Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Perueiros denunciam desfalque de R$ 80 mil da Transcoop

Edição nº 1557 - 10 de Fevereiro de 2017

Conforme antevemos na ´última edição, o ET correu atrás dos boatos sobre um  possível desfalque na Transcoop, sindicato formado por 63 motoristas que fazem o transporte dos alunos da zona rural. E realmente constatou que o boato era verdade, conforme denúncia do ex-presidente do sindicato, Gilson Afonso de Melo, ao delegado de polícia, acusando desfalque de R$ 78.711,59. 

O ET ouviu também alguns perueiros, dentre eles, Arlei Alves Borges,  Mauro Wilson Borges, Marcos Kassabian e o presidente  eleito, Giuliano Borges Meireles, o único que preferiu não falar a respeito no momento.

O Programa Nacional de Transporte Escolar (PNTE) foi criado por meio da Portaria Ministerial nº 955, de 21 de junho de 1994, com o objetivo de contribuir financeiramente com os municípios e organizações não-governamentais para a aquisição de veículos automotores zero quilômetro, destinados ao transporte diário dos alunos da rede pública de ensino fundamental residentes na área rural e das escolas de ensino fundamental que atendam alunos com necessidades educacionais especiais. 

Funciona assim, a Transcoop, através de sua diretoria, que tem mandato bienal, acerta um preço do quilômetro rodado, hoje R$ 1,72, com a Prefeitura, que repassa à cooperativa no final de cada mês conforme o custo apresentado pelos 63 cooperados, já descontandos os 2% de ISS - Imposto Sobre Serviço - do montante. A cooperativa, por sua vez, paga, individualmente, cada um de seus associados, de acordo com a quilometragem rodada naquele mês, o veículo utilizado (vans, kombis, microônibus e um ônibus) e o tipo de transporte (rural ou urbano, estrada de terra ou asfalto).

 

Para motoristas, a situação é lamentável

“- A situação é lamentável, preocupante e exige uma auditoria independente para fazer uma devassa nas contas da Transcoop, porque aquilo ali é de todos os cooperados, é dinheiro nosso, dos 63 motoristas que, mensalmente, devolvem à cooperativa uma porcentagem de 4%, como taxa de administração”, afirmam unânimes os entrevistados.  

Além do desfalque apurado até o momento, no valor de R$ 78,7 mil, os perueiros reclamam sobre outros assuntos, tais como o preço dos pneus e óleo de motor vendidos pela Transcoop, acima do preço de mercado; a falta de veículos reservas para socorrer outros danificados; uma garagem própria com lavador e troca de óleo e até uma bomba de óleo diesel para venda de combustível mais barato para os cooperados. “Essa seria a cooperativa ideal” - afirmam.

O que causou também estranheza aos cooperados, foi quando a última diretoria apresentou na assembleia de prestação de contas o balanço da entidade.  Além da falta de todos aqueles benefícios, depois de vários anos operando sem adquirir nenhum patrimônio, o ex-presidente, Gilson Afonso de Melo apresentou, na reunião de prestação de contas no final do ano, um patrimônio em caixa de R$ 88.056.50 claro, provocando suspeitas dos cooperados. 

O presidente Gilson, a princípio, negou-se a receber a reportagem para tratar do assunto, mas através do advogado, Caires Lincoln Mateus Borges, enviou esclarecimentos por escrito, informando que a questão já está  sendo investigada pela polícia civil. Veja nota publicada nesta edição. 

 

Empréstimo inusitado 

Os motoristas  Arlei e Mauro Wilson acreditam que  a cooperativa poderia oferecer muito mais aos cooperados. “É com esse salário que nos mantemos e as nossas famílias, além de fazermos a manutenção e abastecimento dos veículos. Então, quem tem uma linha pequena, por exemplo, de 140 km, pula bonito pra sobreviver. E o salário não pode atrasar como aconteceu no ano passado, que ficamos até mais de dois meses sem receber”, lembram. 

Na época do atraso do pagamento, os perueiros ameaçaram parar. E só não pararam, porque aconteceu uma coisa inusitada, a cooperarativa emprestou dinheiro para a Prefeitura. Antes disso, reuniram-se diante do prédio da Promotoria de Justiça para protestar e denunciar o fato ao Ministério Público. 

“- A Prefeitura pagou, mas para isso a Transcoop emprestou  R$ 80 mil para a Prefeitura completar o pagamento. A dúvida que fica é se a Prefeitura pagou o juro desse empréstimo, porque nós, perueiros, podemos pegar vale de no máximo R$ 1.000,00, a 4% de juros ao mês”, comparam, destacando ainda que não foi feita assembleia para fazer o empréstimo. “Quando a gente cobrou, a diretoria disse que foi para fazer o acerto, ou seja, recebemos os atrasados com parte do dinheiro que era nosso. Se teve juros, não sabemos”, afirmam.

É comum e praxe, qualquer cooperativa vender mercadorias aos seus associados a preços menores do que os de mercado. Ou deveria ser, pois conforme Arlei e Mauro, a Transcoop não utiliza essa prática.

“- Cheguei a comprar quatro pneus na cooperativa, de repente vi os mesmos pneus mais baratos aqui na cidade e na D'Pascoal, em Uberaba. Devolvi os da cooperativa, comprei em Uberaba. Pelo preço de três, comprei, parcelado, quatro pneus, portanto, ganhei um pneu e o frete”, compara Arlei. 

 

Cheques na boca do caixa

Ainda conforme Arlei , foram descontados na boca do caixa de um banco da praça dois  cheques, um no valor de R$ 19 mil; outro de R$ 31 mil. 

“- Ora, pelo que eu sei, o banco não paga um valor desse sem previsão. Quem informou sobre o cheque? Quem descontou? O que foi pago com esse dinheiro? Por que não tem notas? A coisa mais fácil é saber quem descontou, porque os cheques têm que ser nominais e são microfilmados pelo banco. E nós queremos saber, precisamos esclarecer isso?”, cobra, junto com outros cooperados.

Mauro Wilson Borges 57, outro motorista que tem 17 anos de casa, fala do sacrifício que sempre suportou na cooperativa. “Nosso lucro é mínimo”, afirma mostrando a situação precária da casa onde mora, que precisa de reforma há muito tempo, mas não tem condição. 

“- Achei também muito estranho o fato de a Transcoop apresentar no balanço de 2013 um saldo em caixa de R$ 130 mil e, agora, no final do ano passado, apenas R$ 88 mil. Quer dizer, de lá pra cá o dinheiro encolheu? Como? A contribuição é paga todo mês. E outra, cortaram até nossa confraternização de final do ano, não teve nem a cestinha, o panetone. Isso é feito com dinheiro nosso, mas a gente gosta dessas coisas, pra gente se encontrar, confraternizar. Mas até isso acabou”, queixa-se. 

Para Marcos Kassabian 53, perueiro há 21 anos, essa questão tem que ser apurada. “Foi apresentado um balanço em anos anteriores mostrando um resultado bem superior ao de hoje. Então, é como se a empresa estivesse trabalhando no vermelho, porque o dinheiro está diminuindo. Se administramos uma empresa e vemos que o dinheiro está diminuindo, temos que tomar providências, porque senão acaba. Tem que saber no que foram   gastos esses valores, quem gastou e quem aprovou. Então, tem que apurar”, alerta Kassabian. 

 

Transcoop chegou a ter sede própria com lavador

O cooperado Arlei Alves Borges 49, motorista há 24 anos, um dos perueiros mais antigos da Trascoop, começou a transportar alunos em 1994.  “No começo cada um de nós trabalhava por conta própria, mas em 1997 veio uma lei e foi criada a cooperativa e, desde então, nosso vínculo é com a cooperativa. Tivemos um princípio muito bom, com o primeiro presidente, Mário Clercindo do Prado”, lembra, elogindo também a diretoria seguinte. 

“- A fase de crescimento da Transcoop começou com o segundo presidente, Nilson Ribeiro (Nilson do Ônibus), que assumiu o cargo em 2001, tendo como tesoureiro Carlos Murilo. Naquele ano, a cooperativa adquiriu três terrenos no Jardim Alvorada e lá construiu a sede da Transcoop com poço artesiano, rampa e posto para troca de óleo, sala administrativa com base para construir um segundo piso. A sede foi inaugurada em novembro de 2003. A diretoria foi reeleita em 2003 e, em 2005 Nilson se mudou para Pirassununga”, resume Arlei.

 De acordo ainda com o cooperado, a sede foi vendida por decisão dos cooperados. “Em assembleia, decidimos vender a sede, por conta de uma situação muito difícil dos cooperados. Vendemos à vista com pagamento em 30 dias e cada cooperado recebeu sua cota respectiva, deixando poucos recursos em caixa. “Mas esse é um dinheiro que cresce rápido. Nos meus cálculos, a cooperativa deveria ter uns R$ 200 mil, porque há muito tempo tínhamos mais de R$ 120 mil. E vendemos a sede, justamente, porque temíamos problemas no futuro”, justifica.

 

O salário dos diretores e o repasse do INSS

Outra dúvida dos cooperados que deve ser objeto de nova votação em assembleia, segundo eles, é o pagamento de um salário mínimo para o presidente e tesoureiro, pois, segundo eles esse salário não foi aprovado em assembleia. 

“- Desde que começou a cooperativa, ficou acertado que eles receberiam uma ajuda, que era de R$ 170,00, depois passaram para R$ 350,00 e, atualmente, passaram a ganhar um salário mínimo, mas sem votação nem nada. E eles são perueiros e recebem como qualquer outro cooperado”, denunciam mais, reivindicando ainda ao delegado responsável pelo caso, que fiscalize a questão do repasse ao INSS da contribuição descontada mensalmente no holerite (demonstrativo de pagamento) dos cooperados. 

“- Comecei a trabalhar com 14 anos e desde que comecei a contribuir guardo tudo, porque a documentação serve de prova para o INSS. Mauro, diz que esteve no posto do INSS e pediu um demonstrativo de sua contribuição. Pelos documentos constam 38 anos de contribuição, mas no INSS só tem 24 anos anotados”, exemplifica, muito contrariado. 

 

Esclarecimento

A respeito da matéria jornalística sobre a COOPERATIVA DE SACRAMENTO DOS TRANSPORTADORES DE ALUNOS E PROFESSORES LTDA. - TRANSCOOP o Sr. GILSON AFONSO DE MELO tem a esclarecer o seguinte: No final do ano de 2015, quando estava sendo preparado o Balanço Anual foi informado pela Contabilidade da TRANSCOOP que haviam sido encontradas diferenças de caixa sem comprovante de despesa, a partir daí foi feita uma busca na sede da TRANSCOOP e também solicitado da funcionária da época onde estariam tais documentos, mas nada foi encontrado. Em razão disso procurou apoio jurídico para orientação sobre os procedimentos legais que deveriam ser observados. Em seguida foi dado início pela Contabilidade em uma auditoria interna, que precisou buscar informações junto ao Banco Credicoasa e, inclusive, da fita caixa do Banco, além de outras informações, de forma que só depois de tais respostas é que foi possível apurar o valor total das diferenças e o período, que chegou a R$78.711,59 entre maio e setembro de 2015. Após todo este levantamento de documento e apurado o valor, o Sr. Gilson, juntamente com o Tesoureiro Luiz Antonio, encaminharam por intermédio de advogado toda a documentação obtida junto ao banco e auditada pela contabilidade, através de uma peça processual denominada Notícia Crime e dirigida ao Delegado de Polícia Civil da Comarca de Sacramento que vai agora investigar os fatos e analisar as provas encaminhadas, apurando-se a existência de crime, juntamente com a materialidade a autoria. Aguarda-se, portanto, o andamento e os próximos passos da investigação Policial. Sacramento/MG, 07 de fevereiro de 2017. 

Gilson Afonso de Melo

 

Nova Diretoria da Trasncoop

Compõem a diretoria da Transcoop com Giuliano, os membros: Willian Martins de Souza (Vice-presidente), Juarez Rodrigues de Melo e Marcos Kassabian  (1º e 2º Tesoureiros), Lázaro Antonio Ferreira e João Batista Ferreira (1º e 2º secretários) e, o Conselho Fiscal: Antonio Carlos de Freitas, Valdemar Limido de Almeida, Vinicius Sisconeto, José Divino Rosa, Valter José de Oliveira e Mário Clercindo do Prado.