Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Juninho, irmão, camarada de 20 anos de ET, aquele abraço!

Edição nº 1677 - 31 de Maio de 2019

Itamar Júnior, o Juninho da Gráfica, ao lado de seu tio Aloísio, é o último tipógrafo da cidade. Termo que desapareceu entre as profissões depois da informatização das gráficas com o advento do serviço digital. Neto e filho de Seu Lulu (José Lucas da Silva Júlio), Juninho e Luizinho, respectivamente, sempre tiveram o DNA da família, que remonta ao início do século passado. Raiz mais antiga da cidade no campo da comunicação gráfica. 

 

O Picólé e O Yo-Yô são dois pequenos tabloides de 1933; A Voz da Mocidade é de 1938 e o Vigilante é de 1945. Mas o mais longevo deles em circulação foi A Semana, que tinha como redator, Homiltom Wilson, que também fundou a Typographia Orion, em 1925.

O último jornal composto por tipos de composição foi 'O Passa Perto', da ODUS (Organização dos Universitários Sacramentanos) que iniciou sua circulação em 1962. São os que me vêm à memória, mas tem mais. A exceção d'O Passa Perto, eram todos impressos na Typographia do poeta Homilton, onde trabalhavam os tipógrafos Lulu, (José Lucas da Silva Julio), seu irmão, Helianto Silva (Reverendo) e José Borba, este vindo de Uberaba. Quando Lulu comprou a gráfica, mudou o nome para Gráfica Brasil. E daí vieram os filhos, Itamar, o neto Juninho...

A Semana, como o nome indica, era um 'hebdô', como chamávamos a partir dos anos 60, quando também vieram à tona O Pasquim e o ET, que nasceram juntos, em 1968. O termo vem de hebdomadário, que mais parece uma espécie de dinossauro. Mas 'hebdô' mesmo eram só A Semana e o ET, depois de alguns anos de circulação quinzenal. 

O neto de Seu Lulu tinha 12 anos quando começou na Gráfica Brasil. Moleque inteligente, Juninho estava entrando no antigo Ginásio (6º ano) quando começou a separar os tipos nas caixas, um tabuleiro enorme onde eram guardados separadamente em caixinhas quadradas de madeira, esses caracteres de metal minúsculos ou maiúsculos com formatos e tamanhos diferentes, como o corpo hoje das letras no teclado do lap-top. 

Em cima de um caixote para alcançar os tabuleiros mais altos, logo decorou tudo, orientado pelos tipógrafos mais experientes, o pai Itamar, Reverendo, Tody... Os caracteres eram colocados um ao lado do outro formando as palavras, linhas, textos e ajeitados dentro do componedor. Dali eram transferidos para uma chapa metálica no formato do papel que seria impresso... Lembra Juninho que “para compor com os tipos móveis uma folha no formato A4 gastava-se um dia de trabalho... Mas era o serviço que eu mais gostava, a tipografia. No teclado do computador, hoje, compomos em poucos minutos”.

Conheci Juninho sempre, mas o convívio mais fraterno aconteceu no início deste milênio, quando me procurou para informar que a Gráfica Brasil adquirira uma máquina plana capaz de imprimir o formato tabloide inglês (43 x 28 cm) do jornal O Estado do Triângulo. Desde então, valorizando o comércio local, transferimos a impressão para sua gráfica. E lá se vão quase 20 anos de parceria. Tempo mais que suficiente para relembrar essa história, num momento também especial, quando Juninho decide, por questão de saúde, alugar o espaço para um de seus antigos funcionários, o impressor Fernando  Araújo.

Ao lado de sua mãe, Chiquinha, mulher maravilhosa, encanto de bondade e singeleza, Juninho desfia, lacônico, com sua peculiar humildade a história que lembramos nesta homenagem. A memória está presente em cada palavra que sai à custo de sua simplicidade franciscana. Como que nenhuma importância tivessem esses mais de 40 anos forjando tipos, compondo, imprimindo e dando vida aos textos. 

Textos em diferentes estilos e modelos, desde os tradicionais convites de sepultamento e missa de 7º dia, que eram colados com 'durex' nos postes da cidade, convites de casamento e de formatura às propagandas políticas e santinhos... A gráfica imprimia também livretos e revistas. “Me lembro de uma Revista de Araxá e a Destaque IN, do Prof. Berto. Mas o carro chefe eram as impressões de notas fiscais, em especial para duas empresas, a Usina Mendonça e o Laticínio Scala”, informa, recordando que os convites fúnebres não tinham dia nem horário. 

“Era comum na época a impressão de um folheto para anunciar a morte de alguém. Muitas vezes acordávamos de madrugada para rodar os convites que anunciavam a morte, o horário do sepultamento e a missa de 7º dia”, lembra Juninho, informando que as chapas já compostas, com um modelo padrão, ficavam prontas, alterando apenas o nome do falecido e os horários do velório, sempre na casa do falecido, do sepultamento e da missa. Chiquinha, atenta, acrescenta que a Gráfica fabricava também envelopes. “O Itamar comprou uma máquina para fabricar envelopes que acompanhavam os convites com o mesmo tipo de papel cartão”.

O preço do progresso e de sua tecnologia tem também suas agruras. E esta é uma lembrança triste para Juninho, ao ver que a informatização causou o fechamento de gráficas tipográficas Brasil a fora, aposentando tipógrafos, linotipistas, chapeiros... A informatização que chegou com o computador começou a revolucionar o serviço das gráficas derrubando os obsoletos processos analógicos. 

“Veio a era das impressoras off-set que substituíram as pesadas chapas por matrizes em papel vegetal ou fotolito, que aderimos, adquirindo algumas máquinas para esse tipo de impressão. Mas com essa evolução, os serviços nas empresas também se transformaram, todos os impressos fiscais passaram a ser eletrônicos, levando por terra nosso carro chefe, a nota fiscal, diminuindo substancialmente a demanda”, justifica. 

Enumera Juninho as máquinas que serviram a Gráfica Brasil, começando pelas manuais tipográficas, uma Hamada Star; uma Catu; uma Grafo Press e uma uma Bremensis, de 1954, às off-set. “Enquanto havia demanda, fomos nos atualizando com novas impressoras até imprimir o formato tabloide do jornal ET, com uma Solna 125. Adquirimos ainda uma Heildelberg e uma Adast 526 bicolor, até que joguei a toalha”, ressaltando o trabalho de sua equipe. “Mas a gráfica continua com sua qualidade de sempre, nas mãos de um grande profissional, o Fernando, que tem anos de experiência. Um de nossos antigos impressores, que continua, com sua equipe, essa tarefa de colocar no papel todo esse serviço de comunicação e informação”.

Ao enaltecer o trabalho de Juninho nessa jornada o ET quer juntar também essa modesta consideração a todos os profissionais que passaram pela Gráfica Brasil e que, de uma forma ou outra, direta ou indiretamente contribuíram para que as edições do ET, a cada sexta-feira, estivessem nas ruas. Começando com Itamar e Luizinho e passando por Custódio Assis dos Santos, o Tody, Tarcísio (Pardal), Paulo, Alemão, Florisvaldo, Fernando, Murilo... 

Ao Juninho, companheiro de sempre, todo nosso reconhecimento, nossa unidade e força para o seu restabelecimento. E por tudo o que já fez, parabéns pelo legado deixado na história da imprensa sacramentana. Receba o abraço carinhoso da turma do ET. (WJS)