Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Ensaio

Edição nº 1387 - 08 Novembro 2013

A Sístole e a Diástole, na janela de um esfignomanômetro, observavam o hipocondríaco mancebo que, sub-repticiamente afanava os prescritos receituários.  Hipocondríaco que era, o mancebo tirou o trambelho e obtemperou com o jovem rapaz atendente: dá-me um remédio, nem que seja um placebo.

Um esculápio que ouvira  as enervadas palavras do tafulão exprimiu-se contemporizando: - devias auscultar-lhe cardiopaticamente, utilizando-se do estetoscópio, afim de dignosticar-lhe o mal. E, cantando uma nênia, afastou-se cheio de empáfia.

Um autocrata que acabara de se aproximar do mancebo, estilizadamente pronunciou uma prosopopéia, cheia de atavismos, querendo, de alguma forma, impressionar o rol de pessoas que adentravam  o estabelecimento farmacêutico.

Neste ínterim, a Sístole apelou para a Epopéia, que acabara de chegar, rogando-lhe, desabridamente, que a auxiliasse a conter a incursão atabalhoada do inditoso mancebo.

Foi neste instante que o Palíndromo chegou logo destilando sua condição de traz para frente: “Socorram-me subi no ônibus em Marrocos”. Tudo em confusão, até que o Hipocondríaco solicitou, num murmúrio inconteste: - Onde está aquela pérfida Hipotenusa que se escafedeu após misturar-se com dois Catetos.

Foi quando o eminente geômetra, mais conhecido por Pitágoras, garantiu que os Catetos formavam com a Hipotenusa um triângulo em que o Coseno do lado oposto da reta estava mirando, insidiosamente, a Tangente, irmã da Cossecante.

O cronômetro dava os últimos sinais da alvorada, quando todos se entenderam, de uma vez por todas, e chegaram à conclusão de que, ambas, Sístole e Diástole eram da mesma família de Hipocondríaco.

Sem tir-te nem guar-te, acabou-se a discussão. 

Saulo Wilson é advogado

aposentado, editor de ‘Nossa Terra, jornal sacramentano da 

década de 1950