Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Ambientalistas mostram estrago que usinas podem provocar no rio das Velhas

Edição nº 1188 - 15 Janeiro 2010

 

De acordo com o engenheiro Osny Zago, o trabalho consistiu de vistoria de campo, a pé e de carro, vistoria aérea com sobrevoo de helicóptero e três descidas de barco pelo rio Velhas. “Foi feito o reconhecimento completo, mapeamos mais de 100 pontos para a elaboração do relatório e no final selecionamos os pontos para dar uma amostragem geral”, disse.

A análise abrangeu levantamentos e estudos sobre a estabilidade de encostas, corredeiras, mata ciliar, o impacto de um barramento para a piracema da pirapitinga, que é um peixe da região. “Analisa-mos peixes novos e capturamos vários peixes da bacia e há peixes ali ainda não identificados,  aves nativas...Tudo foi fotografado, inclusive  entrevistas com moradores. É um documentário completo, que abrange  300 km de rio. Fomos até a primeira cachoeira próximo a  São João Batista”, informou Zago. 

Além do impacto ambiental há também outro aspecto a ser considerado: a vontade dos moradores.  E de acordo com os responsáveis, apenas uma pequena minoria dos moradores da região abraça a ideia. “A grande maioria não quer as usinas, por motivos variados, o principal deles é o  amor à terra, que herdaram de antepassados. Por outro lado, uma pequena minoria  está pensando no dinheiro. Tem gente já pensando em fazer ranchos, nas margens do rio”, disse Lester Scalon, o fotógrafo que colheu mais de 3 mil imagens da região. 

De acordo com Lester, PCH ou pequena central hidrelétrica não  trará retorno para o município. “Usinas abaixo de 30 megawatts (MW) não trazem renda para o município. Os empregos são mínimos, poucos funcionários tocam o empreendimento. Nós não somos um município com vocação industrial, portanto as usinas são desnecessárias. Nossa vocação é para o turismo, que ainda não está sendo explorado e um dos grandes potenciais é o rio das velhas com os seus afluentes”, afirmou.

Para o ambientalista um lago no rio das Velhas não vai gerar turismo. “Muito pelo contrário, além do impacto ambiental, porque ali é onde está o pato mergulhão, que está entre as 20 aves com alto índice de extinção. A pirapitinga do sul é um peixe raro atualmente, mas que está lá no rio. Ele desova no inverno e precisaria de um mecanismo de transposição. Enfim, o impacto ambiental será imenso e não vai trazer retorno nenhum para o município”, justifica Lester. 

A área, de acordo com Lester e Osny, está bem preservada, apesar da presença de moradores. “Há alguns pequenos pontos depredados, mas a maior parte do local está preservada, pelo grau de dificuldade de acesso às margens, ao contrário do que ocorre à jusante (rio abaixo).  A natureza conseguiu formar essa pequena mata ciliar lá m cima, em milhares de anos, eu pergunto: Se acabar com essa mata, nós vamos conseguir reconstituí-la? Só em milhares de anos... Ali não há terras, só pedras. A mata é trabalho de anos e anos da natureza”, informaram.

A oferta de energia do país, atualmente, é de 68 milhões de quilowatts (KW), o consumo chega perto de 60, há portanto boa sobra de energia. Os ambientalistas mostram outra solução para a geração de energia no país, mais barata e menos danosa ao meio ambiente.  Segundo o estudo, se si fizer a troca de unidades geradoras nas atuais usinas, haverá um aumento de até 40%.  “Por que políticos não falam nisso? Eles não falam em modernizar os parques hidrelétricos. Essas quatro usinas previstas para serem construídas no rio das Velhas vão gerar juntas apenas 25% da energia gerada por uma turbina de Jaguara e lá há espaço para a instalação de mais duas turbinas. É muito estrago para pouca produção. Se houver o incentivo do governo federal para o uso de energia solar nas residências, haverá uma econo-mia de 60% da energia doméstica do país”, apontaram. 

Ainda de acordo com Lester Scalon, a mobilização da população de Ituiutaba impediu a construção de usinas  no rio Tijuco. “Se todos calarem a boca, as coisas vão sendo feitas à revelia. Infelizmente, vivemos num país em que todo mundo está acostumado a se calar...E o João Carlos Kruel, presidente da Associação dos Pescadores Esportivos de Goiás – APEGO, e eu temos conseguido reverter muita coisa com o nosso trabalho na ONG que criamos. Todas as vezes que entramos com ações na Justiça cobrando a obrigação de fazer temos tido êxito. Não  queremos impedir as usinas aqui, mas é preciso avaliar bem, porque o que haverá aqui serão usinas de dez MW, usina de acender cigarro”, comparou, pedindo mobilização da comunidade.

O Prof. Carlos Alberto recebeu o material e prometeu fazer uma análise para tomar as medidas. Veja a palavra do presidente:

 

 

 

Câmara quer desenvolvimento com sustentabilidade

 

Ao receber o relatório, o presidente da Câmara, Prof. Carlos Alberto Cerchi disse que a sua preo-cupação com a possível construção das PCHs no rio das Velhas já era grande e, já como vereador, requereu o estudo. “Nosso objetivo é o de contrapor as medidas que a empresa tomou de já estar adquirindo terras, sem nem mesmo o Comitê da Bacia do Rio Araguari tomar conhecimento da construção dessas hidrelétricas. A minha postura, enquanto presidente da Câmara, não é a de defensor do meio ambiente, mas está voltada para os anseios da comunidade e esses anseios não foram ouvidos. Não houve uma audiência pública, não se fez um debate”, criticou. 

Carlos Alberto reconhece que o país precisa de energia, mas não  se pode permitir que as coisas sejam feitas de qualquer maneira. “O objetivo desse estudo, caso seja irreversível a construção dessas hidrelétricas, é que elas sejam feitas obedecendo à legislação ambiental. O país vive hoje dois lados, o da conservação ambiental e o do empreendedorismo, que é uma característica de países emergentes. Eles querem ser de primeiro mundo, mas não querem traçar um caminho diferente do que foi feito na Europa, que acabou com o meio ambiente. Queremos desenvolvimento com sustentabilidade e essa sustentabilidade passa pelos ambientalistas também”.

O presidente da Câmara  esteve com um dos empresários responsáveis pelas obras e,  na ocasião acionou  pessoas que se preocupam com as questões ambientais, inclusive o representante do Ministério Público. “Deixamos bem claro, que ele não deveria ter feito a aquisição das terras sem antes ouvir a comunidade e ele sentiu que a comunidade tem um passado de mobilidade com a construção da escada para peixes na usina de Igarapava, com os reparos na represa de Jaguara. Enfim, uma comunidade que tem bagagem. Ele sentiu a nossa mobilização e agora, a partir desse relatório, vamos tomar as medidas”, prometeu.

Segundo Cerchi, como a legislação ambiental é bastante complexa, o próximo passo, agora será  buscar a legalidade. “Vamos ver o que a legislação municipal pode fazer no sentido de dificultar esse empreendimento. Vamos analisar nesse aspecto para tomar as medidas cabíveis necessárias dentro da legalidade”, concluiu.