“Quando tu escreves Ao homem, carregas um navio. Mas bem poucos navios chegam ao porto. Soçobram quase todos no mar. Poucas frases há que mantenham a sua ressonância através da história.”
(Antoine de Sant-Exupery)
Carolina Maria de Jesus foi pela vida afora carregando um navio com uma preciosa carga, composta por seus sentimentos, por sua aguçada sensibilidade e pelas impressões que Bitita colhia do ambiente em que vivia. Da forma mais simples que há, ela foi transformando o seu cotidiano em um tesouro de inestimável valor histórico e social.
A forma simples e despretensiosa com que escrevia, relatando com uma poética fidelidade os acontecimentos do dia a dia foi transformando o diário de Bitita em um precioso navio mercante, o qual, o mar representado pelo tempo não conseguiu afundar.
O navio superou obstáculos, mercadores desses mesmos mares invejaram tal carga, não podendo obtê-la para si, já que representava a sua criadora, tentaram desvaloriza-la. Tudo em vão.
As palavras de Bitita manteve sua ressonância através do tempo e da história, tanto que em DOIS MIL E QUARTOZE, ano de nosso Senhor Jesus Cristo, comemora-se o seu centenário, ou as cem primaveras de Carolina Maria De Jesus.
Que o legado deixado por Bitita, nos faça refletir sobre o papel da mulher na sociedade e na vida.
Que a valentia e a coragem que essa mulher demonstrou ao enfrentar de cara limpa todas as dificuldades, impostas por sua condição de mulher negra e pobre nos faça também de caras limpas enfrentar e lutar por nosso direitos e sonhos.
Que a capacidade que Bitita teve de transformar a seu favor todo tipo de obstáculo que encontrou nos faça acordar desse comodismo medíocre e superar nossos próprios medos.
Maria Machado