Uma cultura mais própria para a produção em clima mais frio, o trigo, está ganhando espaço no município. Nos últimos três anos, segundo um dos produtores, José Walter de Oliveira, a produção alcançou 5 mil hectares plantados. “Foi por essa razão - justificou Walter - que o Sindicato dos Produtores Rurais de Sacramento trouxe à cidade para uma palestra, o agrônomo Eduardo Elias Abrahim para falar aos agricultores, em reunião realizada na sede do sindicato na noite dessa quinta-feira 10. Recebido para um café da tarde na casa do produtor, Abrahin concedeu uma pequena entrevista ao ET.
ET - Que mensagem o Sr. estará deixando aos agricultores de Sacramento em relação ao trigo?
Eduardo - Minha mensagem aos produtores hoje é de introduzir mais essa opção para a safrinha e o sistema produtivo. Além de ser uma opção a mais para a safrinha, o trigo é também uma opção de condição de sistema, pois ele entra com um benefício muito grande no sistema para produzir soja, melhorar a produtividade, lidar com o manejo de ervas daninhas, enfim uma série de benefícios que o trigo traz para o sistema. Enfim,
considerando que a safrinha é a cultura plantada após a safra principal que é a soja, minha mensagem é mostrar aos agricultores que, entre as inúmeras opções do plantio da safrinha, o trigo é uma delas, e uma boa opção.
ET - Para se adaptar ao cerrado e ao clima quente de nossa região, essa semente de trigo é modificada geneticamente?
Eduardo - Não. Embora sendo o trigo uma cultivar, tipicamente de clima frio, as sementes não foram geneticamente modificadas para serem plantadas em Minas Gerais e Goiás, as sementes foram apenas adaptadas para o cerrado, ou seja, foram feitos cruzamentos de materiais, são variedades criadas para produzirem no cerrado. O trigo, na verdade, é comum no sul, mas não tem obrigação de frio. Aqui na região de Sacramento além do solo propicio, há a altitude necessária para a condição climática ser favorável ao trigo. Portanto, não é uma semente transgênica, isto é não recebem novos genes para modificar sua estrutura interna, são variedades desenvolvidas e adaptadas para serem plantadas no bioma cerrado, muito comum nos estados de Minas e Goiás.
ET - Comercialmente, vale a pena produzir trigo?
Eduardo - Vale muito a pena, porque ele não concorre com as outras safrinhas. O milho é planado até fevereiro, o trigo a partir de março. O trigo é a única opção de safrinha que o produtor tem para plantar tarde, e aqui na região tem gente plantando agora, em maio.
Diria ainda que, para o sistema produtivo ele traz grandes benefícios. Em relação ao preço, é uma condição de mercado, e este ano vai estar um preço excepcional, pela falta de trigo e pelo dólar alto. O preço do trigo hoje no mercado regional está se aproximando de mil reais a tonelada, que é um preço histórico. O maior preço que vi até hoje foi em 1950. E acho que este ano vai superar essa marca pela alta do dólar.
ET - O trigo pode ser plantado fora desse período da safrinha?
Eduardo - Sim, além da opção safrinha há também a opção irrigada. Planta-se o trigo, geralmente em março, abril, o mais tardar, e, historicamente, a colheita é sempre no pico da entressafra no país e no mundo. O primeiro trigo colhido no ano é o trigo do cerrado mineiro, por isso sempre temos boas perspectivas de mercado em função dessa colheita no pico da entressafra.
ET - O Brasil produz trigo suficiente para sua demanda interna, para exportação?...
Eduardo - Não, está ainda longe disso. Falta muito para o Brasil ganhar essa autonomia. O país consome mais ou menor 11 milhões de toneladas no ano e produz em média cinco milhões, então o déficit é muito grande. Todo mundo consome trigo de alguma forma. É o pãozinho, o macarrão, biscoito, sonho de valsa, enfim o trigo está presente na nossa alimentação desde a papinha do neném. Diariamente, o brasileiro come trigo de alguma forma.
ET - Qual a variedade mais comum do trigo plantada no país?
Eduardo - É a destinada à panificação. Essa variedade é o carro chefe do consumo no Brasil, mas temos variedade destinada ao macarrão. E temos, inclusive, uma variedade destinada ao panetone, que tem o glúten mais alto, mas, o importante é que são todas variantes no cerrado.
Quem é Eduardo Elias Abrahim
O agrônomo Eduardo Elias Abrahim 57 é consultor técnico, multiplicador de sementes licenciado, da Bio Trigo e Embrapa, sendo um dos grandes responsáveis pela disseminação do trigo em Minas Gerais, e vice-presidente da Atrie/MG, Associação do Triticultores de MG. Abrahim é também sócio da Entregrãos, uma corretora de trigo, levando nessa função tranquilidade aos produtores na hora da comercialização, pois sabe da situação financeiras de todos os moinhos de Minas e estados vizinhos, bem como de suas necessidades quanto à variedade do trigo que precisam para moer, portanto a cadeia se fecha do "plantio à comercialização.