Com o objetivo de manter viva a memória histórica do Desemboque, a sua importância como centro irradiador de desenvolvimento de todo o Sertão da Farinha Podre, nos séculos XVIII e XIX, a Câmara Municipal comemorou, dia 20 de abril, data que marca o aniversário de Cgo. Hermógenes Cassimiro de Araújo Brunswick, o Dia do Desemboque. Presente à reunião, o prefeito Wesley De Santi de Melo promulgou a lei na abertura da sessão solene, que homenageou também o Prof. Vicente de Araújo Lima, mais conhecido como Vicente Hermógenes, 92, como símbolo daquela comunidade. Vicente Araújo Lima é tetraneto de Cônego Hermógenes Brunswick de Araújo, fundador de Sacramento, e um dos mais antigos moradores do povoado.
Um grande número de moradores do povoado esteve presente para prestigiar o Prof. Vicente, que durante 35 anos lecionou no povoado, atendendo os alunos de toda aquela vasta região, através de salas multiseriadas. Estavam também presentes o irmão Alexandre Araújo Lima, 84, residente em Uberlândia, além de muitos convidados simpatizantes da história.
Completando o retrato vivo do Desemboque pela presença das pessoas, as paredes do salão davam mostras da história com telas da artista plástica Marilese de Almeida Pacheco e seus alunos no ateliê “Arte e Manha”, fotografias de Alessandro Abdala, ráplicas das igrejas confeccionadas por diversos artistas e artesanatos, os “negrinhos” da artesã Leila Tiago, numa homenagem aos afro-descendentes que viveram nas terras desemboquenses e souvenires relativos ao Desemboque confeccionados por artesãos locais.
Vicente Araújo é a história viva do Desemboque
Vicente Araujo impressiona pelo riso aberto, a pele lisa e o tradicional chapéu de longos anos, mas o peso dos anos já se mostra no andar claudicante e a frágil audição. E quem fala ao ET é o irmão Alexandre. “Vicente sempre viveu no Desemboque e essa homenagem é uma coisa muito boa. Ficamos muito felizes com essa festa, porque eu saí do Desemboque com 17 anos, vim para Sacramento, daqui segui Uberaba, de lá fui para São Paulo e depois resolvi voltar para Minas e passei a morar em Uberlândia, há 23 anos. Mas o Vicente ficou lá. Foi professor, sabia tudo do Desemboque, criou a família lá. Éramos 14 irmãos, hoje só restamos eu, o Vicente e a Sebastiana que mora em Ituiutaba e não pôde vir. Eu com 84 anos nunca vi uma homenagem assim pra nossa família”, agradeceu.
Outra emoção do velho Vicente Araújo foi o descerramento do seu retrato, pintado pela artista Marilese Almeida Pacheco. Vicente descerrou o quadro ao lado de Marcelino Marra Batista, vereador autor da indicação para a aquisição do retrato, pela Câmara Municipal.
Outras homenagens se seguiram com a entrega de uma placa pelo prefeito Wesley De Santi de Melo, que o saudou também em discurso, assim como os nove vereadores e o secretário de Turismo Amir Salomão Jacob.
Irmão lembra povoado quando tinha 73 casas
Apesar de ter saído do Desemboque há 69 anos, Alexandre Araújo tem grandes lembranças do povoado. “Quando saí de lá havia no povoado 73 casas, hoje restam poucas. Sei até os nomes dos moradores das casas. Havia ruas, lembro bem da rua da Vargem, na margem do rio das Velhas. Era a rua mais importante. Lá havia a casa do seu Biba do Correio, a casa do meu padrinho, Davi de Souza, a do Belmiro Carlota, que era o sepultador de gente que morria. Na frente da Igreja Nossa Senhora do Desterro, ficava o cartório, meu pai era o cartorário, era na casa da Dona Bicota. Meu pai ficou velho, saiu, entregou para o José Horácio, ele não deu conta, o prefeito tirou o cartório de lá”, recordaou.
Embora espírita, Alexandre conheceu bem os padres do povoado na sua infância “eu era bem menino, morava padre lá, o padre Ângelo, da cidade de Araguari, não sei por causa de política ou porque foi, tiraram-no de lá. Aí foi o padre Ivo, de Delfinópolis, que na época chamava-se Espírito Santo da Forquilha. Padre Ivo cuidava lá e o ultimo que me lembro era o padre Saul, que ia de Sacramento pra lá, a família do meu pai não ia porque era espírita, mas muitos eram católicos. Eu casei só no civil, a mulher era católica e eu espírita, o padre não quis fazer o casamento, aí casamos só no José Sobral...”, recorda, demonstrando ser uma biblioteca ambulante da história desemboquense pelos idos de 1930 a 1942, ano em que saiu do povoado.
Alexandre e Vicente são filhos de José Antônio de Araújo Lima e de Rosalina Celestina de Melo. Alexandre é casado com Maria Eulâmpia de Lima, pais de quatro filhos, que lhes deram seis netos e três bisnetos. Vicente era casado com Maria Aparecida Ribeiro, pais de quatro filhos, oito netos e cinco bisnetos, que são a continuação da história da família. “Nosso bisavô, Hermógenes Herculano de Araújo Lima, era neto do cônego. Meu avô, que tem o mesmo nome do meu pai José Antonio era neto e assim vai...”, diz Alexandre.
20 anos depois, vereadores constituintes são lembrados
Os 20 anos da Lei Orgânica do Município de Sacramento foram comemorados pela Câmara em sessão solene realizada no dia 21, com uma homenagem aos vereadores, membros da assembleia municipal constituinte, que redigiu a Lei, em 1990: Aziz Antônio dos Santos (presidente), de saudosa memória, Rinaldo de Souza Crema (vice-presidente), Amir Salomão Jacob e Ivone Regina Silva (relatores), João Jarnaldo Araújo e João Bosco Martins (secretários) e os vereadores, Atílio César Cervato, Cleber Rosa da Cunha, Eurípedes Martins da Silveira, Heliodoro Garcia de Rezende, João Magnabosco (de saudosa memória) e Maurílio Juvêncio Bizinoto.
A solenidade foi realizada atendendo a um projeto de Resolução do vereador Bruno Scalon Cordeiro. “O mais importante é lembrarmos os 20 anos da promulgação da Lei Orgânica, completos no dia 21 de março. Há 20 anos atrás, os 13 vereadores elaboraram a carta maior do município, obedecendo à hierarquia, a Constituição Federal, promulgada em 1988; a Constituição Estadual, em 1989 e as leis orgânicas dos municípios, em 1990. É importante, como foi feito nas esferas federal e estadual, que Sacramento também homenageie os legisladores que criaram a nossa lei maior, que é o instrumento que norteia na só a vida publica dos poderes, mas também da comunidade. Com essa homenagem resgatamos não só a lembrança dos 20 anos da Lei, mas os nomes dos vereadores”, justificou o vereador.
Na mesma reunião, foram promulgadas as emendas feitas na Lei Orgânica: “Depois de 20 anos, é normal que muitas leis sofram modificações com base nas alterações das leis federal e estadual. Com essa promulgação das emendas, a nossa Lei Orgânica está totalmente atualizada, dentro das legislações vigentes no País e no Estado”, disse mais Cordeiro.
Carlos Alberto Cerchi, presidente da Câmara, também falou da importância da solenidade. “Ela se reveste no fato de que a atual Lei Orgânica faz parte da história contemporânea do país, após um longo período discricionário. É, pois, com alegria que comemoramos este dia e entregamos à população a revisão dessa Lei, assim como a versão atualizada do Regimento Interno da Câmara, justo hoje, 21 de abril, data de acontecimentos importantes no país. Com a Constituição de 1988, o país voltou a ter e a respirar a democracia, assim como celebramos também nesta data, a figura heróica do mineiro Tiradentes; o centenário de nascimento de Trancredo Neves e o cinqüentenário da fundação de Brasília, ressaltou.