Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Cidade ganha dois artistas

Edição nº 1133 - 21 Dezembro 2008

Aposentado pelo Banespa, o jornalista Odair Papaiz, o Dadá Rodrigues, 55 anos, veio com mala, cuia e a simpática esposa a atriz, Rose Del Carmen, para trabalhar em Sacramento, cidade que sentiu um ‘amor à primeira vista’. “Sacramento tem uma aura especial, uma espiritualidade que a gente sente no ar, quando estamos aqui”, disse em entrevista, muito à vontade, na redação do jornal, onde esteve com Rose para falar um pouco de sua vida e de seus projetos na cidade. 

Dadá na verdade além de jornalista, é ator, diretor, dramaturgo, professor de teatro, autor de várias peças, inclusive infantis. Sua intenção é investir na área cultural, a exemplo do que fazia em São Paulo e noutras cidades por onde passou, acompanhando a mulher a cada transferência de agência da Caixa Econômica Federal. Fundador do Grupo de Atores de Teatro do Universo – GATU, Dadá garante que o grupo continua vivo com ele, a mulher e seu filho músico, Nauê Guimarães, e quer  revivê-lo na cidade, descobrindo novos talentos... 

Dentre as peças dirigidas por Dadá Rodrigues, estão, “A desventura de um morto vivo”, de Domingos Pelegrini Júnior; “Bailei na curva”, de Júlio Conte; “Cala a boca já morreu”, de Luiz Alberto Abreu; “A morta”, de Osvald de Andrade; “Ponto de partida”, de Gianfrancesco Guarnieri, dentre outras, além das oito peças escritas por ele mesmo. 

Rose Del Carmem é também atriz, figurinista, cenógrafa, iluminadora e sonoplasta, e já atuou em várias peças dirigida pelo marido Dadá. E como o marido foi premiada 'Melhor Atriz', nas III e IV Mostra de Teatro (2000/2001), na Casa da Cultura Salvador Ligabue, em São Paulo e, na III Mostra de Teatro de Santo Amaro, no Teatro Paulo Eiró. Veja a entrevista.

 

ET - Conte-nos como você Jornalista largou tudo e passou a dedicar-se à arte da representação, a arte no palco.

Dadá - Eu tenho um fato curioso na vida, o meu primeiro contato com o teatro foi aos nove anos, quando li ‘ Fausto’, de Goethe e interessei muito pelo teatro, é claro que eu não tinha entendimento do que era Fausto. Comecei a pesquisar e, aos 15 anos de idade pisei pela primeira vez num palco, na cidade de Suzano (SP), onde nasci. Aos 18 parei, mudei para São Paulo, cursei Jornalismo e fui ser militante político, o que me rendeu uma prisão de 11 anos como preso político. A Ditadura me fez ser mais homem e entender as razões das divergências do plano social do nosso país. Deixei o jornalismo, porque senti que havia uma outra maneira de me expressar, através do teatro.

 

ET – Deixando o jornalismo para dedicar-se ao Teatro, como se aprimorou na arte?

Dadá - A partir do momento que percebi a dimensão do diálogo comecei a me aprofundar, fiz Escola de Teatro São Pedro, várias oficinas e oito anos de curso de Dramaturgia e Direção, no Teatro Sergio Cardoso, com Chico de Assis, o mestre do teatro brasileiro. Ele era professor e pai, que agora no dia 10 de dezembro completou 84 anos e sabe tudo de teatro. E depois que me engajei, não parei mais. 

 

ET – Até fundar o G.A.T.U...

Dadá - O Grupo GATU é o terceiro, mas foi ele que me deu mais raiz, porque formamos atores para fazer parte do grupo e nesse grupo estava minha esposa Rose. O GATU era formado por 13 integrantes. Mudamos, mas o grupo existe em três pessoas que não vão deixá-lo acabar nunca, continua vivo comigo e a Rose. Conhecemos-nos no teatro e nos casamos no teatro e na vida. 

 

ET – Ao expressar sua vontade de ser ator, os jovens, geralmente, pensam em ser ator ou atriz de TV. Há diferença entre ator teatral e ator televisivo?

Dadá - Não, o ator pode fazer as duas coisas, entretanto todo ator deveria primeiro fazer teatro. O primeiro passo dele deve ser o teatro. Não vejo com bons olhos o ator que vai direto para a TV e se diz ator. Hoje temos na TV carinhas bonitas que pensam que são atores. 


ET – A tecnologia cada vez mais adiantada da TV pode um dia acabar com o Teatro?

Dadá - Acreditava-se que a vinda da TV iria atrapalhar o Teatro, essa foi uma preocupação dos diretores. Isso porque a TV é um meio de comunicação barato, ou seja, as pessoas assistem em casa, enquanto o Teatro tem um público mais restrito. E, de fato isso aconteceu uns três ou quatro meses, mas depois voltou ao normal. Outra grande vantagem do Teatro, é muito mais interativo. As pessoas estão frente a frente com o ator, fazem parte daquele momento, da trajetória que acontece no palco, enquanto na TV, perde-se isso. O contato vivo não existe, por isso o Teatro permanece vivo e nunca vai desaparecer. 

 

ET - Mas o público do teatro é reduzidíssimo ...

Dada - O público é reduzido e hoje vemos que a partir do momento que a rede Globo começou a lançar rostinhos bonitos, esse pessoal que se diz ator, de rostinho bonito, vai para o Teatro e encarece o ingresso e nos complica. A fama dos atores televisivos repercute no teatro e essa é uma das dificuldades, que o Teatro passa. A platéia vai não para assistir ao espetáculo, mas para ver a carinha bonita do ator ou atriz. Nós que trabalhamos com Teatro temos essa dificuldade, porque não fazemos Teatro por fazer, fazemos uma obra prima que é arte de representar. Nós disputamos com o rostinho bonito...

 

ET - E você quer reviver o GATU em Sacramento?

Dadá - Exatamente, a raiz do GATU está aqui. Mudamos definitivamente pra cá e ao que me parece tomamos a água daqui e fincamos pé. Há aqui uma energia muito positiva.

 

ET - Mas como vocês chegaram a Sacramento?

Dadá - É uma história até engraçada. Tudo começou com a transferência de Rose, que é funcionária da Caixa Econômica Federal. A nossa idéia, já há algum tempo, era mudar para o interior. São Paulo já nos esgotou. Ficamos lá em 2007, porque trabalhávamos com cinco teatros e não queríamos abandonar o que tínhamos iniciado. A princípio, a transferência dela saiu para Piedade (SP), onde havíamos apresentado a peça “Ponto de Partida”, de Gianfrancesco Guarnieri. O prefeito nos convidou para montar uma escola de teatro na cidade, mas a transferência não deu certo. Tentamos a cidade de Franca, porque residíamos há quatro meses em Rifaina, não deu certo. Em Rifaina tentamos fazer uma área cultural, mas não deu certo, por questões políticas. E parece que Deus nos encaminhou para cá. Um dia saiu a transferência dela para Sacramento, nunca tínhamos ouvido falar da cidade...

 

ET - Nem na novela Passa perto? 

Dadá - Não assistimos a novelas. Não sabíamos onde era Sacramento. Se tivéssemos assistido à novela, saberíamos onde ficava. Saiu a transferência e como estávamos em Rifaina, viemos conhecer Sacramento e ficamos encantados. Durante dois meses viajamos de Rifaina a Sacramento, até arrumar pra mudar. Amamos Sacramento no primeiro momento. Nos encontramos em Sacramento, cidade que tem uma energia muito forte, uma espiritualidade muito forte. Culturalmente é fabulosa, já deu pra perceber, sem contar que um dos grandes atores é daqui, o Lima Duarte. Vamos ficar aqui e temos projeto para jovens atores. 


ET - Que tipo de projeto?

Dadá - Precisamos de um espaço, para as aulas teóricas e práticas, um espaço de boas dimensões para expressão corporal. E buscar parcerias com órgãos públicos para essa parte. Não tenho como manter uma escola sem apoio, não tenho recursos suficientes para isso. Chegamos num momento de transição de governo. Um excelente governo, pelo que estou sabendo, o prefeito eleito é novo, jovem e acredito que se sentarmos e passarmos o nosso projeto poderemos fazer um bom trabalho com os jovens. 

 

ET - Você tem experiência de projetos em cidades pequenas?

Dadá - Atuamos em diversas cidades do interior e posso dizer que por várias cidades pelas quais passamos, conseguimos montar núcleos de teatro. Nas cidades do interior nos deparamos com camponeses, jovens de periferia e a gente consegue muito mais adeptos da área rural ou das periferias do que dos centros urbanos, porque eles não têm acesso, não têm o que fazer, precisam de incentivo. Isso aconteceu na cidade de Piedade.  E isso ocorre também na grande São Paulo, muitos atores saem das periferias. 

 

ET - Sejam bem-vindos ao Passa Perto e muito sucesso para vocês.