Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Desemboque celebra festa da padroeira

Edição nº 1527 - 22 de Julho de 2016

Os moradores do histórico povoado do Desemboque e arredores estiveram em festa nos dias 15 e 16 últimos, em louvor à sua padroeira, Nossa Senhora do Desterro. As comemorações, que começaram há um mês, com a reza do terço nos finais de semana, encerraram-se na última sexta-feira com animada quermesse, dança da quadrilha e show com a dupla Reis Gaspar e Majestade; e no sábado, o dia da festa, onde a comunidade ficou pequena pelo grande número de devotos que visitaram a milagrosa imagem de Na. Sra. do Desterro, padroeira do povoado, que chegou ao povoado no século XVIII (1743), no auge do garimpo aberto no córrego Rolim e rio das Velhas. A programação dia da festa começou por volta das 15h, com a tradicional cavalgada saindo do córrego Rolim, onde se concentraram os carros de bois vindos de Tapira e de algumas fazendas e povoados vizinhos.  A santinha abriu o desfile que seguiu até a  Igreja Matriz de Na. Sra. do Desterro, onde foi celebrada a missa, este ano presidida pele novo vigário,  Pe. Vanildo Massaro Brito, seguida de
 procissão luminosa. Encerrando a festa, mais uma animada quermesse  e show do Trio Alto Astral. À frente de mais uma tradicional esta, estiveram os  festeiros da família Resende ( filhos do saudoso Paulo Vitoriano e suas esposas):  José Antonio de Resende e Deonice Maria Borges de Resende; Edvaldo de Resende e   Marilene de Paula de
  Resende; João Bosco de Resende e Alecilda Parrera da Silva.

 

Festa mantém viva a história do Desemboque

A Profa. Letícia Cristina Borges Rodrigues (foto), nascida no Desemboque onde ainda residem seus familiares, trabalhou na escola da comunidade, extinta no final de 2013. Ao trazer o cartaz da festa à redação do ET, falou um pouco sobre a festa, ao lado de uma das festeiras, Marilene Resende.
“- A festa começa um mês antes, porque as festividades só acontecem nos finais de semana. O terço, organizado pelos festeiros é recitado com os moradores da comunidade. É um momento mais íntimo, voltado para os moradores do povoado e arredores para rezarem juntos”, explica, ressaltando os dias da festa.
“- Nos dois últimos dias da festa, a comunidade abre as suas portas para o povo em geral para a quermesse e as celebrações finais e muita gente comparerce por conta da parte religiosa, pela devoção, pela fé na imagem milagrosa de Nossa Senhora do Desterro. Muitas pessoas vão a pé, pagando promessas...”.
De acordo com Letícia, a festa é uma das formas de manter viva a história do Desemboque.  “É uma festa muito tradicional. Quando criança e moradora desta comunidade, eu me lembro de meus pais virem à cidade comprar roupas. A melhor roupa do ano era para usar no dia, pois era a festa mais esperada. A festa de Nossa Senhora do Desterro não é só uma festa religiosa da Igreja Católica, ela é uma festa da comunidade, de todos os moradores, onde todos contam os dias esperando a festa do ano seguinte”, ressalta.

Férias escolares - “É uma data atrativa, porque é tempo de férias. Infelizmente, não temos mais a escola no povoado, onde as crianças e jovens promoviam a festa junina na escola. Por isso, ficam contando os dias para a  festa da de Nossa Senhora do Desterro, com comidas típicas, quadrilha junina, quermesse, leilão. Na comunidade, todos nós, de 'mamando a caducando', esperamos ansiosos a chegada da festa, e participamos com alegria”, destaca.
Nossa Senhora do Desterro é muito venerada na Itália como a Madonna Degli Emigrati. Diz a história que a devoção a Nossa Senhora do Desterro foi intensa no Brasil colonial, talvez por lembrar o exílio a que os portugueses se submetiam, deixando sua pátria, mas o certo é que a Santa Mãe é imensamente venerada em toda a região  do Desemboque e por todos os filhos da terra. De onde quer que estejam acorrem ao povoado na época da festa. Uma oportunidade e tanta para rever os familiares e o lugar onde viveram e seguem ajudando a escrever a história.

Cego de um olho - A Escola Municipal Cel. José Afonso de Almeida, a mais antiga escola rural do município, foi fechada no final de 2013 pelo atual prefeito, Bruno Scalon Cordeiro, com a justificativa de que “era preciso fazer a nucleação”. Isto é, por conta da pouca demanda de alunos na zona rural, a Prefeitura reuniu todos em dois polos, nos povoados do  Quenta Sol e Jaguarinha, proporcionando, segundo a Secretaria Municipal de Educação, uma infraestrutura melhor, tanto física como pedagógica, com aulas especificas de educação física e outros temas diversificados, mas levando-os a acordar mais cedo e chegando mais tarde em casa. Diariamente, os alunos são transportados até os polos em veículos tipo Van contratados pela Prefeitura. Saem de madrugadinha e retornam por volta das 13horas.
Na época, a comunidade lutou, pediu e nada sensibilizou o poder público da  decisão. Passados quase três anos, de acordo com a Profa. Letícia,a opinião das famílias do povoado se divide, alguns se acostumaram com a ideia, outros ainda não aceitaram essa 'tal de nucleação', conforme afirmam. “Eu não moro mais na comunidade, não tenho filhos estudando lá, tenho familiares na comunidade e região e sempre estou no Desemboque, pois ali estão minhas raízes. E o ditado que a gente ouve dos moradores é o seguinte:
'O Desemboque ficou cego de um olho' – comparam. É como se o povoado perdesse uma parte de sua história. A comunidade teve uma parte amputada. Eu, particularmente,  concordo com a comunidade, porque o Desemboque é o berço, o lugar mais antigo do nosso município,   sem uma escola está faltando alguma coisa”, afirma.
Mas Letícia revela um fato interessante, que a comunidade está muito unida, fortalecida entre si. “Temos percebido isso nos últimos anos,  uma união maior, uma colaboração mútua e uma consciência das coisas de modo geral muito maior. Tivemos muito apoio para a realização  da festa desde o  ano passado , de pessoas do próprio lugar , das comunidades vizinhas e até de municípios vizinhos.  Hoje temos uma boa estrutura para a festa, tudo conquistado a partir da festa de 2015, com a união de todos, o que prova que a união faz a força”, observou.

O que falta no Desembo-que - Respondendo à pergunta do repórter, 'o que falta no Desemboque',  Letícia é taxativa em responder: “Falta tudo. Ficar falando que o Desemboque é patrimônio histórico, Desemboque é isso, Desemboque é aquilo, não representa nada, porque, na verdade, o povoado não tem estrutura para receber ninguém. O turista que chega lá, fica surpreso, porque ouve uma coisa e chega lá é outra completamente diferente. Ah, as igrejas são tombadas! Mas elas estão desmoronando. A comunidade  não pode fazer nada, porque o Iepha não  permite. E assim vai, ninguém faz nada”.

Lembra Letícia que as últimas obras de destaque construídas no povoado, as praças em frente as duas igrejas, Matriz de Na. Sra. do Desterro e Igreja do Rosário, além da rua calçada, desde que foram inauguradas não tiveram manutenção. Temos o prédio da escola, transformado em Correios, entre aspas, mas ali não tem sequer um banheiro destinado ao público. Para a comunidade - e eu sou parte da comunidade - o povoado está abandonado..., afirma Letícia, destacando, entretanto duas obras importantes realizadas pela atual administração.
“- Em 2013, a Prefeitura construiu uma nova ponte no córrego das Pedras, de concreto, que recebeu o nome de José Victoriano de Paula, localizada próximo ao Desemboque e, agora, a torre de telefonia celular. É claro que a comunidade ficou muito agradecida por essas obras. Que outras venham, especialmente, no cuidado com nosso maior patrimônio, que são as igrejas”, concluiu.
 A imagem de Nossa Senhora do Desterro fica guardada na Basílica do Santíssimo Sacramento, desde que foi roubada, recuperada e restaurada. Só é levada para a comunidade, sob segurança, anualmente, no dia da festa.
A festeira Deonice Rezende ficou grata a tudo o que aconteceu na festa. Mas lamentou o estado em que se encontram as duas igrejas do histórico povoado. “A igreja estava lotada de fieis, não cabiam todas as pessoas, mas ao olhar pra suas paredes manchadas pelas goteiras da chuva e pro altar todo corroído pelos carunchos, me deu muita tristeza. Cuido das igrejas como se fossem minha casa. Mas as portas não abrem normalmente, estão emperradas, os carunchos já estão corroendo até as santinhas. Estamos abandonados”, lamentou, criticando a falta de segurança na festa.
Outra festeira, Marilene Rezende, aproveito também para fazer uma observação, uma festa desse tamanho merecia um policiamento, mas não sei porque os policiais não vieram. De nossa parte, fizemos o requerimento que eles pediram, mas não vieram. Graças a Deus e N. Sra. Do Desterro correu tudo bem”, comentou mais Marilene, umas das festeiras.