Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Parte para a eternidade a incansável guerreira profª. Conceição Atair Alves

Por Ivone Regina

De saudosa lembrança já agora, repousa de maneira definitiva na memória e no coração de seus familiares, amigos, professores, alunos e conterrâneos.

Conceição partiu como viveu, incansável, esperançosa, serena e elegante. Idealista e visionária, religiosa e vocacionada. Dedicou toda uma vida a serviço de valores espirituais, culturais, educacionais e políticos, cujo mundo da existência se dá no rico fluxo da família, sobretudo, do amor maternos aos seus filhos queridos Ricardo e Samuel.

Tivemos a grata felicidade de conviver com Conceição, quando trabalhamos na EE Sinhana Borges e nesta longa jornada, muitas foram as lições de humanidade e profissionalismo que em todos os momentos ela nos transmitia. Reacendia a cada obstáculo, a certeza de que seu ideal de vida profissional no magistério foi apenas uma humilde resposta ao irresistível chamado de sua verdadeira vocação.

Nas voltas da vida, partimos para searas diferentes, mas nunca perdemos o contato, seja nas horas alegres ou nas horas tristes. A força de sua personalidade e o constante desejo de construir e vencer, faziam com que a admirássemos cada vez mais.

Por mais que o espírito humano se desenvolva, procurando atingir as camadas do saber e da ciência, há sempre algo misterioso que desafia a argúcia de quantos investigam os indecifráveis desígnios da providência.

Como por exemplo, explicar que nas primícias de sua vida, Conceição, ainda na infância, já enfrentava internamente uma doença rara, púrpura hemorrágica, a qual só aflorou aos dezesseis anos.
De seu casamento em 1981, teve dois filhos, Ricardo e Samuel, sendo este último, autista, que absorveu a metade de sua vida e dedicação.

Em 08 de maio de 2002, perdeu tragicamente o seu filho Ricardo, universitário em Direito, no fatídico acidente acontecido com os estudantes.

Em 1996, foi acometida por um câncer de mama, que heroicamente conseguiu superar. Porém, em conseqüência da púrpura hemorrágica, há 20 dias foi internada no Hospital “Hélio Angoti” de Uberaba. Desta feita, Conceição já debilitada, não conseguiu superar a gravíssima crise, uma leucemia aguda ceifou a sua valiosa vida.

Lutou até o fim... Nada conseguia esmorecê-la ou atravancá-la. Pois, ainda jovem, trazia já acumulado em sua breve carreira, um acervo de serviços e conhecimentos que a credenciava à desafiante tarefa.
Assim Conceição prosseguiu na sua caminhada tranqüila, porém, com firmeza e coragem, em meio
à aridez do caminho e das incompreensões para com esses valores eternos que a levaram a tornar-se entre nós, verdadeiro paradigma.

Uma educadora incansável na defesa de uma vida digna de ser vivida por seus alunos.
Dotada de personalidade dinâmica, austera e cultora de senso grave de ordem e disciplina, sem nunca perder uma natural e sedutora maneira com a qual sempre encantou os que com ela tiveram o privilégio de conviver.

Nossa querida e já saudosa Conceição foi verdadeiro exemplo de mulher guerreira, cuja passagem pela vida, a fez imortal pelas obras realizadas e pelo grande legado deixado à nossa Sacramento, as quais dentre outras, ressaltamos: a Associação Fraterna “Corina Novelino” e a Escolinha “Tia Nina”.

Mulher de primeira grandeza, autora e personagem do enredo trepidante de nossa história e de nossa grandeza.

Aquela aparente bonomia, a cordialidade inata, a afetividade no relacionamento, em verdade, ocultavam uma extraordinária coragem, especialmente, quando em jogo o interesse de sua terra
ou os sadios princípios que orientaram sua vida.

Por isto, para uma grande MULHER com a portentosa dimensão de Conceição, “a morte é condição essencial de glória, da lenda, do mito, da ressurreição, assegurando o privilégio da imortalidade e da perpétua presença”.

A lembrança de seu nome servirá portanto, de ânimo a todos nós que a conhecemos como mulher pública e doméstica, admirada pelas qualidades excelsas que possuía, paradigma da decência,probidade e honradez, cuja vida jamais foi tisnada por um ato duvidoso ou obscuro.
Portadora dessas peregrinas virtudes que formam e informam os grandes seres humanos.
Enfim exemplo vivo de mulher forte, batalhadora, corajosa e guerreira, que soube traduzir com maestria a difícil arte de viver. De mulheres que nada mais são do que patrimônios valiosos que restauram e fazem fluir o pensamento das almas iluminadas, companheiras de incursões poéticas, que o tempo guarda para sempre e que a história registra em verso e prosa.
“Bicho”, você foi demais”... !
Descanse em paz !

(*) Ivone Regina Silva é advogada e Conselheira Seccional - OAB/MG