Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Rancho dos Treze completa 50 anos

Edição n° 1332 - 19 Outubro 2012

Fincado nas barrancas da margem direita do rio Grande, próximo à histórica Estação Ferroviária de Jaguara, o Rancho dos Treze completa, no próximo mês, 50 anos. Atravessou gerações e é um registro histórico dos tempos do rio cheio de peixes, mandis e dourados, um convite para 13 amigos pescadores, razão do nome da sociedade, já registrar essa união: 'Rancho dos 13 da Boa Amizade'. E era mesmo, a amizade uniu esses 13 amigos durante anos, a cada final de semana. 

A ideia nasceu com os Scalon, Ernesto, Sebastião, Clanther, Guilherme, Sérgio, Homero e mais Leonildo Luigi Cerchi (Nino), Hermócrates Correa (Dr. Dedé), João Tormin Castanheira (Macoy), Plínio Ribeiro e o filho Ronaldo, Sílvio Crema (Lelé) e Antônio Loyola. No local reuniam-se também os familiares e os amigos dos amigos para boas pescarias no então piscoso rio Grande. Nem só de iêiêiê viviam as gerações dos anos 60.

Dos treze, apenas quatro estão aí pra contar as histórias: Sebastião Scalon, 94, Antonio Loyola, 84, Ronaldo e Sérgio. O empresário Antônio Loyola recorda que a ideia nasceu dentro da família Scalon, com os amigos, Ernesto, Guilherme, Alexandre, Clanther, e Sebastião e os genros. “Seu Sílvio e eu não somos da família, mas pescávamos também no rio Grande e fomos convidados a fazer parte da associação do Rancho dos Pescadores, fundada em 1962. Os Scalon compraram uma parte de terreno lá e fizemos o rancho. Ali era uma beleza nos finais de semana com as famílias, os amigos, fazíamos a pescaria, almoçávamos, passávamos o dia ali”, recorda. 

De acordo com Loyola, o Rancho dos Treze foi um dos primeiros a serem construídos no local. “Havia outros ranchos nas ilhas, mas naquele local ali, o nosso foi o primeiro. Cada um de nós contribuímos na construção, depois na manutenção. Era muito organizado, tínhamos  até estatuto. Depois cada um foi vendendo sua parte e a turma se desfazendo, hoje restam  poucos herdeiros dos treze daquela época. Construímos  aquele rancho numa época, em que não havia nem canoa a motor, era no remo mesmo. O primeiro a ter um motor foi o gerente de banco, Édio Vilela. Ele não era sócio, mas frequentava o rancho”, diz.

Loyola recorda ainda que o rancho foi construído distante do rio, embora na época não existissem leis que regulassem a proteção da mata ciliar. “Havia uma ilha, que desapareceu com o tempo, não sei se por causa do lago, só sei que a ilha sumiu. E com o tempo nós mesmos, fomos deixando a pescaria, outros faleceram, as leis vieram, até que a razão principal da construção do rancho, os peixes, começaram a sumir. A construção da barragem movimentou muito o rio e foram aumentando os ranchos. Mas,  eu deixei de pescar, porque pescaria não é só pegar o peixe, tem  o companheirismo, a animação da roda de amigos. Ali dava muito mandi e  dourado, mas pescávamos mais para o nosso consumo no rancho. Foi um tempo de muita amizade, um tempo muito bom”, recorda mais.   


A emoção ao ver a foto da inauguração do rancho 

 

Outro guardião da história do Rancho dos Treze da Boa Amizade é Sebastião Scalon, o Bastião, como o chamam os companheiros, que se emocionou ao ver a foto da inauguração do rancho com os 13 amigos. No alto de seus belos 94 anos, e com uma lucidez incrível, identificou cada um dos companheiros da sociedade que nasceu em 22 de outubro de 1962. 

Depois de contemplar por alguns minutos a foto, arredou a cadeira e pediu à filha Rute para abrir a gaveta de uma antiga escrivaninha, de onde tirou de uma pasta vermelha uma cópia da ata da constituição da sociedade civil,  'Sociedade Rancho dos Treze da Boa Amizade', com a aprovação do Estatuto, em 28 de outubro de 1965, que tinha duas finalidades principais: recreativa, para a prática do esporte da pesca, e natação.  

A reunião para a constituição da sociedade foi realizada na casa de Ernesto Scalon e contou com a presença dos 13 sócios. O estatuto foi apresentado por Sebastião Scalon e aprovado por unanimidade. Pelo estatuto, a sociedade, fundada três anos antes, seria constituída por tempo indeterminado e administrada por uma diretoria composta de três membros: presidente, secretário e tesoureiro, com mandato de dois anos, podendo ser reeleitos. Reza ainda o estatuto que a sociedade seria constituída por um número limitado a 13 sócios. 

As terras para a construção do rancho foram adquiridas da fazenda Jaguara, de propriedade de Sebastião Bento da Silva.  Naquela mesma reunião foi eleita a primeira diretoria da 'Sociedade Rancho dos Treze da Boa Amizade', composta pelo presidente Ernesto Scalon; secretário, Dr. Hermócrates Correa, e tesoureiro, Clanther Scalon. Lembra Sebastião Scalon que o pedreiro construtor do rancho foi Walteno Bertolucci. “Walteno foi também o construir de minha casa, na rua São Pedro. Tão logo ele terminou a casa, ele seguiu para Jaguara com sua turma para construir o Rancho dos Treze”. 

O rancho dos Treze tem hoje nove sócios: Dirce Scalon Castanheira, Dora Cerchi, Marisa Cerchi, Ivone Regina Silva.