Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Trabalho caritativo de João Canudo lhe dá estátua na cidade

Edição n° 1256 - 06 Maio 2011

João Canuto, que adotou o nome de João Fernandes Vargas e, se tornou conhecido na cidade como João Canudo recebeu relevantes homenagens no dia 30, durante a inauguração de sua estátua, colocada em monumento na praça José Zago Filho – praça da Estação, em solenidade que contou com a presença do prefeito Wesley De Santi de Melo; presidente da Câmara, José Maria Sobrinho, vereadores; o pároco padre Valmir Ribeiro, representantes da comunidade espírita da cidade e de Santa Maria, Eurípedes Martins da Silveira, Iracy Batista de Almeida Calil e  Edson Pícolo de Rezende e Elismar Moura, escultor responsável pela obra,além de um grande número de convidados.

O monumento, que  é uma homenagem pelos anos que João Canudo percorreu a estrada Sacramento-Santa Maria transportando remédios para os menos favorecidos, é de autoria do secretário de Turismo e Cultura, Amir Salomão Jacob (foto no detalhe), que, em 1988, quando vereador, trabalhou para que João Canudo fosse o nome da rodovia Sacramento- Conquista (Rodovia Arsênio Rodrigues), pelo fato de João ter deixado a sua marca por boa parte da estrada. Não deu, mas a agora, o sonho de uma homenagem vê-se realizado.

João foi um homem simples, humilde, muitas vezes motivo de chacota da sociedade, ignorado por muitos,  até pela sua condição de andarilho. Amir, após cantar em prosa e verso a cidade de Sacramento, falando da homenagem a João  Canudo destacou: “Hoje, o menor dos filhos deste lugar é reverenciado entre os maiores. Hoje Sacramento vive os ensinamentos do Evangelho ao recolher do esquecimento um dos mais humildes filhos da terra e o coloca num pedestal de praça pública”, disse.

O secretário estendeu agradecimentos ao prefeito Wesley que acolheu de forma imediata a proposta de homenagear João, à comunidade espírita, berço e acalento de João Canudo e finalizou ressaltando as bem aventuranças: “Quando dele me lembro silencioso e cabisbaixo pelas estradas poeirentas lembro das palavras de Jesus: Bem aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus...” 

 

“O expresso da caridade”

 

“João foi o expresso da caridade”, a afirmativa é de Eurípedes Martins da Silveira, ao falar de João Canudo, nascido na fazenda Palhares, em 1906  e falecido em 1983, em Sacramento. “Com os pés descalços, na poeira ou na lama, com os  olhos baixos para a mãe terra, ele cumpria a sua missão. Para aqueles cuja dor atormentava, ele ia em busca de remédio”, disse, Silveira, ex-vereador da cidade na década de 1980, que seguiu enaltecendo os passos e o trabalho de João, a sua solidão e sua doação ao próximo.

O dom pela música que João Canudo tinha pela gaita, foi também destacado por Silveira. “Ele tocava Saudade de Matão,  Saudades de Ouro Preto e Saudades de Minha Bela e essa bela tinha um destino certo, era a ex-miss Brasil, Marta Rocha. Na sua ingenuidade, ela era o seu sonho encantado, dizia ele, que ela era sua namorada”. 

Vários outros aspectos da vida de João foram recordados e Eurípedes Martins encerrou falando mais uma vez da doação, da caridade, da indulgência, da benevolência e do perdão vividos por  João e concluiu agradecendo em nome da família espírita a homenagem. 

Depois do descerramento da estátua pelo prefeito Wesley, Iracy Batista de Almeida Calil e da placa,  pelo prefeito e o casal Edson Pícolo de Rezende e Terezinha, João foi homenageado com uma música feita para ele, pelo cantor e compositor Luiz Carlos Aguiar (Luizão) acompanhando do violeiro e artesão de viola, Paulo Bessa. 

 

O trabalho do João era necessário naquele tempo

 

Edson Pícolo de Rezende, também, fez sua homenagem a João Canudo através de um texto intitulado “Humildade” (veja nesta edição) lido pelo cerimonialista, Eder Luiz. Falando ao ET, Edson  Pícolo, um dos fundadores da Vila Sinhazinha, onde João Canudo residiu  no final de sua vida. “Ele não tinha onde viver, era sozinho, vivia de casa em casa, aí decidimos levá-lo para a Vila, mas ele continuou no trabalho de transportar remédios, a existência dele foi dedicada a esse serviço. Ele cobrava alguma coisa, uns 100 réis, mas muitos não podiam pagar e acabava ficando por isso mesmo”,contou.

Segundo Edson, o trabalho de João Canudo substituía o do médico junto às famílias pobres. “Ele fez um grande trabalho, porque naquele tempo precisava, não havia médicos e  farmácias como hoje”, justificou, recordando também algumas manias de João. “Ele tinha a mania de juntar papeis coloridos, vidros, caixas, pedaços de pau. Quando ele foi pra Vila, mamãe arrumou tudo direitinho, a cama, o fogão, mas aos poucos ele foi juntando todo aquele lixo”.

Contou mais Pícolo que a casa ficou pequena para tanto lixo. “De repente ele não tinha lugar de deitar, sobre a cama, debaixo da cama era só lixo reunido e ele passou a dormir sentado no pé do fogão. Um domingo, o Abraãozinho, outra que ajudou na construção da Vila, foi lá e tirou tudo aquilo. O João ficou bravo demais, mas o Abraãozinho não amoleceu. Tirou tudo e botou fogo. Ficou tudo limpo, mas daí a pouco tempo a cama estava cheia novamente. Mas ele era uma boa pessoa”, finalizou. 

 

Monumento da caridade

 

O pároco Pe. Valmir Ribeiro, que não proferiu as bênçãos ao monumento, cerimônia de praxe nas inaugurações públicas, em respeito à comunidade espírita, destacou a simplicidade e a caridade de João Canudo. “Homenagear os grandes é lugar comum, mas homenagear os simples e pequenos provoca surpresa e isso mostra o que é essa terra que acolhe tão bem”, disse, seguindo o pensamento sobre o dom da caridade, destacado por Eurípedes Silveira.

“Ao passar por essa praça e olhar para esse monumento, me recordarei sempre da caridade tão necessária na vida de todos nós, independentemente,  de credo, mas por causa da nossa fé. Por isso, convido a todos vocês, que ao passarmos por aqui, nos sintamos convidados a refletir sobre a caridade. Que vivamos manifestando a bondade, a indulgência, a benevolência e o perdão. Essa é a leitura que faço de tudo que ouvi de João Canudo. Este é u monumento à caridade”, finalizou.  

O vereador José Maria Sobrinho, presidente da Câmara, cumprimentou o secretário Amir pela iniciativa do projeto e o prefeito, pela acolhida e destacando a sua admiração pelo artista Elismar Moura, cuja obra fê-lo lembrar-se das feições de João Canudo. “Confesso que, na minha memória de criança, já  estava apagada a expressão facial e corporal de João  Canudo e ver hoje essa belíssima obra-prima a sua imagem volta à minha memória. Eu trago a todos os cumprimentos do Poder Legislativo”, concluiu. 

O prefeito Wesley De Santi de Melo afirmou que estava vivendo um momento único em seu governo. “Com a mesma humildade com que viveu, João morreu na Vila Sinhazinha. Reconhecer seu trabalho, prestar-lhe essa homenagem póstuma é para nossa administração um momento único e de grande valor. O povo de nossa terra e visitantes, reconhecendo sua dedicação, seu  trabalho valoroso, sua humildade, a partir de agora inserem seu nome entre os benfeitores desta terra de Sacramento. Fiel discípulo de Eurípedes Barsanulfo, no seio da comunidade espírita  viveu e encontrou amparo, por isso nossa homenagem também se volta para essa comunidade, reconhecendo o seu valor, seu trabalho dignificante e sua evangelização. Parabéns Sacramento, por ter filhos tão valorosos como o que agora estamos homenageando”, concluiu.