Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Reeducandos do Presídio recebem certificados de conclusão de cursos

Edição nº 1513 - 15 de Abril de 2016

A EE Sinhana Borges e a Unidade Prisional de Sacramento realizaram,  na manhã dessa sexta-feira 15, solenidade de entrega de certificados de conclusão dos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental a seis alunos, e certificados dos cursos de Pedreiro e Carpinteiro para dez profissionais, através do Pronatec, ministrado pelo Campus de Muzambinho.
  Para o diretor do Presídio Leandro Fachineli Toledo, estes são os primeiros frutos na 'Escola Prisional', uma extensão da EE Sinhana Borges. Os detentos são beneficiados com o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que visa atender jovens e adultos que não concluíram os estudos na idade própria e desejam completar a educação básica. 
As aulas são presenciais com duração de dois anos letivos, organizados em quatro períodos semestrais. Nessa primeira turma seis alunos recebem os certificados de conclusão dos anos iniciais (1º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano) e outros nove seguem nos estudos por mais um ano. E uma nova turma inicia o curso no final do mês.  São eles:
“Temos capacidade para duas turmas totalizando 24 alunos, hoje temos 15, porque alguns foram transferidos e ganharam a liberdade e esses seis alunos são aqueles que já haviam cursado parte do ensino fundamental”, explica o diretor, destacando que a meta agora é batalhar para implantar o  Ensino Médio. “Nossa proposta é que eles não parem os estudos e que eles mesmos tenham esse interesse de prosseguir com sua formação”.
 Para fazer o curso, os detentos passam por uma classificação feita pelo CTC (Comissão Técnica de Classificação) e só podem  ir para o trabalho ou ingressar na escola, aqueles que estiverem aptos. “No nosso caso, todos aqueles que não têm o ensino fundamental completos e estão aptos podem estudar e o mesmo ocorrerá com o ensino médio', explica, destacando que as salas são mistas. “Temos homens e mulheres estudando numa mesma sala”, diz mais, ressaltando a importância desse  aspecto favorável da ressocialização.
As aulas são ministradas de segunda a sexta-feira e têm a duração de quatro horas. O simples fato de estarem estudando já é um grande beneficio, mas além da oportunidade nos estudos, a cada doze horas de aula, o detento ganha um dia de  redução da pena. Em um ano de frequência escolar, por exemplo, ele ganha 67 dias de remissão.
O diretor fala com satisfação do resultado da iniciativa. “Sabíamos que teríamos bons frutos com essa escola, que funciona em salas que os próprios reeducandos construíram  nos cursos de pedreiro e carpinteiro. E o interesse e  a aceitação deles pela escola foi grande, uma pena é que não temos como colocar todos que estão aptos para estudar”.
 O presídio de Sacramento conta atualmente com 144 detentos entre fechados e semi- abertos, sendo 130 homens e 14 mulheres.

 

Os 'meninos' têm uma grande visão de futuro...

Para o professor de História, Edson Gomes Mattos, a experiência de ministrar aulas no presídio é gratificante. “No início foi tenso, não sabíamos o que nos esperava, mas, para mim, como profissional, foi uma das melhores experiências que tive. Os professores temos a segurança e apoio da estrutura do presídio e os 'meninos', assim que os chamo, são alunos como os outros, muito empenhados, interessados, têm maturidade e uma visão de futuro. Se comparamos com os alunos da escola regular eles têm consciência  histórica, associam fatos. Uma experiência muito boa e uma excelente forma de ressocialização”, afirma, destacando que já está sendo feito um trabalho para a implantação do ensino médio no presídio.
Um dos formandos é o  detento CFPM 23, condenado há oito anos por tráfico e outros delitos. Cumprindo pena  há um ano e nove meses, parou os estudos no 7º ano, que reconhece a falta que a escola fez. “Se estivesse na escola talvez não estivesse aqui. E a escola aqui dentro é muito importante, porque temos a oportunidade de seguir de onde paramos lá de fora. Temos oportunidade de aprender, sair com outros olhos e, o mais importante, ganhar um dia a menos de prisão. A escola aqui nos faz acreditar em algo que parecia ter sumido de dentro de nós. Agora, quero continuar, fazer o ensino médio e meu sonho é ser arquiteto, mas sou também coreógrafo. Estou feliz. Graças a Deus concluí mais uma etapa”, afirma.
Destaque-se que anualmente os detentos fazem o Enem para a certificação ou o ingresso na faculdade através do Prouni. Do presídio de Sacramento, o detento Luiz Carlos ingressou no curso de Administração e foi transferido para cidade onde há faculdade e segue nos estudos desde 2012, devendo estar finalizando o curso. Este ano, uma detenta, por uma diferença de 0,75 na redação, não conseguiu vaga para faculdade.


Através de parceria com a Prefeitura da cidade, detentos do semi-aberto trabalham na cidade

Vários detentos do regime semi aberto são vistos na limpeza de ruas e praças da cidade, graças a um convênio entre Judiciário, Ministério Público, Defensoria  e Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e Prefeitura da cidade, para uma parceria de trabalho, já implantada noutras unidades prisionais.
 “Essa parceria é uma forma de a sociedade ter um retorno do gasto que tem com o detento. Eles trabalham, saem do presídio às 7h da manhã e só retornam às 16h e ganham ¾ do salário mínimo. Esse valor é dividido em partes: uma para eles, outra para ressarcimento do estado e a terceira parte vai para uma conta judicial, chamada pecúlio, que é um fundo para quando ganharem a liberdade”, explica o diretor Leandro Fachineli Toldedo,  acrescentando que durante essa semana, todos os  trabalhadores estiveram fazendo curso de jardinagem e manutenção, ministrado pela Prefeitura.
“- Todas essas oportunidades de aprendizado fazem parte do processo de ressocialização, para quando ganharem a liberdade estejam aptos  a trabalhar, viver uma vida digna. Todos nós do presídio estamos empenhados,  tentando de tudo para entregar um ser humano melhor para as famílias, a sociedade. Sabemos das dificuldades, sabemos que muitos retornam, mas não podemos deixar de acreditar na capacidade de recuperação do ser humano”, frisa Fachineli.