Morre o juiz Rui da Matta

Rodeado pela esposa e filhos, o juiz de direito aposentado nesta comarca e ex-prefeito de Conquista, Rui da Matta Costa, 69, morreu de falência múltipla dos órgãos, em decorrência de um câncer no fígado, em sua residência, às 23h45 da última sexta-feira, 25. Seu corpo foi velado em Sacramento a partir das 2h por familiares, um grande número de amigos e autoridades e, às 10h30, foi trasladado para a cidade de Conquista, sua terra natal. Terra que ele cantava em prosa e verso onde foi vereador, promotor e prefeito, e onde agora repousa.

De acordo com o filho, o advogado Ricardo Alexandre da Matta,  seu pai foi sempre forte e saudável, porém começou a perder peso e a apresentar problemas de saúde. Em dezembro, foi submetido a exames em Uberaba e São Paulo, mas devido à fragilidade de seu estado, foi descartada a possibilidade de um transplante de fígado. “Papai era muito arredio a médico e muito reservado, mas morreu serenamente, com uma coragem e lucidez admiráveis perante a morte, que somente os espiritualmente amparados possuem. ”, disse. 

O juiz Rui da Matta Costa assumiu a comarca de Sacramento em 1984 e aqui permaneceu desde então, com a esposa Berenice Queiroga de Moura Costa e os filhos, Rui, Raquel, Renata, Ricardo, Rodrigo e Túllio. Aposentou-se em 1989 e fixou residência na cidade, conciliando suas atividades profissionais entre o exercício da advocacia e a de produtor rural, não abandonando também suas lides de intelectual e cronista. Na família, Rui foi mais que um pai talentoso e de oratória eloquente, ele foi amigo, companheiro, carinhoso e exemplo.

Conquistense de nascimento e de amor, Rui da Matta Costa, como tantos jovens de ontem e de hoje, não nasceu em berço de ouro, mas trazia dentro de si o pendor do Direito. “Era muito difícil o acesso para os jovens aos grupos e às escolas, sendo que após a quarta série primária apenas as famílias mais abastadas mandavam seus filhos para concluírem os estudos fora”, escreve o filho Da Matta no artigo, 'Um sonho que se realizou', publicado no ET, em 2009, quando o pai foi condecorado com a Medalha Desembargador Hélio Costa.

Dono também de uma verve literária, lembrou mais o filho que o pai chorou certa vez ao ver os colegas partirem para estudar fora. “Chorando, vendo o trem sumindo aos poucos no horizonte, sentiu um toque suave em seu ombro, ao virar-se, deparou com  Madre Brasilina, que o amparou dizendo: “Não chore, Rui. Continue estudando, trabalhando e rezando, que Jesus ainda irá recompensá-lo”. E o jovem, então, enxugando as lágrimas, agradeceu à Madre, e partiu”.

E de fato, Rui não deixou seu sonho para traz, conciliando os estudos com o trabalho na farmácia. Mais tarde, como bancário, muitos achavam que deveria seguir na carreira, mas não. Rui sabia que seu destino estava marcado nas portas do fórum. E ingressou no Direito e vestiu a toga de juiz, trabalhando brilhantemente, inclusive em Sacramento. Rui foi também  professor Direito Civil, na Universidade de Uberaba. E mais ainda, Rui da Mata é um dos poucos, ou o único  homem a ocupar os três poderes da República: presidente da Câmara, prefeito e juiz, e mais, o cargo de Promotor na terra em que nasceu.

Por tudo o que foi e representou, Rui da Matta Costa foi velado em câmara ardente, na Câmara Municipal de sua cidade natal, onde recebeu comoventes homenagens dos prefeitos de Conquista e Sacramento, Vera Lúcia Guardieiro e Bruno Scalon Cordeiro, que cobriram o seu féretro com as bandeiras de seus respectivos municípios. Recebeu também homenagens das comunidades católica e espírita;  Loja Maçônica Acácia do Borá; da  Diretora do Foro da Comarca de Sacramento, Juíza Letícia Rezende Castelo Branco e, do presidente da 116ª subseção OAB/Sacramento,  José Rosa Camilo. Na cidade de Conquista foi decretado luto oficial de três dias.