Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Bendito foram festejados em Sacramento pela comunidade negra, no 15º Encontro de Congado, Moçambique, Catupé e danças afro e afins que encheram as ruas do Alto Boa Vista de cores, cantos e tambores, na manhã do domingo 29.
A movimentação começou cedo para a diretoria da Guarda, presidida por Maria Aparecida de Fátima Moreira, e para os festeiros, família de Dalva Maria da Silva, Terezinha e Nicanor, e descendentes de Bigico e Divino Inácio, que receberam, para o café da manhã e almoço, 15 ternos, dos quais 14 vieram das cidades vizinhas.
15 ternos de Congada fazem procissão
O cortejo formado por 15 ternos de Congada, Moçambique e Catupé saiu em procissão da Igreja de Na. Sra. da Abadia às 15h, levando à frente em andor os santos padroeiros, seguidos pela corte, formada pela rainha Lucimar dos Reis e o Rei Weverton Inácio (Tom); Leonilda Vitorino Barbosa, a guardiã da coroa mestra, e as princesas, Simone Orlando, representando a lei do Sexagenário, 289/1885, que garantia liberdade aos escravos com 60 anos de idade e, Daniela Branquinho, a Lei Áurea, de 13/05/1888, que extinguiu a escravidão no Brasil.
Passando pela Basílica do Santíssimo Sacramento, os congadeiros faziam comovida e respeitosa reverência voltados para o altar, saindo, sem dar as costas para o templo, em direção à Igreja do Rosário, onde se apresentaram aos santos padroeiros e à corte instalada no alto da escada, com lindas cantorias da época da escravidão, recebendo do público presente muitos aplausos.
Ainda no adro da Igreja do Rosário, o vice-presidente da Guarda, Delcides Tiago (Cid), após os agradecimentos aos ternos visitantes, num tributo aos falecidos da irmandade este ano, as irmãs Rita e Iolanda Felício, Iracy Miguel e Guto, pediu um minuto de silêncio, seguido de rufar de tambores e palmas.
Após a apresentação de todos os ternos, o Congado de Sacramento comandou a coroação da padroeira da festa, Nossa Senhora do Rosário, e a festa foi encerrada com o retorno de todos para suas casas, felizes e abençoados, como bem cantou um dos capitães na despedida:
“Minha mãe, minha mãezinha / minha nossa senhora /, vocês ficam aqui com Deus, / e nós vamos embora”.
Uma festa organizada com muito amor
A organização da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito mobiliza centenas de pessoas, enfim é uma união de forças, da diretoria, da comunidade negra, do poder público, da sociedade de um modo geral que colabora com doações e dos ternos visitantes, representando uma das maiores festas da comunidade católica da cidade.
A Guarda recebe anualmente uma subvenção da Prefeitura, que este ano foi no valor de R$ 7 mil, pagos em quatro parcelas e, mais R$ 1.800,00 do poder Legislativo.
A presidente Maria Aparecida de Fátima Moreira (a Cida), reeleita depois de um profícuo mandato, à frente da Guarda há quatro anos, fala da festa e do trabalho na organização.
“- Não é fácil organizar uma festa dessas, mas graças a Deus contamos com a ajuda de muita gente. São dias de trabalho, campanha de coleta, porque a subvenção da Prefeitura não dá pra cobrir todos os gastos e nós ainda temos as viagens. Mas entra ano, sai ano, a gente vai aprendendo, caindo, levantando e mantendo a festa. O povo de Sacramento é muito bom, está sempre colaborando”, reconhece Cida.
Prossegue, agradecendo pelo apoio. “Digo de coração, sem a Prefeitura, sem os comerciantes e a sociedade que colabora, sem a imprensa e sem a união do nosso grupo não conseguiríamos realizar a festa. Por isso, peço a bênção de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito para todos. Deus lhes pague”, agradece, fazendo um tributo pela perda de quatro companheiros este ano.
“- Perdemos a tia Rita Felício e a irmã dela Iolanda; a Iracy Miguel e o Guto, pessoas que deixaram um grande legado. Hoje é o dia deles também, e eles estão entre nós, comemorando, dançando e cantando...”