Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morte de primos choca a cidade

Edição nº 1467 - 30 de Maio de 2015

O perito Alexandre de Almeida Correa, de Araxá, chegou ao local às 20h40. Após os trabalhos de praxe, incluindo teste de alcoolomia no motorista do caminhão, nada constatando, encaminhou os corpos para o IML de Araxá, por volta das 21h, porém só foram liberados para os familiares às 9h da manhã seguinte, consternando ainda mais as famílias. O Boletim de Ocorrência lavrado pela PM fez as seguintes anotações nos itens referentes à MG 464: largura da pista, 7 m, sem acostamento; sinalização horizontal, boa, mas a vertical está em más condições.  Sobre os danos nos veículos, as avarias constatadas no caminhão foram as seguintes: para choque traseiro esquerdo, rodas/pneus, lanternas traseiras. Já na moto, foram estes os danos: motor e suas fixações, eixo, tanque, roda dianteira, coluna de direção e mesas e amortecedores dianteiros. Ambas as vítimas portavam capacetes com protetor visual.

 

A dor das famílias

Gislene Aparecida dos Santos era filha de Irany Pires dos Santos e de Manuel Belchior dos Santos. Era casada há oito anos com Adelino Eurípedes Simões e deixa dois filhos, uma menina de sete e um menino de dois anos. 

De acordo com a mãe Irany, a filha morava na fazenda e chegou à tarde com o marido, Adelino e o filho, a outra filha mora com a avó e estuda na cidade. “Eles chegaram, me levaram à ótica pra pegar uns óculos e, logo depois que retornamos, o Victor subiu de moto pela rua Salomão Jacob e passou em casa. Eles eram muito ligados, muito amigos e ela louca por moto. Ela o chamou, ele foi até o trevo, deu a volta e parou aqui na porta”, conta emocionada a mãe, narrando que ouviu o barulho da colisão de sua casa.  

“- Como eu teria que pegar um leite na casa da minha irmã (mãe de Victor), Vitinho se prontificou a buscar e Gislene disse que iria com ele. Pegou um capacete do irmão aqui em casa e saíram pela rodovia. Eu ouvia o barulho da moto. Quando eu entrava ainda escutava o ronco, já deviam estar na ponte e de repente, ouvi um barulhão esquisito, meu corpo arrepiou e o ronco da moto cessou. Ainda falei com o Manuel: 'Que barulhão!'... E logo ligaram para o meu filho, falando que a moto do Vitinho estava no acidente... O desespero da gente é muito grande, eles não deixam a gente ir ver. Vi minha filha viva saindo daqui de moto e depois só uma urna lacrada. Uma lembrança muito ruim...”,  conta com olhos cheios de lágrimas.

 De acordo com o sobrinho Edmilson, irmão de Vitor, as urnas foram lacradas porque já havia passado mais de 15 horas do acidente. Para Irany, agora ficam os filhinhos de Gislene. “Deus vai me dar força e vamos ajudar o Adelino criar esses meninos. Peço orações da pessoas para ter força para isso, fui criada sem mãe e sei o que é isso, não vou abandonar meus netos, e peço a Deus que dê o descanso eterno para nossa filha”. 

Edmilson dos Reis Silva, o único irmão de Victor  e o pai Milton dos Reis Silva, casado com Marly dos Reis Silva, conversaram com o ET sobre o fatídico acidente que tirou a vida dos primos.

 Empresário na construção civil Milton relata que ele e o filho Victor trabalhavam juntos, construindo um condomínio fechado no residencial Flamboyant e pararam o serviço às 17h15. 

“- Paramos o trabalho, eu fui a uma loja de material para construção, enquanto ele pegou a moto em casa e foi até uma oficina desativar o alarme.  De lá, ele pegou a namorada, Marília, levou 'ela' ao salão do Alex e subiu pela Salomão Jacob, pra pegar a rodovia e voltar para casa. Moramos aqui na descida da Ritinha. E foi quando encontrou com a prima e veio buscar o leite com ela na garupeira”, relata ainda muito emocionado,.

Conta mais Milton que recebeu a noticiado acidente ao chegar em casa, pela mulher. “Eu estava  chegando em casa de carro, quando a ambulância passou com a sirene ligada. Eu entrei e a Marly falou: 'Aconteceu algum acidente  na rodovia, porque fez um barulhão. Eu virei o carro e fui lá ver.  Havia algumas pessoas, eu perguntei pra um rapaz, ele virou as costas e saiu sem resposta; perguntei pra outro, a mesma coisa, até que o policial Miranda veio e me deu a notícia, mas não me deixou chegar lá...”.

Para o irmão, Edmilson, Victor não viu o caminhão. “Já era noite, a viseira do capacete pode ter atrapalhado, porque Victor tinha muita experiência, essa é a terceira moto dele. Comprou no ano passado, uma Honda CB 650, zero Km. E, além da experiência, era muito precavido, acostumado a andar em rodovias. Dia 1º de Maio fomos a um encontro de motos em  Barretos;  já fomos a Passos,  no sul de Minas, todo ano a gente saía para participar de encontros, ele tinha experiência. Aquela sexta-feira era  o dia dele...”, afirma o irmão, que recebeu a notícia em Uberaba, onde trabalha, e veio imediatamente amparar os pais.

“Recebi a mensagem por volta das 18h10 e vim louco, meu único irmão...” conta e lamenta com um misto de revolta a demora do IML para liberar os corpos. “É um absurdo, o acidente acontece às 18h, os corpos chegam ao IML por volta das 21h e aguardam até as 7h00 da manhã para o médico fazer a necropsia. Chegamos às 8h pra buscar os corpos e só liberaram às 9 horas da manhã,15 horas depois do acidente, obrigando a funerária a lacrar a urna. Um desrespeito com as famílias das vítimas, tem que mudar isso, é um sofrimento muito grande...”.

Para os pais, Miltinho e Marly e o irmão Edmilson, fica um vazio muito grande. “Victor tinha alma de criança, não tinha maldade, adorava a vida, adorava esportes, muito trabalhador, educado, não tinha vícios, aliás o único vício dele era quere fazer tudo: andar de bicicleta, andar a cavalo, participou várias vezes de cavalgada, adorava mergulhar e pilotar motos. Sou mais velho e se pudesse me colocar no lugar dele, me colocaria, se pudesse escolher...  ”, diz com os olhos rasos d'água.

 Para a família fica o consolo da presença de tantos amigos e conhecidos. Pouco pode ser dito ou feito perante o único adeus que é definitivo e nessas horas sobram as palavras, assim como se multiplica a dor e a saudade. E perante a ineficácia de qualquer consolo na perda,  fica  a certeza da presença de Deus em suas vidas e a presença de Victor e Gislene em Deus.  

 

Casal toma as primeiras providências 

Segundos após a ocorrência, passava pelo local o casal Deonides Bonetti e sua esposa, a Profa. Maria Aparecida Belai Bonetti, que seguiam para Uberaba, mas antes tomaram as primeiras providências, como ligar para a Santa Casa solicitando a ambulância e para a Polícia Militar. 

 “- Chegamos ao local, poucos segundos depois, a primeira visão que tive foi um carro lá embaixo, passando pela parte mais baixa da rodovia, onde passa o córrego Benjamim, sentido Areião, e o caminhão subindo ainda, bem devagar, em direção à cidade, com os dois corpos estirados no asfalto”, conta, afirmando que o motorista não percebeu o que havia acontecido. “Ele me disse que ouviu um barulho e pensou que fosse o diferencial, mas mudou de terceira para segunda marcha e como o caminhão continuou andando, viu que não era nada, continuou, até que foi alertado por um carro que passava. Então parou e foi prestar socorro às vítimas ”, conta Deonides, com a esposa Cida completando:

 “- Na hora pensei, 'meu Deus, será que ele atropelou o motoqueiro e está indo embora...' Mas ele de fato não viu. Ele parou, porque foi avisado, e aí me bateu um desespero na hora, vendo os dois caídos, quietinhos, sem um gemido... Os dois de capacetes, a gente não sabia o que fazer,  não achava pulso. Eu chamava: 'Moça, moça e nada, nem uma reação e, de repente, vi que ela estremeceu. A polícia e ambulância chegaram rápido. A moça do hospital disse que havia pulso na virilha e a levaram pra o hospital, mas acredito que ela morreu no local”. 

 O que de fato aconteceu ninguém sabe. Para Deonides são várias as hipóteses. “Ele estava subindo, em alta velocidade, não resta dúvida. Como ele era um piloto muito experiente, pode ter acontecido algum detalhe que o impediu de ver o caminhão à frente ou que tenha ofuscado sua visão. Não sei dizer, nem tenho como dizer até que ponto o carro que estava lá embaixo estaria relacionado, talvez luz alta... Ou, como estava anoitecendo, aquele lusco fusco, nem claro nem escuro...”, pondera Bonetti, tirando uma conclusão.

“ Para mim, analisando a cena, o stado da moto, sem o farol quebrado e ainda funcionando, e pela velocidade em que estava, Victor percebeu o caminhão já próximo dele, e, ao tentar frear, repentinamente, pra sair fora do caminhão, que estava à sua frente, subindo devagar, uns 20, 30 km, a moto pode ter derrapado um pouco para a esquerda colidindo de lado com o lado esquerdo da carroceria do caminhão. A batida não foi de frente, do contrário, o corpo dele teria protegido a moça... O farol da moto continuava aceso,  a moto estava ligada, fui eu que a desliguei”, conta.  

De acordo com Bonetti, o brulho da colisão foi tão forte que um dos moradores do Jardim Flamboyant chegou logo ao local. “Acompanhado da esposa, ele nos disse: 'Eu escutei o ronco da moto e escutei o barulho na hora que bateu. Eu vim ver, porque escutei o barulho'”,  revela. 

Reafirma Bonetti que Vitinho e Gislene estavam de capacetes, que só foram retirados pelos profissionais da área”, afirma, reconhecendo que entrou em pânico naquele momento, não sabendo o que fazer. 

“- A gente entra em pânico na hora, essa é uma experiência que não quero passar mais nunca, a gente se sente impotente na hora, porque se está mexendo, debatendo a gente até pega, leva pro socorro, mas não, eles estavam quietinhos, não moviam um dedo e o tempo é uma eternidade... Sentimos muito por não poder fazer nada, nos solidarizamos com as famílias, expressamos nossos sentimentos, que Deus dê força para suportarem tão grande dor”, afirmou o casal. 

De acordo com o B.O. lavrado pela PM, o casal de primos seguia pela rodovia MG 464 em sua motocicleta, e quando iriam iniciar uma ultrapassagem de um caminhão a sua frente, como havia outro veículo vindo no sentindo oposto, não conseguiufinalizar a manobra e colidiu na traseira de um caminhão”.