Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Frei Eliseu, um sacramentano nos passos de São Francisco

Edição nº 1555 - 27 de Janeiro de 2017

O jovem sacramentano Sidnei Inácio da Silva 24 está a um passo de se tornar sacerdote da Fraternidade  São Francisco de Assis  na Providência Deus, onde ingressou aos 14 anos, em Sacramento, quando os freis mantinham uma obra social no Seminário do Santíssimo Redentor.  Nesse tempo de vida religiosa, Sidnei cursou o Ensino Médio e por dois anos fez uma experiência vocacional, o Noviciado, que é a preparação para os votos temporários, quando então recebeu o nome de Frei Eliseu.  Nos quatro anos seguintes, cursou e concluiu, no ano passado, a Faculdade de Filosofia, no seminário Diocesano,   de São José do Rio Preto. Este ano, Sidnei inicia o curso de Teologia, os últimos quatro anos de estudos para se ordenar sacerdote. Passando férias com a família, Frei Eliseu, falou ao ET. 

 

O 'Menino João'...

Filho de Alice Maria de Jesus e Sebastião Pereira da Silva, Sidnei fez os primeiros estudos em Sacramento: iniciou o ensino fundamental da Escola Eurípedes Barsanulfo e o concluiu na EE Cel. José Afonso de Almeida, quando ingressou na congregação franciscana. Foi na Escola Coronel Sidnei ganhou o carinhoso nome de Menino João,  pela brilhante participação como um dos protagonistas na peça,  'O Milagre das Águas',  de Pe. Ronoaldo Pelaquim, apresentada no FACC (Festival de Arte e Cultura do Colegial) de 2006. No ano seguinte foi para Jaci (SP), onde cursou o Colegial com os franciscanos. 

 

Como nasceu a vocação...

Mas a vocação veio muito antes desse tempo, nasceu no seio familiar. “Acredito que minha vocação nasceu dentro da família. Meus pais são muito católicos, sempre participaram e ajudaram nos serviços da Igreja e, sempre me incentivavam a fazer algum trabalho na Igreja e comecei como  fui coroinha. Por isso, digo que minha vocação nasceu ali em casa. Eu tinha vontade de ser padre, ingressar na vida religiosa, mas ainda não havia identificado uma congregação e nisso surgiu a oportunidade de termos os freis franciscanos em Sacramento”, recorda, afirmando que foi um dos alunos do projeto.

“- Por três  anos convivi com os freis em sua obra social no Seminário. E logo que concluí o 9º ano, fui estudar no Lar São Francisco, em Jaci (SP), casa mãe da congregação, onde, paralelamente, fiz o aspirantado e postulantado, um período de formação dentro do carisma da Fraternidade. 

 

O profeta Eliseu...

“- Eliseu não foi uma escolha minha, mas do bispo que presidiu a celebração, Dom Edmilson Amador Caetano, bispo de Barretos, que teve a honra de nos dar um novo nome. Na época fiquei assustado, mas depois fui pesquisar e estudar o profeta Eliseu, no Antigo Testamento, e acabei me identificando, porque tenho muito a ver com a sua personalidade, fidelidade a Deus e vejo que não teria um nome melhor para mim, que Eliseu”, reconhece. 

 

Os estudos superiores...

Frei Eliseu reside em Jaci, com outros seminaristas, viaja diariamente de carro para São José do Rio Preto, um percurso de  cerca de 28 km pela BR-456. A cada ano um novo aprendizado e a certeza  de que essa é realmente a vida  que ele quer: ser padre. “O curso de Filosofia, digamos, foi um divisor de águas na aminha formação humana, espiritual e vocacional. Amadureci muito. O curso foi fundamental para minha vida, um aprendizado muito grande. No meu TCC priorizei três filósofos franceses: Emmanuel Mounier, Jacques Maritain e Gabriel Honoré Marcel. São três filósofos católicos que influenciaram a ideologia da "Democracia Cristã", baseada nos ensinamentos e princípios cristãos, tais como a liberdade a solidariedade e a justiça. Ou seja, influencia o encontro do eu com o outro. a importância  do outro na construção do eu. Mas estudamos bastante Paul Sartre, Foucault, Deleuse, Derrida, Beuavoi, enfim todos, até para fazermos as contraposições”. 

 

Estudos e rotina de trabalho...

Desde o noviciado, Frei Eliseu tem uma rotina de trabalho puxada, conciliando os estudos e as atividades da Fraternidade, cujo carisma é o serviço aos mais necessitados “Repetir o abraço de São Francisco de Assis no irmão leproso de hoje. Vamos para a faculdade de manhã, das 8h às 12h40. Logo após o almoço inicio minha rotina de trabalho diário em uma obra social da Fraternidade, onde sou o responsável. Cuidamos de uma comunidade terapêutica masculina que atende 75 pacientes dependentes de álcool  e drogas. 

 

Trabalhos escolares só à noite...

É uma fazenda a três km da cidade. Aí vou para os trabalhos no comunidade, onde eles têm laborterapia (terapia através do trabalho: marcenaria, costura, horta, jardinagem serralheria, padaria, etc), alternando com atendimentos individuais, com psicólogos, médicos, lazer e  evangelização até as 22h, que é quando eles vão dormir e aí eu vou fazer meus trabalhos, estudar. Nos finais de semana temos os momentos de lazer com os pacientes através de campeonatos de pesca, futebol, de pipas”, explica destacando que usa o aprendizado no teatro para trabalhar com os recuperandos. “Fazemos teatro, inclusive em fevereiro vamos apresentar o 'Menestrel'”. 

 

A opção pelo sacerdócio

Nosso 'Menino João' é um dos poucos freis da Fraternidade São Francisco de Assis a se tornar padre. Atualmente, a Fraternidade conta com apenas sete sacerdotes na congregação. “Como o nosso carisma é “Repetir o abraço de São Francisco de Assis no irmão leproso de hoje”, a maioria dos frades da Fraternidade escolhe cursos na área da saúde, como enfermagem, psicologia, administração hospitalar, medicina. Poucos optam pelo sacerdócio, mesmo porque nossa vocação sacerdotal não é voltada para  paróquias, mas para o trabalho missionário, atendimento ao pobre, etc”, justifica .    

 

A arte espiritual...

Agora vem o curso de Teologia, a última etapa antes da ordenação sacerdotal e a expectativa é grande, mas Frei Eliseu já decidiu, vai mesmo ser um padre da Fraternidade. “Desde o momento que comecei a ter contato com os dependentes na comunidade terapêutica, poderia escolher a arte laboral, mas decidi que seguiria para a arte espiritual, senti que foi um chamado muito forte, pela necessidade que eles têm de alguém que cuide de sua vida espiritual. Percebi que posso ajudar muito as pessoas como sacerdote. O trabalho na comunidade foi importante para a minha definição. Fiz a coisa certa. Deus me quer neste trabalho e agora estou indo para a Teologia e espero ansiosamente a ordenação para daqui a quatro ou cinco anos”, afirma convicto.

  Na Fraternidade há 10 anos,  anualmente,  Frei Eliseu vem a Sacramento de férias o que considera um momento de 'beber da fonte'. “Cada oportunidade que tenho de vir é muito importante, é um momento de poder beber da fonte. É o meu ponto de partida que não posso esquecer nunca. Tudo o que tenho de valor e o que sou aprendi aqui. Todas as minhas atividades me lembram Sacramento...” 

 

“Repetir o abraço de São Francisco...

 Vivenciando esse carisma forte da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, afirma Frei Eliseu que tenta seguir à risca o ideal franciscano. Com apenas 31 anos de fundação (4/10/1985), a Fraternidade já tem hoje uma grande atuação no país e no Haiti.

“Nosso fundador, Frei Francisco Belotti , ainda é vivo e mora em Jaci, mas viaja muito na coordenação das obras sociais que se estendem a vários estados, Goiás, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo.

O trabalho engloba a gestão de hospitais gerais (17, sendo um em Uberaba, o hospital São Domingos, desde 2014) hospitais específicos (2, um para portadores de multideficiências/paralisia cerebral e um para portadores de deficiências mentais e idosos em fase terminal). Hoje somos 60 frades que cuidam também de mais 35 obras entre Ambulatórios Médicos de Especialidades, Pronto Socorro, Farmácia de Alto Custo, albergue, casa abrigo para doentes em tratamento de saúde, restaurante popular; comunidades terapêuticas de recuperação; ambulatório para diagnóstico e tratamento de álcool e drogas e projetos educacionais. Além de manter uma missão em Porto Príncipe, Haiti, que desenvolve atendimentos de saúde, educação e nutrição”.