Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A bela ‘Vila de Jaguara’ ontem e hoje

Edição nº 1213 - 09 Julho 2010

A partir de 1972, data da inauguração da Usina Hidrelétrica de Jaguara, até os anos 80, a Vila de Jaguara era um dos locais mais convidativos do município com o seu clube em plena atividade, o templo no seu estilo moderno, em forma de pirâmide, recebia dominicalmente os fieis moradores da Vila, amigos e visitantes, que completavam as belezas do local. 

O restaurante, a prainha, a escola, o supermercado, as ruas movimentadas, festas e bailes memoráveis, festivais de arte, o hotel com sua belíssima praia e ancoradouro de belas lanchas, a casa de visita sonho de consumo de muitos... Tudo isso fazia parte do paradisíaco local, que era uma cidade com famílias constituídas. Cidade pequena no tamanho, mas grande na atividade e no coração.

Mas, sem que percebêssemos, o local, que no fim da década de 80, chegou a ter mais de 500 habitantes, com o tempo, foi ficando deserto. Todos foram se mudando, a começar pelos chamados 'barrajeiros', aqueles moradores itinerantes que acompanhavam as empresas construtoras para novas obras. Os operadores da usina, também, aos poucos, foram se transferindo para as cidades vizinhas, Rifaina, Sacramento, Uberaba.  De vagar, a bela Vila foi ficando deserta até que um dia, tudo acabou... 

A vida ali restringiu-se à imponência da natureza com suas matas muito bem cuidadas e preservadas,  à beleza dos ipês, que sempre floresceram em agosto, mas desta feita em meio às casas abandonadas. O magnífico pôr de sol, que sempre presenteou o local, ficou amarelo de medo da solidão.  A lua, que tantas vezes enterneceu namorados, passou a perscrutar, desconfiada as ruas, em busca de olhares admiradores e maliciosos. Até o canto dos pássaros entristeceu. A Vila estava abandonada. Os últimos moradores saíram em meados da década de 1990 e,  só restou um morador, o engenheiro-eletricista Nilton Brás Moura Silva. “Aqui, antes, só faltava ter cinema”, disse, já com um certo saudosismo, por ocasião do edital de venda da Vila, em outubro de 2006.

Como o engenheiro, os guardas da gurita, viram diminuir e sumir a movimentação na cancela. O único sinal de vida era o ir e vir diário dos funcionários, que agitavam o restaurante no horário do almoço, mas um dia isso também acabou. Os zeladores da Vila deserta contemplavam com tristeza a imensidão do vazio. Eram mais de 30 anos de história que chegava ao último capítulo.  A vila virou uma 'cidade fantasma'.

E com esta alcunha, a outrora bela vida, poderia passar para a história como aquelas tantas do Velho Oeste, dos filmes e das revistinhas que faziam tanto sucesso na nossa juventude. 

 Mas, não. O espírito empreendedor de uma família foi decisivo para os destinos da Vila. O casal Ivan Sebastião Barbosa Afonso e Ruth Scalon e as filhas, Renata, Paula e Simone e compraram a cidade abandonada e se incumbiram de reativar a vida no local, reunindo ali famílias, jovens, crianças, atletas, desportistas, amantes da natureza, das artes, da beleza e da qualidade de vida. 

R$ 6,3 milhões foi o valor do investimento, mas as propostas futuras darão à vila muito mais que um resgate histórico e ecológico. Os  frutos ali colhidos serão, além do lazer e turismo, o seu carro chefe, o grande viés cultural e artístico que Ivan se propôs a realizar. E, naturalmente, aliado ao retorno econômico  que advirá do complexo. 

Há dois anos, o Parque Náutico de Jaguara desponta como um centro de de turismo, cultura e arte, não como um bairro da  cidade de Sacramento, mas regional, atraindo para as paradisíacas margens das águas claras do rio Grande, turistas de várias regiões, que se deliciam e encantam com o verdor da natureza, o sonoro canto dos pássaros. 

De lá pra cá, os ipês têm florido com mais vigor, adubado com o riso e alegria que passam pelo parque, pedalando, velejando, voando, fazendo trilhas a cavalo, de motos e bicicletas, construindo ou reformando as casas ou simplesmente contemplando a bela natureza do entorno. 

Graças à saga dessa família, a história da Vila de Jaguara está preservada, o fim com que foi idealizada, abrigar vidas e belezas, será mantido. Assim, a antiga Vila de Jaguara continuará viva e presente para sempre nos corações de centenas de pessoas, que ali cresceram,  viveram, namoraram e enamoraram-se, casaram, viram seus  filhos nascerem.

 Os saraus, os bailes, o encontro, os festivais, as boas risadas nas portas das casas estão sendo reativados, como aqueles iniciados nos anos 70, e que foram privilégios de poucos,  dos que viveram aqueles áureos tempos na Jaguara de ontem. 

E, uma das  primeiras iniciativas tomadas pelos empreendedores vêm alcançando amplo sucesso, a exemplo do I Festival de Inverno, em 2009, com objetivo de difundir e resgatar a cultura local e regional, que chega agora, mais vigoroso e brilhante na sua segunda edição; da Audiência Pública da Assembléia com a presença de ilustres autoridades estaduais e regionais, demonstram o trabalho empreendedor de Ivan. 

Aliado a esse trabalho cultural, assistimos nesses quase dois anos de reabertura, um incremento fantástico da vida turística local, com uma diversidade de atividades do turismo de aventura, como bike tour, caminhadas, cavalgadas, mergulho, encontro de motos, ultra leves, réveillon, encontro de famílias e grupos que marcaram épocas,  carros antigos... Enfim, atividades de resgate histórico, ecologia, lazer, amor e saudades.  

Com tudo isso e o muito que há por vir, com certeza, o Parque Náutico de  Jaguara ou a Jaguara de hoje, com toda a sua pujança,  será ainda objeto de muitas outras páginas nos jornais, revistas, na mídia como um todo...

Bela Jaguara de ontem, bem-vinda seja, resgatada e plena de aventura!!