Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Veni, vidi, vici

Célia Abrate (*)

Chegando em casa depois de varias braçadas e tentativas de um nado na piscina, atingir o 'sonho' de conseguir alcançar mil metros em uma hora, Ambleto vem ao meu encontro com um convite nas mãos, sento-me. O físico cansado, a serotonina solta, leio o convite. Nossa ! É da Mariú! Vai receber o título de cidadã uberlandense. Grande amiga, companheira, conseguiu! Que vitória! Começo a sorrir. Como os sonhos que um dia achamos impossíveis tornam-se realidade.
Olho para trás... É um passeio ao passado. Não olho aquilo que poderia ser realizado, mas sim as alegrias de uma juventude, feliz, ingênua, inocente. Visualizo você Mariú; magra, alta, charmosa, carismática e alegre. Suas tiradas engraçadas nos fazendo rir o tempo todo. A memória vai fluindo... Ah! Buscávamos nas saias rodadas, saltos altos, cabeças empinadas nos tornarmos menos feias. Mal sabíamos, Mariú, que tínhamos o que torna todos belos: a juventude, a alegria de viver e quem sabe, a pureza do espírito.
Os momentos foram muitos... Deixo para trás a menina de trancas, aluna de dona Helena, deixo o curso Ginasial, o curso Normal, com pesar, deixo os belos momentos das felicíssimas Dayse, Arlete, Teta, Dete, Linda, Nane, Léia, Marly e outras. Deixo nossos 'gatos', que físicos hein! E o jardim e o cinema.
Volto ao período da faculdade, local onde também funcionava o pensionato, porque esse foi o nosso momento. De imediato, nos juntamos às outras jovens, formamos nosso grupo: 'as aves'. Realmente, nossos vôos foram rasteiros e altos. Na turma, você era a Lê e eu a Ché. Encantamos com os bailes, rostinhos rapidamente encostando... Saíamos com desculpas de costureira na rua do Carmo, só para vê-los em seus pensionatos. Gostávamos da filosofia, psicologia, biologia... E o Henry Ford? .... Lembra-se? Questionamentos eram contínuos: Deu sentido de vida. Liderança. Futuro.
Idealistas, salientes, sonhadoras, disputamos o poder com outro grupo das externas e conseguimos colocar a Terezinha, Teca, como presidente do Diretório e representante na U.N.E. Driblamos os motoristas de táxis para buscar eleitores e acabávamos não pagando. Não tínhamos 'money', lembra-se?
Vivemos nossa primeira eleição para prefeito. Na hora do lanche contávamos os feitos históricos de nosso candidato. O pensionato inteiro torceu. Veio a votação e com ela a nossa derrota política. Quantas gozações tivemos que agüentar.

Depois do almoço, vinha o recreio e o horário de estudos. Estávamos você e eu em nossa sala, me parece, estudando matemática (disciplina que você detestava, penso que até hoje). Você Mariú, parou, ficou pensativa e disse: Célia, se eu sair de Sacramento um dia, desejo residir nesta pequena cidade. Uberlândia é ainda pequena, mas sinto que desponta. Dei risada, os anjos disseram amém.
Uma noite de final de ano, dando voltas no jardim, o Saulo chegou, veio e ficou.a vida é assim, oportunidades construídas devagar, ao lado de desejos, sonhos, lembranças inesquecíveis, plenitude de vida.
Chegou nossa formatura, com ela despedidas, a redoma de vidro se quebrava. Mas como você era diferente, todas as suas realizações pautavam-se na originalidade. No pensionato, o choro, lágrimas imperavam. E sua despedida foi mais profunda ainda... Percorremos o pedaço de nossa rua e, você passava as mãos em cada casa, portão e dizia: - Não volta nunca mais!
Iniciamos nova fase de vida. Você casou-se com Saulo e foi para a pequena Uberlândia. Era a construção de um novo momento e você se lançou nesse novo mundo: casamento e vida profissional. Era a expansão de suas possibilidades e você projetou-se com coragem, não houve temor do obscuro futuro, que nada garantia.
Trabalhou em escolas e inseriu-se na faculdade. Foi membro ativo da fundação da UFU. Você cresceu... Construiu plenitude de vida. Tornou-se conhecida e respeitada. Você foi inteira atriz de sua própria vida, sempre apaixonada no que realizava. Encontrou em sua autenticidade a opinião dos outros como uma grande mulher. Viveu plenamente... Criou seus filhos e seu companheiro compartilhou seus sonhos de gaivota.
Mas eis que o sonho torna-se realidade. Voou nesta cidade, que um dia sonhou residir. Residiu, conheceu e construiu! Venceu! Venceu preconceitos de uma sociedade fechada. Hoje, não é mais a pequena cidade, mas a grande Uberlândia, que a recebe agora,d e braços abertos, sua nova cidadã, Mariú, sua filha! Vitoriosa como Julio César depois de grandes vitórias exclamou no senado: vim, vi e venci.
Valeu Lê.
O abraço amigo da Cheché, que sabia que você conseguiria, pois além de cidadã da vida, é hoje cidadã uberlandense. É tudo muito belo!

(*) Célia Abrate, Célia Maria de Almeida Costa é a professora e pedagoga