recebendo. Suas cinzas, a poeirinha dela lançada aqui vai adubar a terra e continuar o ciclo da vida. Temos a certeza de que o que o que foi lançado aqui no seu recanto é apenas o corpo, porque  o espírito não morre, tenho certeza de que ela está conosco recebendo toda essa homenagem”, disse, agradecendo a presença das pessoas na cerimônia. 

“- Estou muito feliz e emocionada, porque são pessoas que amam tia Anatólia. Sei que há muita gente em Sacramento e Conquista   que foram alunos de tia Anatólia, pois, por onde passávamos  com ela, as pessoas se aproximavam , vinham vê-la, beijar-lhe a mão. E sei que gostariam de estar aqui. No face publiquei toda essa homenagem, para que todos da família que estão à distância, inclusive no exterior, pudessem acompanhar no mesmo horário cada passa de nossa homenagem à tia Nata. Para nós, isso é uma forma de devolvermos a ela o grande amor que ela dedicou a todos nós”. 

Célia esclarece ainda que a homenagem a Anatólia é também do INCLA. “Quando inauguramos o Instituto, tio Atayde e tia Anatólia estiveram presentes na primeira assembleia e por aclamação eles foram declarados presidentes de honra. Tio Atayde já faleceu há alguns anos e agora tia Anatólia, a última presidente de honra do Instituto. 

Anatólia era viúva de Américo Manzan. O casal teve três  filhas:  Elizete (Luiz),  falecida em 2009; Elizabeth (Romildo); Heloísa (Marcos) e Raquel, filha do coração, que lhes deram  netos e bisnetos. 

 

 Célia: “Tia Anatólia foi nossa segunda mãe”

De acordo com Célia, ela e Anatólia tiveram uma convivência muito próxima. “Por conta de problemas de saúde de minha mãe, Altina Araújo de Mello, única irmã de Tia Nata, filhas da Leopoldina, ela foi a nossa segunda mãe, cuidou de nós. Mamãe teve 15 filhos e tia Anatólia deixou tudo pra cuidar de nós, então, todos nós a tivemos como mãe. Ela foi uma grande mulher, cuidava da família. Quando morreu tio Agatângelo, tia Anatólia levou seus três filhos mais velhos para São Paulo. Ela e tio Américo tinham muita generosidade, uma capacidade de acolhimento muito grande e faziam com amor. E isso são coisas marcantes na nossa vida que nunca vamos nos esquecer”, reconhece Célia. 

 

Armilon recorda a história do Casarão

O casarão de Santa Maria, que desde  29 de novembro de 1997, se tornou sede do Instituto Cultural Leopoldina Geovana de Araújo, segundo Ármilon Ribeiro de Mello, neto de Jovino Gonçalves de Araújo e Leopoldina Geovana de Araújo, foi construído em 1851, por Joaquim Gonçalves  de São Roque (Capitão São Roque), filho de Pe. Antônio Alves Portela Domiense de Araújo com a escrava Heliodora, bisavô de Ármilon, que recebeu as terras (sesmaria), doadas pelo irmão Cônego Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, encarregado por Dom João VI, de demarcar as sesmarias de todo o Sertão da Farinha Podre, atual Triângulo Mineiro, entre elas a de Santa Maria, entre os anos de  1812 a 1816. 

 

“Ela era professora aqui...

De acordo com Ármilon, a construção do casarão levou dez anos e só foi inaugurado em 1861. A sede da sesmaria, que não existe mais, ficava do outro lado do córrego Lageado, que dividia a sesmaria e os municípios de Sacramento e Conquista. Aliás, até hoje há essa contenda entre os confrontantes que reivindicam para si a conversão de Eurípedes ao Espiritismo.

De tia Nata, Armilon tem boas lembranças.  “Desde mocinha ela deu muito amor para toda a família. Lembro-me desse grande amor. Era uma pessoa altruísta e desprendida. Sempre pensava nos outros. Todos nós, sobrinhos,  temos alguma coisa que devemos a ela. Era muito generosa. Acolhia com amor de mãe, em São Paulo, os sobrinhos e nos encaminhava todos”, revela completando: “O próprio casarão tem uma ligação muito grande com ela, que era a caçula do meu avô Jovino, dono do casarão. Minha avó Leopoldina recebia todo mundo aqui como pessoas da família e este exemplo passou para tia Anatólia”. 

Armilon teve convivência com tia Nata, sempre que vinha passar as férias em Santa Maria. Depois que ela se mudou para São Paulo, a convivência se estreitou ainda mais. “Tivemos uma convivência grande aqui quando éramos meninos. Ela era professora, teve a felicidade de lecionar nas terras dos pais. Quando já estávamos em São Paulo, todas as férias vínhamos pra cá, depois quando ela se mudou para São Paulo, foi uma convivência grandiosa de muita ajuda, de muito amparo de um ao outro”, conta, reconhecendo que o espargimento de suas cinzas em Santa Maria é de muito significado.

“- É de muito significado, pois sua ligação com isso aqui é muito grande. E o lugar onde as cinzas foram jogadas, chama-se Recanto Tia Anatólia. E tenho certeza de que para ela isso tem um grande sentido. Ela optou pela cremação para que as cinzas fossem lançadas aqui, porque  o amor dela por Santa Maria sempre foi muito grande, pelos parentes, pelos amigos”, enaltece.