Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A Deus, Maria do Carmo

Edição nº 1460 - 10 Abril 2015

Maria do Carmo Aguiar Santana 69 morreu na manhã da quinta-feira 2, na sua residência, enquanto dormia. A morte de Maria pegou a todos de surpresa, representando uma grande perda para a família, na educação e na Igreja onde viveu uma vida de apostolado, sempre muito atuante na comunidade paroquial como catequista e nas diversas pastorais. Seu corpo foi velado na Igreja Matriz de Na. Sra. da Abadia, por centenas e centenas de pessoas e foi sepultado às 18h, após a missa de corpo presente, concelebrada pelos padres Eduardo Ferreira, Sérgio Márcio de Oliveira e Gil Araújo.Viúva de João Santana, Maria deixa o filho Alessandro, os irmãos Antonio, João Batista, Luiz Carlos e Orlando, muitos sobrinhos e um vazio no coração de todos os familiares e amigos, pois ela viveu intensamente, amou a todos verdadeiramente. Foi um  belo exemplo dos ensinamentos de Cristo, o exemplo de amar a Deus e a todos incondicionalmente, sempre com um sorriso estampado no rosto, cativando a todos. Numa conversa entre amigos, o ET testemunhou um desabafo de uma pessoa cujo nome não será divulgado. “Maria sempre bem e de bem com a vida, alegre, sorridente,  magrinha,  um corpo de menina, andando sempre a pé pra baixo e pra cima, sem vícios, sempre cuidando da saúde... Como morre, assim, repentinamente? O que resta para nós outros?”, perguntou, talvez a si mesmo. Diante desse testemunho,  tem razão o compositor Renato Russo: "É tão estranho, os bons morrem jovens...". 

 

Luizão fala de Maria do Carmo 

De acordo com o irmão Luiz Carlos Aguiar (Luizão), Maria foi encontrada pelo filho Alessandro, por volta das 6h30 da manhã. “Maria se levantava às cinco horas da manhã. Nem sei por quê. Fazia café e chamava o Alessandro para ir trabalhar. Recesso no trabalho naquela quinta-feira, mesmo assim ele acordou cedo e como a mãe não apareceu foi até seu quarto quando a encontrou.

De acordo com o irmão, Maria estava deitada de lado, inerte, quando o filho a encontrou. “Alessandro me ligou desesperado...  Dr. Pedro esteve em sua casa e disse que ela havia morrido poucos minutos antes”, relata, lembrando de uma sensação estranha que teve justo naquele horário. 

“- Ás seis e pouca da manhã, eu acordei com uma sensação estranha e peguei com força a  mão da Iris (esposa). Acho  que foi um aviso. Vi a Maria no dia 1º. Estive lá por volta das 17h,  ela estava passando roupas assentada, como sempre fazia e vendo novela mexicana. Hoje ficou lembrando, que ela era sempre muito brincalhona e estava diferente quando estive lá”, relata, emocionado, lembrando mais o quanto ela gostava da família.

 

“- Maria era muito querida, tinha loucura pela família. Maria viveu para a família e para a Igreja. Foi uma bênção ela ter sido velada na igreja. Uma perda grande. para nós foi como se perdêssemos nossa segunda mãe, ela era a mãezona. Todos os domingos o almoço era na casa dela. Ela fazia questão disso”. 

 

De onde vem a força de Maria...

Filho de Manuel Aguiar Primo e Iracema Alves Moreira ambos falecidos.  Luizão é o quinto filho do casal, que perdeu uma filha ainda criança. Maria era a segunda da prole e a vida não foi fácil, por certo daí veio a sua força, juntos com a fé em Deus, que sempre norteou sua vida. 

Maria e os irmãos cresceram ali na rua Eurípedes Barsanulfo, antiga rua do Zagaia, numa casa que ainda pertence à família  e que a mãe adquiriu em troca de uma máquina de costura. “Mamãe costurava demais, deu uma máquina de costura em troca daquele pedacinho de chão e ali vivemos até cada um se casar e procurar seu canto. Aí ficaram mamãe, o Toninho e a Maria que já era viúva”, relata Luizão, lembrando mais a vida difícil.

“- Ali mamãe trabalhou demais para nos criar. Viúva com cinco filhos ela foi à luta, costurava, lavava roupas para fora, carregando água nas costas do chafariz até em casa... E nós, os homens começamos cedo no trabalho na fábrica de cachaça Batista & Bonatti. Eu tinha dez anos quando comecei a trabalhar com eles. Nós quatro ficamos na Batista até fechar. Mas nossa vida não foi fácil, passamos muitas necessidades. Mamãe e  Maria trabalhando em casa”, conta mais. 

Lembra o irmão que Maria estudava para ser professora. “Mas era uma dificuldade. Lembro muito bem que quando ela se formou, não tínhamos o dinheiro para comprar o anel de formatura, aí os colegas de turma fizeram uma vaquinha e compraram o anel para ela, uma felicidade. Maria era muito abençoada”. 

De acordo com Luizão tão logo se formou, Maria começou a trabalhar. “Ela foi trabalhar no Quenta Sol. Fazia muita falta em casa, mamãe chorava demais de saudade, porque ela vinha a cada 15 dias,  às vezes, só  no fim do mês.  Não era como hoje que os professores vão e voltam diariamente. Depois foi pra escola da Jaguara e depois de muitos anos ela veio pra cidade e continuou professora até se aposentar. Escola era uma paixão na vida dela”.

Luizão reconhece que a irmã foi uma lutadora incansável, tornando-se viúva muito jovem. “Maria e João namoraram oito anos e se casaram em 1973. Cinco anos depois ficou viúva, aos 32 anos e com o Alessandro pequeno, ele tinha três anos. João era a alma gêmea dela, porque ela nunca mais se casou. Ela e o Alessandro foram pra casa da mamãe que faleceu em 1986. Em 2000, Maria comprou a casa no Maria Rosa e se mudou com o filho e o Toninho, nosso outro irmão, que ela nunca abandonou. Mamãe tinha medo de ele ficar sozinho, mas Maria cuidou dele como um filho, aliás, nós a atemos como nossa segunda mãe”.

De acordo com Luiz, mais que se dedicar à família, Maria se dedicava a todo mundo,  se preocupava com todos, principalmente os conhecidos. “Ás vezes a gente brincava com ela, dizendo: 'Maria, que rezação!' E rindo, ela respondia: “Tenho que rezar por quem não reza e  vocês também não rezam”. 

 

Finalizando, Luizão conta que Maria tinha alguns problemas de saúde como pressão alta, mas era muito atenta, fazia tratamento. “Ela cuidava muito de sua saúde, ia  aos médicos aqui, em Uberaba. Tinha também um problema de artrose  nos dedos, só que  ela nunca deixou de cuidar da sua saúde. Mas, apesar desses problemas,  ela nunca demonstrou fragilidade, estava sempre disposta, alegre, sorridente,  andando  pra cima e pra baixo, e sempre a igreja, ela não parava. Agora retornou à Casa do pai. Maria foi um exemplo”, finaliza com os olhos rasos d'água.