Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Alzira Amui mostra os motivos da demolição da Vila Sinhazinha

Edição nº 1456 - 13 Março 2015

Em entrevista concedida ao ET esta semana, a presidenta do Grupo Espírita Esperança e Caridade, Alzira Bessa França Amui falou sobre a nova destinação do espaço onde estavam construídas as casas da Vila Sinhazinha.

 

ET - Quando foi construída a Vila Sinhazinha?

Alzira - A Vila Sinhazinha situada no bairro João XXIII, foi construída na década de 60 pela  Mocidade Espírita do Grupo Espírita Esperança e Caridade, com finalidade de dar amparo  às famílias necessitadas, que viviam em Sacramento naquela época.  Várias famílias foram beneficiadas com este trabalho, não só com suas moradias como também se alimentavam na Casa Assistencial Maria da Cruz (Casa da Sopa). Hoje, a Casa Assistencial Maria da Cruz oferece durante a semana oficinas de trabalhos manuais,  artesanato e culinária para as famílias que desejam ali aprender . 

Na década de 90, os diretores do Grupo Espírita Esperança e Caridade, conseguiram com o poder público, colocar rede de esgoto  para atender as necessidades de todas as casas. A partir daí, foram instalados, banheiros em todas as residências, pois até então eram fossas. Várias melhorias foram ali realizadas, como reforma integral da Casa Assistencial Maria da Cruz e demais residências, sendo construída uma casa  para  Atendimento Fraterno.

 

ET – Que motivos levaram o Grupo Espírita Esperança e Caridade a demolir as casas da Vila Sinhazinha?

Alzira - Com as mudanças políticas na área social, surgiu o plano de aquisição para a casa própria. Vários moradores foram contemplados com sua residência de início, no conjunto habitacional do Cajuru.  A partir daí, foi diminuindo a procura  para  morar nas  casas da Vila Sinhazinha. 

Com o tempo várias casas foram ficando sem condição de serem habitadas, o que levou a diretoria a demolir algumas delas. A partir daí enfrentamos outros problemas sociais, que muito nos preocupavam. As despesas altas com a Cemig foram acarretando outras dificuldades, porque os moradores não efetuavam seus pagamentos, acarretando ao Grupo Espírita maiores despesas. 

 

ET - Como procederam essa desocupação, foi toda amigável, com os moradores sendo informados que deveriam desocupar as casas?...

Alzira - Sim. Somando as dificuldades o Grupo Espírita enviou no ano de 2012 uma  carta/ofício para todos os moradores. O assunto principal era informar-lhes que eles teriam um ano de prazo para desocupar as casas da Vila Sinhazinha por estarem elas em péssimas condições de moradia. Esta carta foi redigida  conforme recebemos orientação do  promotor  Dr. José do Egito. Aguardamos até dezembro de 2013 e várias famílias se despediram da Vila, com respeito e agradecimento, outros não.

 Aguardamos todo o ano de 2014 para que todos deixassem suas moradias.  A partir daí, passamos a demolir as casas.   Permanecendo apenas duas casas que servem para atividades sociais ali realizadas. Com o desmanche das casas, as duas que restaram já foram depredadas por  pessoas que esqueceram  quantos milhares de prato de sopa esta casa serviu e ainda vem servindo. 

 

ET - Ainda faltam casas para serem demolidas ou vão conservar algumas?

Alzira - Do outro lado da Vila Sinhazinha, ainda temos seis casas que serão conservadas, reformadas para abrigar casais idosos que não conseguiram manter sua residência por vários motivos. Daquele  lado da Vila Sinhazinha,  existe uma horta de verduras que abastece a  alimentação das  trezentas crianças  matriculadas na Escola Eurípedes Barsanulfo. 

 

ET - Que finalidade terá a área desocupada?

Alzira - Comunicamos a toda a sociedade sacramentana  que acreditamos  que a Vila Sinhazinha, prestou seu grande trabalho social às famílias necessitadas de Sacramento, portanto, ela hoje terá  outros fins, que trarão grande oportunidade no campo da educação tendo em vista o objetivo da instituição.

 

Mocidade Espírita funda Vila Sinhazinha

A Vila Sinhazinha foi fundada pela União da Mocidade Espírita de Sacramento (UMES) no início da década de 60. Abner Ferreira Gomide, um dos integrantes do grupo, lembra bem da história quando estavam construindo uma casa no antigo bairro 'Atrás do Morro' (hoje, João XXIII) e Alberto Amui anteviu a ideia de construir um conjunto de casas em uma área vaga em frente a uma sombrosa árvore onde estavam descansando. “Fomos até o prefeito, na época, José Sebastião de Almeida, e ele nos concedeu a área para aquela finalidade: construção de casas para as famílias pobres que habitavam o bairro com casebres quase todos cobertos de capim ou folhas de indaiá...”. 

Já a UMES foi fundada por Leopoldo Machado, um jovem espírita que chegou a Sacramento vindo do Rio de Janeiro. “A ideia partiu dele e logo foi assumida pelos jovens espíritas da cidade que na época já manifestavam esse ideal de voluntarismo. Quando lançamos o projeto de construção, idealizamos o nome, 'Nossa Vila', e fomos conversar com Mãe Corina que, nos sugeriu um novo nome, 'Vila Sinhasinha', em homenagem a ...., mãe de Heigorina Cunha, que passou a vida confeccionando enxovais de bebês para as mães gestantes daquela comunidade pobre”, recordada mais Abner, informando que Edson Pícolo foi o primeiro presidente da UMES, que também recorda a empreitada assumida pelos jovens. 

“- Ali 'atrás do morro', como a gente chamava na época, existiam inúmeros casebres, na verdade ranchos de capim habitados pelas famílias mais pobres da cidade, além de doentes que recebiam doação de alimentos de mamãe, da Maria da Cruz e outras pessoas que ajudavam”, conta, lembrando também que antes da Vila Sinhazinha, sua mãe, Alvarina Rezende da Cunha e Júlio Garcia, um antigo funcionário da Prefeitura, com a ajuda de jovens espíritas, iniciaram a construção das primeiras casas fora da Vila. 

 

Conta mais Abner que seu irmão, Adolar Ferreira Gomide, foi o segundo presidente da UMES e na sua gestão foram construídas as cinco primeiras casas das mais de 20 construídas na área. Entre os jovens que a cada final de semana lá estavam para ajudar nas construções, foram lembrados ainda José Rosa Camilo, Vani Ramos, Nenzinho Fraga, Francklim Vieira, Izaias Sarmento, Euripão do Banco do Brasil, Walteron Cunha, João da Camurça, Alzídio Tavares, Washington Bertolucci, Rubens Sérgio e os dois mais longevos da turma, mas que também ajudaram, o Hermínio Pícolo e Abrãozinho Abdão Amui. Havia também mulheres que ajudavam na cozinha, na preparação do almoço, como Tereza Pícolo, a mãe da Conceição, Dirce Valentim e muitas outras.