Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

PIX, DOCs e TEDs! Isso dá samba!

Edição nº 1748 - 09 de Outubro de 2020

A linguagem bancária introduz mais um neologismo no mercado financeiro. O Pix que, em inglês pode ser a abreviatura de picture (quadro), mas não tem nada a ver. Então, devem ter tirado de pixel, que são os menores pontos que formam uma imagem digital, para significar, em bom português, qualquer transferência bancária, antes denominada TED (Transferência Eletrônica Disponível) ou DOC (Documento de Ordem de Crédito). Traduzindo o título acima, o Pix vai substituir o Doc e a Ted. 

Com uma vantagem, essa transação financeira é gratuita e vai ocorrer em tempo real. Podem até inventar um jíngol (jingle) ou slogan: 'Com PIX é num Pix-car de olhos!'. Coisa inédita: pela primeira vez, o sistema bancário promove algo de graça. Também pudera! O correntista que se vire, gastando nadinha do tempo de um funcionário, desculpe, colaborador (detesto esse eufemismo), atualizando a nomenclatura capitalista.  

Aliás, se segurem, nobres bancários, a falta de união da categoria vai jogar todo mundo na rua da amargura, antecipam os sindicatos, preocupados há algum tempo com a automação que chegou mecânica, passou a eletrônica e hoje se esparrama na era digital; amanhã, só Deus sabe. O que nós, pobres mortais correntistas, que ainda amargamos filas sob um sol escaldante, sabemos, é que os lucros dos bancos aumentam a cada ano na mesma proporção que os funcionários são dispensados. 

Foi-se o tempo do tête-à-tête, quando o simpático funcionário ou funcionária, assim como diz a expressão francesa, com os 'olhos-nos-olhos', no balcão (ah, os bancos tinham balcões) ou nos caixas, onde tão simpaticamente éramos recebidos pela bonita atendente, sempre bem produzida, salto alto, figurino que lhe dava um porte elegante, e derramando sorrisos nos recepcionava: 'Olá, tudo bem? Bom dia! Em que posso ajudar?' 

Foi-se o romantismo; e a oportunidade do bom recepcionista de ser educado e gentil foi transferida para um robot imponente, monstro quadrado apelidado de Caixa Eletrônico (CE) que não deixa de ser educado e, talvez, até remotamente mil vezes mais ágil. Os CEs ainda não têm a voz doce e aveludada do atendente unissex, mas já já chegam lá.  

“Olá, bom dia! Sou o CE 1, à sua disposição. Digite 1 para expedir um PIX; digite 2, se quiser continuar com o DOC ou 3, se quiser lembrar de uma TED; digite 4, caso queira fazer um depósito, o que, com essa carestia toda, não é provável que escolha a opção; digite 5 se preferir sacar uma grana para um rolê; 6, caso tenha interesse de ver o seu saldo, o que não aconselho, pois terá um péssimo restante de dia; pela sua cara sei que é professora, então digite 7,  pra saber quando o Romeu vai te pagar, o que também não aconselho, pois vai querer me chutar; digite 8, pra saber se prefere um atendimento especial em seu home-officer; digite as letrinhas JB pra saber qual bioma vai pegar fogo este mês. Ah, digite 9 pra perguntar à Michelle por que ela recebeu R$ 89 mil de Queiroz. E, por fim, digite qualquer número pra dar um t-chau!” Mantendo a calma, respirando profundamente, pergunto se posso digitar 157 e enviar minha senha: PQP!!! 

Refeito, no aconchego do lar, abro minha pequena vitrola que toca vinil, presente delicioso no último Natal, e escolho uma música do Chico, cantada por Maria Bethânia. Compartilho com todos a letra:

Olhos nos olhos

Quando você me deixou, 

meu bem

Me disse pra ser feliz 

e passar bem

Quis morrer de ciúme, 

quase enlouqueci

 Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever

Já vai me encontrar refeita, pode crer

Olhos nos olhos, quero ver 

o que você faz

Ao sentir que sem você 

eu passo bem demais

E que venho até remoçando

Me pego cantando sem 

mais nem porquê

E tantas águas rolaram

Tantos homens me amaram bem mais

E melhor que você

Quando talvez precisar de mim

'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz

Quero ver como suporta me ver tão feliz.

 

 

PS: Nos primórdios, já fui bancário por um ano. Qualquer dia eu conto. (WJS)