Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Mercedes comemora 95 abençoados anos

Edição nº 1554

Mercedes Joe Borges completou 95 anos no dia 13 de janeiro e comemorou a data numa grande festa na Chácara do Peão, rodeada de filhos netos, bisnetos, tataranetos e amigos. Na manhã de domingo 15, durante a Eucaristia celebrada em ação de graças na Igreja de Na. Sra. do Rosário, foi o momento de agradecer pelo dom da longa vida ao lado dos filhos e amigos. 

“- Tenho muito a agradecer a Deus, sou muito abençoada por esses anos todos, pela vida que tive e tenho, pela família maravilhosa”, disse ao ET em entrevista, quando resumiu passagens de sua história de vida com uma lucidez, um carisma e uma alegria tão contagiantes que só as pessoas felizes são capazes de ter... 

Pudera! Aos 95 anos, dona Mercedes tem 122 descendentes para perpetuar a família Borges Joe Carrara, a começar de 15 filhos, 46 netos, 56 bisnetos e cinco tataranetos. Conheça os filhos de Da. Mercedes e Raymundo: Adair(Hermes), Altair (Uruias), Everton (Maria), José Américo (Marlene), Rubens (Terezinha), Germânio (Cida), Cacildo (Matildes), Caires (Concebida), Luiz Antônio (Lúcia Helena|), Maria Abadia (Antônio), Jorge (Adélia), Maria Aparecida (MIguel), Ana Alice (Wanderley), Sebastião (Paula) e o caçula, Cleomar. 

 

Uma bela história de vida

A história de vida de dona Mercedes com certeza daria um livro de no mínimo 95 páginas, fosse ela escrita uma página para cada ano. Mas o resumo que segue, com menos de 95 linhas, é contagiante.  

Nascida em Jubaí, distrito de Conquista (MG), em 13 de janeiro de 1922, Mercedes é a filha caçula de Elizabete Carrara e de Luiz Joe, pais de outros cinco filhos. Ao ser questionada se é conquistense, logo esclareceu: “Não. Fui registrada em Jubaí, naquela época tinha cartório. Meu registro é de lá, então sou jubaiense”.

 Mas a pequena vila só entra na sua história com o registro, pois sua vida, nos últimos 94 anos e meio foram vividos em Sacramento, onde chegou trazida pelos padrinhos, Alexandre Martins Borges e Hermelinda Vieira Borges. “Mamãe morreu quando eu tinha seis meses e papai me entregou aos cuidados deles. Meu padrinho cuidava de lavoura de café e até os oito anos moramos na fazenda dos Manzan, perto do antigo Trás do Morro (João XXIII), onde morava o Armando Manzan. De lá, mudamos para a Rifaininha, e lá morei por 14 anos e meio, sempre sob os cuidados de meus padrinhos, que criaram também outros dois meninos: Ariston e Amador.  Ao completar 14 anos, em janeiro de 1936, me casei com Américo Raymundo Borges, no dia 31 de maio. Eu com pouco mais de 14 anos e ele com 25”. 

Já casada, Mercedes permaneceu na Rifaininha até o início dos anos 60 do século passado. Questionada por que se casou tão jovem. Ela respondeu sorrindo, que não podia, não, mas aumentaram a idade dela.  “Meu padrinho queria que eu completasse a idade certa, mas não esperamos, não... Então, eles tiveram que aumentar minha idade, deram um jeito. Meu marido Américo era da Rifaininha, nos casamos, moramos uns tempos com os pais dele, Raymundo e Bertulina, até construirmos nossa casa e ali nasceram nossos 15 filhos”, relata, passando a enumerar com uma memória invejável, às vezes, até corrigindo a filha Altair, que participou da entrevista. 

Recorda Da. Mercedes que a vida não foi fácil, a começar dos partos e da criação de 15 filhos, nascidos a cada ano, praticamente. “Mas correu tudo bem, todos nasceram em casa. As duas primeiras, Aldair e Altair, sob os cuidados da parteira, Da. Rita Fonseca. Américo saiu de lá a cavalo, veio buscar 'ela' na cidade e retornaram de carro de praça (táxi)”, recorda, informando que os demais filhos nasceram de uma outra parteira.  

“- Os demais nasceram pelas mãos da Da. Aurora, lá do Cipó. Eu me lembro que o Américo ia buscar 'ela' no Cipó, a cavalo, e ela ficava comigo até chegar a hora. Já os dois últimos, nasceram com médicos, eles iam nas casas. O Sebastião foi com o Dr. Valadares e o Cleomar, com o doutor José Zago. Quando o caçula nasceu, eu estava completando 40 anos. Era um filho após outro, diferença de um ano e sete meses mais ou menos”, conta, para riso dos repórteres...

 E a cada filho mais trabalhos. “Em casa era cozinhar pra peão, cuidar da meninada, lavar roupa, costurar. Os meninos ficavam meio jogados, tinha poucas horas que a gente podia cuidar, era na hora do banho, na hora de dormir... Depois as duas meninas foram crescendo e começaram a ajudar, mas logo foram ajudar o pai na lida e eu me arrumava sozinha com a prole restante... Quando chegavam é que me ajudavam em casa, a costurar, fazer  polvilho... Era uma vida de muito trabalho, até que passamos a ter   ajudante pra fazer  polvilho”.

Conta Da. Mercedes que com essa filharada toda, a diversão era pouca. “Havia festas, mas como sair com aquela meninada? (risos) Às vezes a gente ia às festas de Reis do Zé Salvador, que era nosso vizinho. Mas eu mesma fui poucas vezes. O Américo levava os maiores e eu ficava com os pequenos...”.

Saúde de ferro, para sua felicidade, enquanto criava os filhos nunca teve problemas de saúde, nem nunca ficou doente. Aliás, poucas foram as vezes que teve algum problema, exceto aqueles inerentes da idade. 

No início dos anos 1960, Américo comprou a casa onde ela mora no bairro do Rosário. “Pra mim foi uma bênção, vim morar pertinho da Igreja, ia à missa todos os domingos. Mas nos últimos anos, devido a dificuldade de locomoção, foi ficando mais difícil. Na missa de ação de graças de meu aniversário, por exemplo, domingo passado, tive que ir de cadeira de rodas”.

Em 1982, Da. Mercedes perdeu o marido, Américo. Embora viúva há 35 anos, se considera uma mulher feliz. “Fui criada sem mãe, meu pai foi embora, constituiu outra família. Não tive contato com ele. Mas meus padrinhos me criaram muito bem, me deram uma boa educação, estudei um pouquinho. Depois, me casei com Américo. Eu o perdi cedo, mas foi muito bom marido, muito calmo, muito trabalhador. Os filhos todos muito bons, não tenho do que reclamar. Fui muito feliz, sou muito feliz”, reconhece, agradecida a Deus. 

  Ao longo de seus belos 95 anos, Da. Mercedes, fez de Deus a sua força, o seu escudo,  a sua confiança e  a sua esperança. Foi essa a mensagem de 'bem viver' que deixa às gerações mais novas, a pedido do ET: “Uma mensagem de Amor a Deus. Com Deus a gente faz tudo, vence tudo. Acho que tenho que agradecer, de joelhos, pela minha vida. Foi muito boa, com a graça de Deus”, finalizou. 

Dona Mercedes é uma das mais antigas assinantes do Jornal O Estado do Triângulo. A ela um grande abraço de felicidade e de muita vida nos anos lhe restam.