Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

O relativismo e a consciência

Edição nº 1640 - 14 de Setembro de 2018

 O livro “JOSEPH  RATZINGER, UMA BIOGRAFIA” de Pablo Blanco, publicado em 2004 pela Quadrante, aprofunda questões muito debatidas nos dias atuais. No capítulo: “A Consciência e a Vida Correta”, o Papa Emérito Bento XVl, apresenta-nos um estudo sobre a consciência compreendida como o núcleo da unidade do homem, desde que alicerçada em valores absolutos e universalmente válidos. Para o apóstolo Paulo, a consciência é o centro da transparência de Deus em todos os homens que são, na realidade, só um homem. Diferentemente do conceito da consciência como núcleo da unidade do homem, defende-se, hoje, a impossibilidade de haver normas morais e religiosas comuns a todos os homens: posição essa que equivale, segundo o Papa, a uma canonização do Relativismo. Na verdade, são dois conceitos que se chocam, pois de um lado está a consciência como unidade e, do outro, a consciência como “expressão do caráter absoluto do sujeito acima do qual não há, no campo moral, nenhuma instancia superior”.  

     Uma intensa jornada de reflexões, leituras e confrontos com autores conceituados, tornaram possível a Ratzinger uma visão clara das questões relacionadas à verdade (necessária à ação humana), e, também, à força justificadora da consciência errônea que, conforme alguns autores, anularia a ausência de sentimento de culpa dos que praticam atos que confrontam a dignidade humana.  Nessa direção, atos desumanos praticados, por exemplo, por Hitler, que, apesar do horror objetivo das suas ações, teria agido de maneira moralmente reta do ponto de vista subjetivo visto que, seguia sua consciência, mesmo que esta o tivesse guiado erroneamente. Desta forma, deveríamos reconhecer que tais ações, embora, desumanas, eram morais para eles. Foi então que a Ratinzger, através das posições teóricas do psicanalista Alemão, Albert  Gorres (13/09/1918- 03/02/1996),  foi possível encontrar o núcleo dessas questões. Para Gorres o sentimento de culpa pertence ao patrimônio anímico do homem ....assim,  quem for incapaz de sentir culpa, está espiritualmente doente. Visto dessa forma, diz Ratzinger, negar-se a ver culpa, ou fazer emudecer a consciência, é uma doença da alma, mais perigosa que a culpa reconhecida como culpa. Aquele que for incapaz de perceber que matar é pecado cai mais baixo do que aquele que reconhece a ignomínia de sua ação. É possível sim, ao homem, ver a verdade de Deus no fundo do seu ser criatural. É culpado, se não vê, e, prossegue: a identificação da consciência com o conhecimento superficial e a redução do homem à subjetividade não libertam, mas escravizam.... Reduzir a consciência apenas à segurança subjetiva significa a supressão da verdade.

  Analisando o relativismo sob diversos ângulos, Ratzinger abre espaços para reflexões que nos ajudam a compreender melhor os complexos desafios a que estamos expostos quando buscamos, verdadeiramente, encontrar formas de um agir correto e verdadeiro.

Sem a pretensão de esgotar um tema tão complexo, mas apenas acenar para a sua importância, gostaria de registrar o que significa para Ratzinger o caminho da consciência. Diz ele: manter o olhar focado na verdade e no bem objetivo. O bem é um só e a verdade não se contradiz, o fato de o ser humano não os atingir não relativiza as exigências da verdade e da bondade…viver com os olhos do coração abertos, purificar-se interiormente e buscar a luz são condições para a salvação humana, portanto, é necessário fazer brilhar a luz e conforme lemos no texto de João 5, 14-15 “não  pôr a Luz sob o alqueire, mas num candeeiro”.

 

Mariù  Cerchi   Borges