Queremos de volta a barbárie?

Chácara da Tia Heigorina, Sacramento, Minas Gerais. Segunda-feira e o culto começa pontualmente às 9 horas. Cá estou em um dos centros propagadores da religião Espírita no Brasil, quando a certa altura parte da interpretação de uma passagem do evangelho me leva a um estado de inquietação. 

Eu desconhecia! Já estamos no terceiro período, e a humanidade nos tempos de Moisés, ainda pouco desenvolvida, teria vencido a primeira etapa, onde a lei que disciplinava os homens era o olho por olho, dente por dente. Teríamos, então, avançado para uma segunda fase, com Jesus Cristo, que preparou o caminho para alcançarmos o momento em que vivemos, mais espiritualizado. 

A terceira era é agora e a sementes que deveriam ser lançadas são do amor e da tolerância. Deixei a chácara e, saindo pelas ruas, já poluídas por campanhas eleitorais, não foi o que encontrei. Procurei outras vozes, e bastante perturbada me perguntava: como na Sacramento de Carolina de Jesus, na Sacramento de Heigorina Cunha, tanta gente deposita esperança em Jair Bolsonaro, engrossando as fileiras e a onda de ódio e violência que cresce não só no Brasil, mas também fora dele?

Retrocedemos, pois! Felizmente nesta terceira era “evolutiva” temos o mundo na ponta dos dedos. Encontrei sim, aqui mesmo em Sacramento, kardecistas contrários ao discurso carregado de preconceito deste candidato. Foram poucas vozes ou talvez sejam mais do que imaginamos. Vozes oprimidas pela reação desrespeitosa de quem prefere distribuir armas, ao invés de livros. Por isso, ampliei a minha busca e encontrei no mundo virtual diversas manifestações religiosas, reconhecendo a candidatura Jair Bolsonaro como um perigo à democracia, à sociedade, também à evolução humana. 

Destaco aqui, um dos manifestos de um grupo que se intitula “espíritas progressistas por justiça, paz e democracia”, que inclui um abaixo-assinado, e que felizmente vem ganhando adesão de Norte a Sul do Brasil. De diferentes ideologias políticas e apoiadores de diversas candidaturas, eles defendem eleições livres, democracia plena, Estado de Direito, justiça imparcial, direitos humanos, não violência, respeito, fraternidade, tolerância e paz. 

O grupo afirma no documento que as posições do candidato não o representa e não tem nenhuma identificação com o espiritismo. E lembra, ainda, que Allan Kardec, fundador da doutrina na França, também foi perseguido e execrado por defender princípios cristãos e humanitários. Vale a pena a leitura completa  (www.cartacapital.com,br/blogs//dialogos-da-fe/manifesto-de-espiritas-progressistas-por-justiça-paz-e-democracia). 

Para finalizar, deixo aqui o convite aos sacramentos: juntem-se  amanhã aos religiosos, mulheres, negros, jovens, educadores, LGBT+, homens sim de bem e muita fé, enfim ao povo brasileiro para dizer: #EleNunca, #Elejamais, #barbárienuncamais.

por Maraísa Ribeiro